segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

TDAH num mundo de sonhos.

Não quero devanear.
Não quero sonhar.
Sonhos são impulsionadores.
Não. Sonhos são paralisadores.
Sonhos são grades, apartadores de realidade.
Não quero devanear.
Não quero sonhar.
Não quero parar, nem congelar, nem estagnar.
Eu quero viver! Meu Deus eu quero viver.
Quero que a engrenagem gire.
Quero começar e quero terminar.
Quero sentir vontade e colocar em ação.
Quero esquecer o que "por hora não dá" e quero lembrar quando der.
Quero fazer o que der. Quero agir o que der. Quero executar o que der.
Não quero planejar, concretizar e curtir em sonho.
Tudo começa com um sonho.
Não. Tudo se perde com um sonho.
Sonhar, pra mim, é perigoso.
É nele que tudo começa a morrer, sonhos e mais sonhos todos se engolem.
Sonhar é bom,  não digo que não.
Mas não quero mais sonhar.
Eu quero viver. Meu Deus eu quero viver.
O problema é que sonhos são grades, e estou do lado de dentro.
Como sair? Como fugir?
Sonhos são como laços, como cordas, como cheiro entorpecente, como isca viva.
Mal percebi e tchan! Pega de novo.
Estou no meio de uma ação, e olho pro lado.
E tudo se vai, tudo se perde, não sei mais o que estava fazendo, nem por que, nem como.
Não quero mais sonhar.
Não quero mais devanear.
Eu quero viver. Meu Deus eu quero viver.
Quero descer. Quero descer das alturas.
Quero caminhar na terra firme.
Se os sonhos forem minha pedra no meio do caminho, então quero tropeçar e seguir.
Nem que seja rolando.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Organizando-se para se organizar.

Faz uns dois anos mais ou menos que o GTD, ou “Getting Things Done” chegou às minhas mãos, ou à minha caixa de entrada de e-mails. Meu namorado (hoje ex) me ligou empolgadíssimo com a nova descoberta feita em uma palestra em sua empresa. Era algo pros neurônios anelarem, já que sempre foi amante inveterado da tecnologia como ferramenta para aprimorar a organização, eficiência e dar conta de seu refinado perfeccionismo.
E olha como as coisas vem a calhar: uma namorada recém-descoberta desorganizada crônica, perdida completa, no tempo, no espaço, na vida. Acho que quando ele ouviu falar em algo pra ajudar a organizar a vida com o mínimo de esforço, deve ter se sentido como um cavaleiro num mangalarga, trazendo o antídoto pras desgraças da amada (seria o fim de muitos problemas e teria a enoooorme gratidão da beneficiada – no caso, eu). Lendo suas palavras, achei que valia à pena conferir: “Eu por ser organizado, fico estressado com esse assunto, com organizar e etc...  Mas esse método faz exatamente com q as coisas fiquem sob controle, porém sem estresse! "
Quando abri o e-mail e vi a explicação ENORME do processo: setas e linhas e traços e quadrados pontilhados e não pontilhados... minha cara foi essa aí do lado:


M e u D e u s...
Por que essas explicações sobre minimalismos e simplificação de vida ajudam taaantas pessoas a ter uma vida livre leve e solta... e pra mim.. que tanto precisaria minimamente de um guia mínimo de organização... não consigo nem sequer ler, LER a explicação?! Começo a me embananar toda com os nomes e categorias de cada tipo de tarefa que nem lembro mais quais eram as ditas. E aquilo vai me dando uma raiva porque penso que, se aquilo era pra ajudar a organizar, por que raios me ajuda a desorganizar a linha de raciocínio? Devo mesmo ser muito tapada, pois quanto mais tentava me concentrar na explicação do método, mais desespero me dava, e mais irritada eu ficava, e mais desapontado e indignado meu ex se mostrava (coitadinho).
Ok... eu sei que este pequeno fluxograma (eu ODEIO essa palavra) é algo que, com um pouquinho de paciência pode ser muito prático e útil. Mas a começar pela primeira pergunta à informação que chega: 
“Requer uma ação?” (Bem... talvez sim, talvez não... ehrrr). Se sim, “Exige mais que uma ação” (Ehrr, deixa ver...). Se não, “Vale à pena guardar?” (Se vale? Acho que não... mas talvez sim, será que jogo fora? Ou será que espero pra ver?). Se exige mais de uma ação, aquilo vai pra "Projetos" e então tenho de "planejar ações necessárias", como uma "lista de ações a tomar"... “Leva mais de 2 minutos pra executar?" (Sei lá!). Se não, "sou a pessoa certa pra isso" ou devo "delegar"? (Mas pra quem?!?!?!)...
Ok... só até aqui eu já teria gasto umas três horas (entre pausas e postergações sofridas) só pra decidir sobre 1, uma, I tarefa! E obviamente eu teria vontade de refazer minhas decisões dentro de algumas horas ou dias, ou aquilo tudo ia perder completamente o sentido e acabaria num latão de lixo.

