quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

E não é que é???

Cozinhando meu frango com quiabo e lendo e-mails (lógico), me deparo com um link que uma amiga mandou dizendo assim:
"esse texto é a sua cara!!!!!"

Acho que o texto é a cara de muita gente, então... segue rs:


O fim
DE SÃO PAULO

Você aperta bem no meio do tubo, e nada: eis o primeiro sinal do fim, mas quem atenta para os primeiros sinais? Além do que, a bisnaga está quase cheia, só ali pelo meio é que abaulou: basta pressioná-la em cima, perto do bico, ou embaixo, próximo à base, e a pasta sairá, roliça e lustrosa, nas cerdas de sua escova. A ideia de passar numa farmácia pisca em seu córtex como um distante vaga-lume, para logo desaparecer no cipoal de neurônios.
Cinco ou seis dias depois, contudo, você aperta o tubo na parte de cima, outrora bojuda, e nada acontece: abaulou-se, também, mas para que se abalar com isso? Um pequeno remanejamento dá conta do recado: com os polegares e indicadores, vai espremendo da base pro bico. A visão da bisnaga de peito estufado traz algum alívio no curto prazo, mas a informação "preciso comprar pasta de dente" agora está colada, como um Post-it, na tela de sua consciência.
E daí? Há assuntos mais importantes, sempre há: a infiltração no teto do banheiro, o aumento que pretende pedir --a demissão, se tivesse coragem--, uma DR definitiva da qual foge como o diabo da cruz. É lá do fim dessa fila que acena, pequenina, a possível escassez dentifrícia.
A Terra, porém, completa mais algumas voltas em torno de seu eixo: folhas caem das árvores, flores brotam nos jardins, pormenores atingem a maioridade --eis o que você percebe, diante do tubo vazio, hirto como uma fronha secando no varal.
O problema não é mais "preciso comprar pasta" e sim "por que cazzo não comprei antes?!", mas a indagação traz outras questões de fundo que talvez seja melhor ignorar. Importante agora é escovar os dentes: você apoia o tubo na bancada do banheiro e, com a haste de um pente, o aplaina da base ao bico.
Ao cuspir a espuma na pia, jura que de hoje não passa, mas a convicção se esvai na mesma velocidade que o sabor de hortelã: não há vaga em frente à farmácia, a lojinha do posto está fechada, depois já passam das dez, a reunião é às 11, o torvelinho do cotidiano te suga e só te devolve ao incômodo na hora de ir para a cama.
O pente é inútil: a bisnaga parece uma fronha passada a ferro. Um rolo compressor seria inútil: não há ranhura ou desvão que não tenha sido achatado. Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai até Maomé, você resmunga, então mete as cerdas no bico do tubo, meticulosamente. Elas não saem sequer melecadas, apenas opacas, como se tivessem sido mergulhadas no leite.
Você dorme mal. Acorda desgostoso, antes do despertador. Sabe o que te espera. Não se orgulha do que está prestes a fazer, mas o fará, assim mesmo: abre a gaveta, pega a tesourinha de unha, respira fundo e corta o tubo, de cima abaixo. Enquanto chafurda a escova pelo interior da carcaça, pensa no aumento que não pediu, na demissão que não pedirá, no namoro que se esgarça diante de seus olhos; percebe como a infiltração no teto e a bisnaga estripada são metáforas chinfrins do estado das coisas. O que mais dói, contudo, é saber que ainda não chegou ao fundo do poço: adiante, te esperam a escovação sem pasta, reavivando os resíduos de espuma seca nas cerdas e, para coroar o desmantelo, a escovação com sabonete: aí sim, aí sim é o fim.
Antonio Prata
Antonio Prata é escritor. Publicou livros de contos e crônicas, entre eles "Meio Intelectual, Meio de Esquerda" (editora 34). Escreve às quartas na versão impressa de "Cotidiano".
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/1237482-o-fim.shtml

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Realidade, impressão, sonho...

Que a vida minha, seja como os quadros de Monet.
Seja a mesma. Sempre.
Mas o sol...
Que a cada hora me mude as cores, me confunda as formas,
a realidade que vejo, que vêem em mim.
Indefinida por contorno definido
Aliás, 
Não importa o contorno - Que me importa o contorno?!
Que essa verdade me tome e misture, me dispa.
Que o borrão seja parte integrante de mim
Que minhas paisagens o incorporem e que 
O interpretem como garça, pipa, ou folha solta...
Que o vento misture as cores, que as espalhe.
Espalhe...
E os sons, retumbem sobre a tela - 
Quando tremer a figura, 
Que formas assumirá então?
E você... por que não? Que faria com as cores todas?
Que faria?
Você substância... é imagem gravada ou tinta fresca?
A vida, Ah! não... Não a quero fotografia.
A quero quadro impressionista.



terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Tempo, tempo, mano velho...


Sabe uma das coisas que ajuda na postergação?
A simples certeza de que, se é algo que exige raciocínio e atenção, fatalmente cometerei erros grotescos e fatalmente terei de refazer tudo de novo e fatalmente ficarei com a sensação HORRÍVEL de perda de tempo e fatalmente sofrerei mais, me dizendo que se eu não tivesse sido idiota e feito errado, eu não teria de estar refazendo tudo.
Logo, deixo pra fazer esse “tudo” quando nem a postergação pode postergar mais.
Argh!

sábado, 16 de fevereiro de 2013

O adolescente.

