sábado, 29 de dezembro de 2012

Anotações de aula.

Por algum motivo desconhecido da natureza, guardei o pedaço de folha de fichário em que escrevi essas duas notinhas. Na época eu havia mudado de uma escola de bairro pra uma bem maior, no primeiro ano do colegial (não sei como se chama hoje).
Muita gente fala que prestar atenção na aula é o segredo pra não precisar estudar em casa. Acho que no meu caso, se deu o contrário. Ler sozinha em casa o conteúdo de aulas monótonas fez a diferença.
Bem, deve ter feito, não? Já que concluí o ano com boas notas rs

16/8/01
13:32 – Aula de ética e cidadania. Coordenador Alexandre na frente. Sono, muito sono. Vontade de ir pra casa e deitar na minha cama e sentir o ventinho vindo de fora bater fresquinho no rosto. Sentir paz, sem ninguém. Minha mãe na sala passando roupa ou na cozinha fazendo o café.
Na lousa, “Principais conceitos, cap. 1”, o que é política... ética... blábláblá... Ahhhhhhhhh!!!
Minha cabeça está pesando, pesando...
Se ele me pega essa folha...! 

22/8/01
10:37 – Aula de português. Ontem fui à minha antiga escola. Sentei-me na cadeira que era minha. Lembrei-me do Rafael, que de sapo virou príncipe (o vi meses atrás e realmente é outra pessoa – infinitamente melhorada).

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A boa e velha camisa do fracasso.

Voltei do médico. Liguei pro meu irmão e pedi pra ele me levar de carro numa farmácia que vende remédio mais barato, pra facada doer menos. Pouco antes das 10pm ele aparece cansado pra me levar.
Uma chuva do caramba. Meu pai aproveitou e pediu pra eu comprar remédios pra minha avó. Lá fomos nós.
Meu irmão estacionou o carro, eu desci na chuva e corri pra farmácia. 
Cheguei lá.
Coloquei a mão na bolsa.
E
Só tinha:
minha blusa e duas chaves (da mesma porta, by the way).
Corri pro carro, sentei no banco, desacreditada. Procurei debaixo dos bancos, recitando o famoso: "não é possível, não não não é POSSÍVEL".
A certeza absoluta de que eu tinha colocado a carteira na bolsa me fez olhar e olhar a mesma bolsa aberta - sem divisórias! - muitas vezes. E passava a mão dentro na esperança de que meus olhos estivessem enganados. rs 
Em algum momento em que eu procurava as chaves em casa, pra sair, devo ter deixado a carteira.
No carro, desolada, vesti a boa e velha camisa do fracasso e ouvi a mais plausível e irônica explicação possível:
- Calma mana. Se você não fosse esquecida, não precisaria de remédio. É exatamente por isso que você está aqui.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

'Be the better man' - Charles Xavier

Pensei muito esses dias naquela quantidade significativa de palavras que saem de uma vez, num tiro, da boca de uma pessoa. Quantas seriam realmente necessárias pra atingir um ponto?
É desesperadora a sensação de não conseguir se fazer entender, mas existe um momento em que a mera tentativa ou a insistência nisso passa pro universo do ridículo. Eu me vejo às vezes, me observo de alguma esquina. Quantas vezes o silêncio teria sido a melhor resposta? Quantas vezes eu deveria ter virado as costas, simplesmente, e passado adiante? 
Quantas vezes as palavras acabam ganhando calibre, a melhor defesa vira o ataque e a vitória... é vitória mesmo? Hoje percebo, não sem um certo sentimento de embaraço, que a verdadeira vitória é ser “superior” e conseguir abandonar um ring imaginário.
Escuto muitas críticas à racionalidade. Ser passional e confiar no coração é algo que se prega em especial demasia hoje em dia. E me atrevo a dizer que é exatamente por isso que muitas vezes vemos seres humanos agindo e interagindo de formas animalescas e se mostrando orgulhosos disso. 
Ser emoção, ser sensível, ter coração não significa que a pessoa tenha de abandonar algo tão importante, útil e amigo como o cérebro e a capacidade de ter e demonstrar discernimento. Muitas vezes o tratei como coadjuvante e rejeitei a ajuda que o lado racional poderia ter me provido.
Não digo que defender um ponto de vista ou falar do que se acredita deva ser simplesmente inibido. Não somos seres que podem ser facilmente acuados, acho ainda que isso seria praticamente impossível. Mas quando nos sentimos verdadeiros revolucionários anarquistas na conquista pela justiça, me pergunto: acreditamos realmente na “justiça” que pregamos?
Se sim, então por que gastamos uma ENORME quantidade de palavras no empreendimento perfeitamente descrito por Renato:

“...o que eu mais queria
era provar pra todo mundo
que eu não precisava
provar nada pra ninguém.”?