Queria conseguir usar algo feito pra determinado fim, para determinado fim (e com sucesso). Mas... acabei imprimindo o fluxograma e usando o verso como rascunho. ¬¬


quarta-feira, 6 de novembro de 2013

TDAH é chamariz de calote.

Temos cara de quem procura ser feito de trouxa?
Às vezes acho que sim. Essa... ojeriza de burocracia, de resolver pequenos e simples problemas quando surgem, essa postergação e asco de ao menos parar um minuto pra analisar o que fazer com algo que nos incomoda, que nos dá prejuízo, que nos rouba... nos torna mui desejáveis aos calotes. Rs
Quando vamos provar que nos devem... espere... cadê a nota fiscal? Cadê os papéis com os registros de pagamentos pendentes? Cadê a certeza acreditável de que já foi pago? (Mas foi? Não! Pera aí! Não foi não! Tenho certeza que não foi pago!)
-“Ah! Mas você sempre esquece tudo! É mais provável que você tenha esquecido que recebeu do que eu ter esquecido que não paguei...”
E agora? Diante da clássica verdade (dos esquecimentos e não dos pagamentos)... é enfiar o rabo entre as pernas e amargar mais uma vez o fato de não ter registro de nada, não ter se preocupado com nada e agora... só o buraco pra cobrir como de costume. Bem feito!
E quando deixamos de deixar muito claro e especificado os “termos de um contrato”? Achamos que nada vai dar errado, que não tem porque ratificar ainda mais a maldita burocracia que tanto nos irrita, que a pessoa com quem lidamos tem “senso”. Pois é... ela não tem. Esquecemos de explicar, esquecemos de perguntar, esquecemos de nos certificar e BAM! Cadê a pessoa? Ou cadê o pagamento? Ou cadê ao menos uma explicação? Uma satisfação? Um alô? Hahahahhahaha Tomaaaaaaaa!!!!
Investidores deveriam procurar mercados de TDAHs... iriam ganhar rioooos de dinheiro! Imaginem! Uma colmeia de trouxas dando até a roupa do corpo pra compensar a perda de papéis, contratos, notas, registros, por postergar e evitar pequenos aborrecimentos, confrontos, cobranças...

Recebemos um abacaxi e ainda pagamos o pato.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Enxurrada de imagens.

Clareza.
Desenvolvi já faz algum tempo um conceito e carinho especiais por essa palavra. Clareza... Clareza...
Solidez também. Solidez de pensamento, solidez de espírito... Solidez.
Ter clareza e solidez é mais do que organizar pensamentos. Mais do que conter ansiedades.
Ter clareza e solidez é tentar impedir que o milho estoure com o calor do fogo. Cada milho que estoura é uma imagem que pipoca na mente. São milhares, pipocando o tempo todo. Imagens. Imagens. Imagens com significados, sensações, sentimentos.
Como estar em paz? Paz é tão bom, tão bom sentir paz. Como estar em paz com o momento presente, com a lembrança passada, com o plano futuro se as imagens... Ah! as imagens... elas não sabem presente, passado, futuro. Não sabem ordem nem progresso. Nem hora nem lugar, nem bom nem mau. Elas só sabem existir.

Como fechar os olhos e escolher uma imagem apenas? Uma voz apenas? Uma pergunta? Uma resposta...? Como?

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Todo deprimido precisa de um incentivo de manhã.

Acordar tarde e deprimido é assim. Sonha sonha sonha que de manhã não chegou. Abre o olho e vê que o mundo cobra seu estar bem, disposto, de pé, feliz, ativo, executivo, pró-ativo. Fecha olho, levanta, pega remédio, pensa em tomar tudo, pega o um e meio comprimido e bebe enquanto faz um copo de requeijão de café e bebe. Embarga um pouco, lamenta solidão, o efeito do café começa a aparecer. (Sim, do café!)
Livra-se do pijama. Brincos e creme no rosto, rímel e batom. A música migra de alguma sad-melancolic-romantic pra uma Britney-em-sua-fase-vaca.

Bom dia, dia. Now you can take a piece of me...


quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Luta pela autodisciplina

Aplicando a autodisciplina:
Vou corrigir a prova. 8:00 hrs
Abro a gaveta pra pegar caneta. Vejo uma revista de catálogo.





NÃO!
Vou - corrigir - a - prova.
Olho a prova. Olho pro lado. Pego o celular. Queria conversar com alguém. Vou mandar uma msg pra uma amiga!