Estava lembrando esses dias, não sei bem por que motivos, de uma conversa que tive com alguém sobre crianças e adolescentes. A pessoa me falava o quanto gostava de crianças e eu me perguntei mentalmente porque eu preferia os adolescentes.
A criança é pura, é inocente, é dócil (ou deveria ser). Todo mundo diz isso, todo mundo sabe disse. O adolescente é arredio, é fechado, é resistente, sonega informações, é esquivo. Então, porque “preferir” um adolescente?

Observar uma criança pequena brincando é algo no mínimo interessante. Vê-la descobrindo o mundo a sua volta, tudo chama atenção, tudo quer pegar, tocar, sentir, colocar na boca. Difícil imaginar o que vai na cabecinha dela diante do mundo que é absolutamente todo novidades. (Eu mesma não me lembro detalhadamente de coisas que outros lembram com tanta normalidade. Acho que sempre fui de lembrar das sensações e impressões ao invés dos detalhes concretos, mas enfim.) A criança precisa e absorve um universo de informações o tempo todo, precisa de limites, de segurança, de carinho, de princípios, precisa dos pais.
Embora se veja o adolescente como algo "desgarrado", existe nele as mesmas características da criança, mas o leque de necessidades ou a intensidade delas passa por mudanças. Ser adolescente é lidar com a contradição o tempo todo e isso é, também, um universo de descobertas fantásticas. Ele precisa de limites, mas não mais os de quando era criança. Estes ele precisa quebrar para alcançar novos. Precisa de segurança, mas fundada em si mesmo, pra que possa escolher seu próprio caminho. Precisa de carinho (e como precisa de carinho. Ta pra nascer bicho mais carente que ser humano na adolescência), mas agora não somente o protetor. O carinho da confiança e da admiração. Precisa de princípios pra solidificar o caráter e claro, precisa dos pais, da amizade deles, cuja base é o respeito mútuos.
Tempos atrás me deparei com um poema do Quintana na sala de espera do meu terapeuta. Li pra mim, li pra ele, e chorei. O poema acordou uma saudade indescritível da sensação de se ter o mundo de possibilidades infinitas à frente e a garra da fé para alcançá-los. Isso é pra mim algo nítido e fantástico no adolescente: a paixão otimista pelo novo, e o ímpeto que desconhece o “não" e o "impossível” . É claro que existe dor e frustração (céus! como existe e como eu chorei!), mas existe sempre lá no íntimo a certeza de ser Fênix.
Creio que todo tdah, mais do que outras pessoas, têm e mantêm um adolescente cravado nas entranhas. Parece que os caminhos que se afunilam mais naturalmente na vida de um adulto permanecem tão abertos pra nós quanto nos eram na adolescência. A capacidade de ver além do concreto, de criar novas possibilidades, de intuir o que é invisível aos olhos. A ânsia pelo novo, a paixão com que se persegue certos sonhos e amores, a tragédia no fracasso e a teimosia de continuar tentando.

Não digo que todo adolescente seja (ou permaneça rs) assim. Mas gosto de pensar que pra mim, a adolescência foi como a do poema e que a vida, de certa forma, seguiu esse mesmo trilho...

O adolescente

A vida é tão bela que chega a dar medo.
Não o medo que paralisa e gela,
estátua súbita,
mas


esse medo fascinante e fremente de curiosidade que faz
o jovem felino seguir para a frente farejando o vento
ao sair, a primeira vez, da gruta.

Medo que ofusca: luz!



Cumplicemente,

as folhas contam-te um segredo

velho como o mundo:

Adolescente, olha! A vida é nova...
A vida é nova e anda nua
- vestida apenas com o teu desejo!

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Era eu. Era sim.

Fiquei um tempo de férias. Muita coisa me caiu nas mãos pra ler.

É impressionaaaante como informação que chega atrasada causa sensações completamente díspares. É a alegria de poder dizer: É EXAMTENTE ISSO, que interessante! rs. E ao mesmo tempo: EU NÃO ACREDITO QUE ERA POR CAUSA DESSA PORCARIA! Isso... isso aqui já existia? Quem foi que escreveu isso daqui e por que cargas d´água não me avisou? Por que não antes?

É algo tão elementar saber que não se deve remoer as coisas passadas. Mas aprender mais um pouco de todas as coisas estúpidas e idiotas que já fiz, me torna essa prática quase impossível. Leio uma frase e penso: sou eu mesma, naquele dia eu fiz isso, exatamente como está escrito aqui. É... bem assim mesmo.
(Muito difícil parar. Agora mesmo estou escrevendo porque estou lembrando de várias.)

Não é que eu ache que tudo no mundo teria sido diferente e melhor sem o “eu” ali. Mas pra mim, teria resultado em aprendizagens tão menos dolorosas das que experimento hoje.
E não é exatamente o desejo de mudar, refazer as coisas. É o desejo de poder explicar. Não mudaria nada, e ainda assim mudaria tudo.

É verdade que todo mundo convive com lembranças de situações em que gostariam de ter agido diferente, mas não puderam por qualquer motivo.
Mas eu ainda fico besta com a oportunidade que me veio há alguns meses atrás de receber, ler e entender matérias que descrevem muitas situações que vivi, bem organizadas com tópicos muito úteis, como:  Explicações, Sugestões e Notas de rodapé.[1]






















[1] Desculpe o atraso.
8/2/2013. 18:16 hrs. Trilha Sonora: Comptine d'un autre été.