NÃO!
Vou - corrigir - a - prova.
Olho a prova. Número 1. Eu tinha que mandar uns comics pra esse aluno. É legal treinar com tirinhas do Calvin... Vou procurar alguma legal no Go comics... 





NÃO!
Vou - corrigir - a - prova.
Número 1. Hum, Blá.. ok... ok... Certo! Número 1 certo. To com sede. Ta frio... chá ou chocolate? Talvez um pãozinho também...




NÃO!
Vou - corrigir - a - prova. Número 2. Hum... ok... ok... ok... Será que alguém me mandou algum e-mail? Pode ser importante. Melhor checar!






NÃO!
Vou - corrigir - a - prova. Número 2 continuando... bla da ok ok ok Certo! Que bom. Número 3, letra A. “Plim”. Mensagem! Alguém me mandou uma mensagem! Checando... É minha amiga! Vou responder rapidinho.




NÃO!
Vou - corrigir - a - prova. Letra A!!! Certo, certo, certo, errado, errado... Hein?! Que é isso? Que é que tá escrito aqui??? Arghh! Vou ao banheiro. Aliás... eu precisava lavar o banheiro. Acho que acabou a cândida. Aproveitava e comprava papel também...




NÃO!
Vou - corrigir - a - prova. Número 3 letra B. Certo, certo, não sei o que é esse rabisco, certo, errado, rabisco, errado, rabisco, meio certo! Que dooor nas costas. Preciso me exercitar mais. Queria fazer dança. Ajuda o corpo, ajuda a alma, ajuda na deprê... falando em deprê, preciso marcar minha consulta, meus remédios estão acabando e eu realmente preciso falar pra ele que tenho me sentido muito pra baixo ultimamente. Um enorme cansaço mental e físico. Tenho perdido algumas noites de sono também, e minha “fobia” de pessoas parece atacar novamente. Praticamente tudo que se faz na vida envolve contato com pessoas, o que é absolutamente saudável! Como levar a vida com medo de gente?! Vou dizer a ele que isso está me incomodando sobremaneira. Meu Deus... esse mês não dá pra ir lá não. Muito caro, não estou bem das pernas financeiramente. O que fatalmente me lembra que vou chegar lá e dizer que ainda não comecei terapia pelo mesmo motivo. Mas minhas receitas estão acabando... é melhor eu gastar com ele do que com um inicio de tratamento psicológico. Ai que droga. Acho que não vou a lugar algum. Que saco. Vou levar a vida com minha própria força de vontade!
Ah... mas a quem quero enganar, fala sério? Rs A quem? Nem sei pra onde ir ou por onde começar. Aliás... você sabe sim Ana. Olha aí a prova de que você não vai muito longe sozinha... querendo se boicotar hein?!
Você deveria começar por
CORRIGIR - A - PROVA!!!





N ú m e r o q u a t r o...






.
.
.

14:00 hrs (Após 6 horas de autodisciplina).
- Ana, parece que um caminhão passou por cima de você! Tá com cara de quem passou a manhã inteira em cima de uma montanha de provas! Tá quase vesga amiga!
- Sim, foi isso mesmo... E você acredita que a bendita tinha QUATRO folhas?!?!
Frente E verso!


Autodisciplina é tudo...
                                              
                                 

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Na órbita da Ritalina.

Estava eu na farmácia atrás do meu Neural (sim, eu tomo estabilizador de humor), esperando pacientemente o farmacêutico muito educado e prestativo ligar pra todas as redes da farmácia pra saber em qual unidade eu encontraria o remédio.
Ao meu lado, um rapaz em seus 40 anos mais ou menos, esperava outro atendente voltar com sua caixinha de medicamento. A resposta foi:
- Sinto muito senhor, mas está em falta.
Ele olhou meio estático, pegou a receita novamente e saiu da fila. Parou, voltou e perguntou ao atendente estendendo a receita novamente:
- É... que remédio é esse mesmo? (Pois é... provavelmente ele não lembrava mais do nome do remédio que o médico falou e também não conseguia entender a letra cuneiforme do mesmo).
Resposta:
Tcharã rã rããã....

- Ritalina.
(Rsrsrs)

A única coisa que pude dizer (não me contive) foi:
- É... tá difícil de achar mesmo.

Já em órbita ele me olhou, sorriu, e saiu devagar a girar por outras farmácias.

sábado, 7 de setembro de 2013

Os dois pecados capitais

Há alguns meses (ou anos?) a revista Galileu publicou como assunto de capa uma matéria sobre foco e a desumanidade de tentar fazer tudo ao mesmo tempo com perfeição – o que transforma “não tdahs” em tdahs: sensação de muito cansaço e pouco rendimento, além de muitos erros no pouco que foi feito.
Reabri a revista esses dias e recortei uma coluna com “Rituais de Foco”. A segunda dica era pra fazer uma (a famosa!) lista de tarefas com apenas 3 mais importantes e não parar até que a primeira estivesse 100% concluída. Fui aplicar isso hoje, sendo a primeira a arrumação do meu quarto. Não foi 100% concluído, mas dessa vez quase consegui. O ponto é que, arrumando o quarto, minha cabeça foi conversando comigo. Olhando pela janela do quarto, o jardim ensolarado, céu azulzinho e a sensação de que a vida é tão grande, tão cheia de sensações, liberdades... tão diferente da sensação de colocar calças no cabide...
Pensando nisso cometi o primeiro pecado capital: paralisei e viajei! Retomei apenas pra cometer o segundo pecado capital: parei, sentei e comecei outra tarefa nada a ver com a primeira: a de escrever sobre essas viagens.

Conversei com uma senhora semana passada e ela me disse que mesmo quando está no meio de pessoas, sorrindo e interagindo com elas, dentro de si, não consegue se sentir parte daquilo, parte do ambiente. Assenti. Sempre achei a vida de antropólogo das mais interessantes. Mergulhar num contexto qualquer, diferente de seu próprio, aprender, absorver, misturar, vivenciar, fazer parte real daquilo e ainda assim, não ser aquilo. E é tanta coisa pra vivenciar, é tanta experiência pra absorver, é tanto universo pra compreender na pele, no gosto, no cheiro, que a arrumação do quarto me parece desprovida de propósito, ao menos agora, neste momento.

Trechos de duas músicas descrevem melhor do que eu jamais poderia, o que quero dizer: 


“Que lugar me pertence
Que eu possa abandonar
Que lugar me contém
Que possa me parar...
                    (Kid Abelha)
 “Olha, não sou daqui
me diga onde estou
não há tempo não há nada
que me faça ser quem sou”
                  (Pato Fu)

Pronto. Agora que já coloquei pra fora meia dúzia de pensamentos inquietantes rs, vou deixar essa coisa ridícula de estradinhas e aventuras pra me dedicar à minha absolvição: o concreto e responsável mundo das calças e dos cabides.
Fui!

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Pra que dinheiro?

"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
                                                                               (Tabacaria. Fernando Pessoa)                                                 

           
Não tenho nada.
Nunca terei nada.
Não posso querer ter nada.
À parte isso, tenho em mim todas as dívidas do mundo.
Momento revolta, com licença.
Dinheiro compra tudo.
Compra água, luz e telefone, comida, roupas, sapatos, médicos bons, remédios bons, terapeutas bons, saúde boa, felicidade até.
O tempo passa, o tempo voa, e a cabeça da Ana continua numa... Ahhhhhhh! X(


Incorporando a voz de dona Hermínea:
- GRALHAS malditas berrando dentro da minha cabeça, todas ao mesmo tempo me azucrinando a alma: calem seus bicooos! Não! NÃO tem médico, não. Hein?! Não! Remédio também não. NÃO! Nãooo tem terapia! Mamãe NÃO tem dinheiro, chega de birraa! CHEGA!


Ah... que se matem! Eu vou encostar no barranco logo ali e dar uma morridinha.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Cada escolha, uma desistência.

Sentei aqui e não sei por que cargas d’água resolvi escrever sobre desistência. É, é ela mesma sim.
Nós temos interesses variados e escolhas inexplicáveis do que desejamos aprender, exercer como profissão ou hobby certo? Certo. E não concluímos nenhuma dessas coisas, certo? Certo. E ficamos assim, sendo um pouquinho de cada coisa oou um pouquinho de nada, certo? Não sei.
Digo isso pela minha mais recente façanha. Sim, sim salabim... fui me matricular num curso de modelagem e costura. Não parecia algo pra mim, mas... saber costurar é útil. Imagina poder fazer as próprias roupas e de quebra poder ganhar uns trocados a mais? Fui. Parcelei. Fiz, faltei, me desesperei, não fui mais.
Passeando com minha mãe pelo centro de São Paulo, passamos em frente ao Mosteiro de São Bento, onde me lembrei que yes, Sir! Comecei a cursar latim. Hahahhahh
A cara de surpresa da minha mãe revelou meus contrastantes interesses.
- Você fez latim? Eu nem sabia que você tinha começado latim!
- Sim. Vim, me matriculei, paguei e... desisti.
Explicação: eu cursava História na Universidade e comecei com um interesse especial por História Medieval e latim me seria absolutamente útil. É claro que o tempo passou e finquei meu pé em História Moderna (que até hoje me fascina muitíssimo). Resultado: desisti do latim. Ah! e desisti da faculdade mais tarde também.
Minha mãe se empolgou com a brincadeira de lembrar cursos que tentei fazer e veio com um que eu nem lembrava mais! Era relacionado com literatura e produção de texto. Esse eu nem sequer cheguei a ir, porque a inscrição dele foi beeeem longe do início do curso e obviamente meu interesse mudou de foco nesse meio tempo.
- Ah! Ana... e também tem aquele de Inglês que você mais faltou do que foi, descobriu que era prova final no dia da prova final e não concluiu os outros dois módulos.
- Mas esse eu avisei que ia fazer um módulo só, né mãe!

Existe, claro, outras coisas por aí e nem sempre a não conclusão de algo tem que ver somente com a simples troca de interesses. Muita coisa e muita confusão rola junto.
Por um instante penso se devo publicar isso no blog. Sei que já falei de desistências antes, mas escrevendo e relendo, me dá bastante vergonha. E isso porque não falei do profissional hein! Rs Parece até piada.
Enfim... estou publicando esse texto aqui porque sei que esse assunto dá vergonha. Sei que dá frustração. Sei que dá tristeza. Sei que dá raiva. Sei que tentamos fazer diferente. E sei que esta é uma das mais marcantes características do tdah. 

E finalmente... pra aquela pergunta do começo que ficou com “não sei” de resposta, vou arriscar meu lado otimista: um pouquinho de cada coisa...

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Deixar pra depois... Mas depois quando???

Ontem adiei lavar o WC. Por quê? Porque aqui em casa a vassoura de piaçava que tinha dobrou o cabo da boa esperança. Literalmente. Aí, tenho que comprar, mas passa um dia, estou sem grana (começo a pensar que a vassoura vai custar os olhos da cara e hoje vi que eram 6 reais), e a postergação surgiu.
Hoje fui comprar a bendita e lavei o WC. Na empolgação, por que não dar um jeito em outras partes da casa que também precisavam de uma atençãozinha?
A feira surge:
As portas, dobradiças, em cima e em baixo. Não. Que adianta limpar as portas se os cômodos são mais importantes. Cômodos, qual cômodo primeiro? O quarto. Que parte primeiro? As prateleiras? O armário? (Onde colocar as roupas que estão pegando umidade do lado esquerdo do guarda-roupa? Não, não. A cozinha. Era bom lavar e limpar todos os azulejos, mas não vai dar tempo de fazer isso hoje. E esse chão trincado? Precisava de conserto, meu Deus. E as paredes do quarto precisam de pintura e o guarda-roupas está caindo de velho, abarrotado de coisas da década de 70 do século 19. A caixa do papel higiênico também precisa de conserto. O vidro da janela do banheiro precisa ser trocado, o piso tem falhas em todos os cômodos, o microondas está na mesa desde que foi comprado, esperando por alguém colocá-lo num suporte de parede. Falando em ondas, fui eu secar o cabelo outro dia e qual não é a surpresa de que as tomadas também estão apresentando problemas. As coitadas realmente precisavam ser trocadas, a fiação enfim. A impressão que tenho é que a casa em que nasci ficou abandonada no correr dos anos, vítima de uma postergação infinita e daqueles remendos que se dá com a desculpa de que é só pra “quebrar um galho” até o conserto definitivo. Meu pai, por exemplo, resolve praticamente qualquer problema com cola quente. Tudo o que cai ou racha ou quebra, é cola quente! O “depois eu vejo” torna-se nunca.
Por que será que o desinteresse chega a esse ponto? A cabeça pousa (só pousa) nas coisas que temos de fazer, mas que parecem sempre secundárias diante de novas coisas, novos projetos, novas idéias, novas, novos, novas, aff!
E a casa e a vida vão ficando assim: pra depois. As coisas se acumulam e quando vejo... quantas coisas pra consertar, quantas coisas pra arrumar. A eterna pergunta: por onde começar? Como disse um camarada no vídeo sobre o 1º Fórum de portadores de TDAH, existe um “ninho de gralhas na cabeça”. Achei a expressão mui exata! 
Mas e aí? Cozinha? Quarto? Sala? Profissional? Social? Emocional?  
Quais buracos tapar primeiro?
(Lembrando que os da vida não aceitam cola quente.)

domingo, 7 de julho de 2013

Insegurança, TDAH, AK 47.

Essa noite foi noite de insônia. Esse fim de semana fiquei na cama, rolando de manhã, achando que devia ser 11 horas e eram 9 apenas, o que é bom.
A noite sem sono serve pra pensar. É aí que vem aquelas eurekas óbvias que a cabeça vai se deixando expurgar de tanto a gente cutucar.
Primeiro, de tanto cutucar, tenho conseguido sair (um pouco) da minha super casca de convicções passionais. Eu tenho conseguido olhar de dentro pra fora...do outro. Sabe quando a gente cantarola a letra de uma música e pensa em pra quem estaríamos esgoelando os versos? Pois é. Me peguei esses dias pensando na outra pessoa cantando a mesma letra pra mim. E quer saber? Muita coisa seria cabível. E foi tão bom perceber isso. Diante de tantas inseguranças, sempre se arma um plano de conspiração dos outros contra nós, na nossa própria cabeça é claro. Mas daí... quantas vezes soltamos o tiro pra quem nos ia dar uma flor? Ou quantas vezes nos vemos ameaçados por alguém com uma faca na mão e quando olhamos pras nossas próprias, oras vejam, portamos uma AK 47 carregada. Insegurança cega. E lembrei da ilustração no livro Mentes Inquietas:
'... um caçador que, ao detectar um pequeno ruído na floresta, põe em disparo uma ... rajada de tiros e descobre que a sua grande presa não passava de um inofensivo tatu que apenas abrira um pequeno buraco no solo com o intuito de se abrigar.
Quanta energia em vão! Exagerado! - diria a maioria das pessoas. Mas, na verdade, tudo não passou de um
ato impulsivo, ou seja, disparou, depois pensou. E, com certeza, lamentou! Tanta apreensão, tanta adrenalina, tanta taquicardia, tudo agora está no chão ao redor da pequena residência do tatu - que graças
a Deus e à sua agilidade, encontra-se vivo, feliz e aquecido em sua morada.
Essa pequena história-piada pode gerar risos. No entanto, se pensarmos na vida real, em que tatus são
pessoas e caçadores são DDAs impulsivos, pode-se imaginar quanto sofrimento, culpa, angústia e cansaço,
um impulso sem filtro pode ocasionar nos relacionamentos cotidianos de uma dessas pessoas. E é justamente isso que acontece com crianças e adultos DDAs."
A partir daí, eu poderia começar a remoer culpa e remorso, mas... eu tenho conseguido algo importante, caramba! Tenho que ficar pelo menos um tanto feliz com isso!
Percebi também que quando se fala que temos de ser felizes primeiro sozinhos, pra depois fazer outra pessoa feliz, é verdade. Parece óbvio, tudo bem, mas sempre achei isso meio ridículo, papo de solitário enrustido. Como pensar em ser feliz sozinho, que despautério ensandecido! O ponto é que relacionamentos humanos possuem muitas entrelinhas e, assim, a dependência de pessoas pode ser uma bruta emboscada: depender de alguém pra dar respostas quando você nem sabe quais são as perguntas é receita certa pro desastre. E inconsciente de novo a insegurança passa a exigir do outro certas tantas coisas que só a própria pessoa, sozinha, pode se dar. Não fazer isso pode sobrecarregar injustamente o outro, ou permitir que esse outro faça conosco o que bem entender (porque nós lhe demos esse direito).

Queria abrir um parêntese pra insegurança, porque ela é uma das grandes responsáveis por esses rombos na vida, incluindo aqueles que causamos aos 'tatus'. No site Universo TDAH (http://www.universotdah.com.br/), sob o tópico “Conseqüências” e "Relacionamentos de casais" existem pontos interessantes como:

Se não é devidamente diagnosticado e tratado, fica muito difícil conviver com ele (NÓS), minando cada vez mais sua auto-estima, sua confiança no futuro e no mundo.
 Costuma sentir-se um ET, diferente dos outros, com baixa auto-estima, sensação de incapacidade, insegurança...
“Seu humor geralmente é imprevisível, muito instável, com altos e baixos repentinos, sem qualquer razão séria aparente.
 A desorganização também passa a ser interna, na medida que a pessoa não sabe a qual dos "tenho que" atender em primeiro lugar e a cabeça fica "remoendo" num eterno conflito, ansiedade e preocupação crônicas. Está sempre em estado de alerta, muitas vezes não se sente confiável, preocupado com coisas que estão por fazer ou que não deram certo e com isso, tira a atenção do que está fazendo no momento.
“Costuma haver uma tendência ao isolamento da pessoa com TDAH (DDA), onde ela possa ter um tempo só seu, no seu canto sem falar com ninguém, no devaneio de sua mente acelerada. Qualquer pessoa que tente "invadir" esse espaço, não é bem vinda e a pessoa com TDAH (DDA) pode reagir de forma agressiva. O parceiro sente-se rejeitado, achando que o problema é só com ele. Sem o conhecimento das característas do transtorno, este afasta-se e a relação fica comprometida.

É. Insegurança é algo a se trabalhar muito! Em base pessoal. Intransferível. Inalienável. 










quarta-feira, 3 de julho de 2013

Cada coisa em seu devido lugar.

Numa mesa de 70 por 130 cm temos:
Três livros, uma calculadora, impressora, abajur, porta canetas, aparador de livros, porta revistas, um caderninho de anotações, uma saboneteira, guarda-chuva, um porta utilidades, um recorte de saia cheio de alfinetes, uma máquina de costura, uma extensão de tomada meio quebrada, um aparelho desses pra combater pernilongos, um bloquinho de notas, duas pastas pra guardar papéis, papéis, muitos papéis fora das pastas e de qualquer outro “device” produzido para fins organizacionais. Isso porque acabei de remover a bola de pilates, pra poder achar umas peças de roupa.
Aff essa mesa ta me desafiando e esse mundo é muito louco mesmo. Onde já se viu ter que se armar para atacar uma baguncinha? Já pensei em atacar o que me pareceu, à primeira vista, o coração do problema: a mesa. Taco a mesa no lixo, oras. Mas, claro, tudo que se encontra sobre ela estaria então no chão e a visão do inferno seria pior do que esta, que agora diviso. Taco as coisas todas no lixo então. Mas... coisas são multiplicáveis, uma espécie que se auto-reproduz eficazmente, continuamente, inexplicavelmente e inumeravelmente. Neste caso, me taco no lixo? Porque obviamente o coração de todo o problema parece ser... eu.
Admito... admitoooo. Já me taquei no lixo, me tirei do lixo, me taquei no lixo, me tirei do lixo e assim foi, e assim é. Resistirei bravamente à tentação de dar cabo de tudo numa enorme fogueira, quase um ritual de desapego, um grito à liberdade, um não ao materialismo. Resistirei à tentação de lutar por essa causa libertária, de angariar seguidores, de propagar esse movimento.
Como gente de bem, vou me conscientizar dos anos que me pesam às costas e começar a guardar, como minha mãe já diria: cada coisa em seu devido lugar.
Agora... me incluindo nessa... meu lugar, qual é?
Às vezes sinto tanta inveja dos bonecos de Lego dentro daquela caixa azul...

sábado, 29 de junho de 2013

Sem título.

A dor quebra inibições. 
É como se fosse a certeza de um fim... 
o que importam as convenções?

terça-feira, 25 de junho de 2013

Ver ou não ver... eis a questão!

O mundo é tão cheio de cores né? Tão vivo, excitante. Cada dia uma nova oportunidade: de crescer, de aprender, de sorrir e amar.
E as manhãs são sempre assim. Aquele soninho. Banheiro, lavar o rosto com sabonete cheiroso, escovar os dentes brancos e alinhados, vestir a roupa favorita (ok, às vezes tem que ser aquela que ta lá mesmo) e sair pro trabalho.
Trabalhar é muito bom. O trabalho enobrece o homem, como já diria Weber (foi ele mesmo? Bah! Enfim.). Passar por rostos dispostos dos amigos, dando “bom dia!”. Alguns problemas sempre acontecem no trabalho, rola aquela pressãozinha.  Mas isso é normal certo? Um pouco mais de empenho e o famoso “no final dá tudo certo” é a conseqüência.
Amigos... ainnnnn amigos adoradíssimos! Amigos legais, amigos animados, amigos engraçados, amigos estilosos, amigos que elogiam, que nos põem super pra cima, que são companheiros a qualquer hora, que dão o abraço do “vamos celebrar a vida!”. Sair pela noite, pra lugares super legais... nunca dá vontade de voltar pra casa. É bom pensar no sempre mais... tanta energia pra gastar, tanta vida!
Falando em energia, parte dela quando dedicada a estudos e hobbies... muito produtivo, hein!. Sempre bom renovar. Sabe... começar coisas novas e ao final, quando chegar a conclusão, poder dizer: mais um pro meu currículo, com certificado e tudo! Cursos artísticos também ajudam na área intelectual, a ter assuntos variados pra conversar, impressionar um pouco quem sabe, e por que não? 
Porém, nadica dessas coisas faz muito sentido sem amor não é? Aquele amor aconchegante, companheiro, seguro. Aquele amor carinhoso, que consola nos maus momentos, que ri nos bons momentos, que acompanha o ser amado pra onde quer que for, como um fiel escudeiro. Aquele que o admira, e o faz sentir único. Que diz as coisas que se quer ouvir com um tom doce, manso, sereno como um riacho sem curvas.

O ponto é que são muitas coisas pra dar conta, entende? Amigos, família, relacionamentos, baladas, cervejadas, responsabilidades no trabalho e estudos e dinheiro, argh! As coisas parecem pequenas, mas se acumulam, dá aquela atrapalhadinha. BENDITA hora que Steve Jobs colocou no mundo o Ipad, pod, fone. Tudo de bom isso! Organiza que é uma beleza!

Mas... tem um mundo... sabe? Parece um universo paralelo. De pessoas meio estranhas, meio loucas, meio bagunçadas, com coisas inacabadas, mal humoradas, ou risonhas demais, imprevisíveis, que choram por nada, que chocam, que são desengonçadas, que são agressivas, que deprimem diante de problema algum, que se perdem toda hora, ai que cansaço dá só de imaginar isso... Esse mundo deve ser deixado pra trás. Habitá-lo, com essas pessoas é atraso de vida e na verdade, o mundo real não é aquele mesmo! E se for? Oras então pior cego é aquele que quer ver! Melhor andar de óculos escuros mesmo (Ray Ban é claro).

Você, que deu uma olhadela nesse mundo louco, e saiu depressa, sem olhar para aquela mão estendida com medo de se contaminar... Digo: fez bem.

Espero que nunca precise de ajuda como aquelas pessoas precisam. Porque nesse dia descobrirá que pôneis e oompa loompas a serviço de Willy Wonka não existem de verdade...
(E isso seria muito triste, não é mesmo?)

Pergunta e resposta.

O que se passa com seus dedos?
O que se passa com seus medos?

Aqui tão longe, tento não pensar!
Só tento...

Queria ser como o vento!
Tocar em seu rosto de repente, suavemente,
E saber se está chorando ou se está sorrindo,
Se está cantando ou se está dormindo,
Se me quer perto ou livrar-se de mim.

 x-x

Meus dedos ora se arranham ora se curam
Os medos, como ondas do mar - perduram.

Aqui longe, pra onde ir?
Tento não pensar...

Às vezes queria ser porto e não veleiro.
E ver sempre horizonte, ter sempre esperança...
Estável e ainda assim livre, puro, verdadeiro...
Como veleiro, parece sempre um partir, sem fim.
Mas não é de ti que fujo. É de mim.






sábado, 8 de junho de 2013

A luta pela sobrevivência.

Hoje passei o dia entre o “vamo lá” e “ah! chega, chega, chega, não agüento mais”. Minha cabeça entrou em atividade mais frenética que de costume e não sei, somando a depressão vem a completa paralisia. Meu corpo vira uma bomba implosiva. Os problemas se acumulam todos, as pressões e claro, a incapacidade de pensar claramente nas soluções me deixam o bagaço da laranja. A dor aparece e escapa por entre os olhos molhados.

Escutei minha mãe falando de um filme que estava vendo sobre uma mulher com depressão. Fixei a idéia e tentei por todos os meios ver o filme na net Claro, tive de ouvir Ashley Judd falando com a mesma voz de todas as mulheres que aparecem nos filmes da sessão da tarde. Enfim.

Filme cru como nunca vi. Me encontrei em tantas cenas que me senti como quando descobri o tdah lendo os blogs que hoje sigo. Tragicômico. Os sentimentos eram reais e alguém os filmou! Não era só coisa da minha cabeça. Se alguém se atreve a dizer que depressão é falta do que fazer, deveria engolir a seco o DVD. Pensei nisso e no tdah também, porque só quem passa por um transtorno desses entende. Prejuízos. Prejuízos reais. Dores reais. Solidões, confusões, desilusões reais. Lutas, e força e perseverança e garra e fé reais.
A luta pela vida é algo que admiro imensamente. E de fato, lendo relatos de tantos como eu, que deixam seus importantíssimos comentários aqui, lendo blogs de companheiros e amigos, eu vejo: todos nós estamos lutando de um jeito ou de outro pra sobreviver.
E as diferentes fases em que nos encontramos mostram que nunca desistimos, quer estejamos melhores, quer em processo de melhora.
Um exemplo do que estou dizendo se encontra num fantástico comentário que me fez pensar muito, da Victoria, no post Saudade. Eis:

Hoje com 31 anos e diagnosticada ha alguns meses, vejo tudo o que fiz que poderia ter feito diferente e, não teria perdido amores e amigos. 
A Ritalina me mostrou o que sou e posso ser, do que fui - que não era eu, definitivamente.
É triste, desesperador, depressivo, ansioso, vergonhoso. E não me refiro a casos graves, não. É o falar demais, impulsivamente, criticar os outros ao extremo e.. para outros. Falar demais. Sentir raiva, inveja, ira. Como eu era dificil, como minha vida foi complicada e ninguém tinha ideia de que existia um tal de TDAH.”

Pois é. Pra mim, processar informações quando descobri o que tinha foi igualmente doloroso. Mas eu, ela, todos nós estamos aqui né? Compartilhando experiências e nos ajudando a superar! A dor vem, mas que conforto saber que não se está só...

Uma amiga, que luta contra a depressão bipolar, me ligou hoje, pra me animar, encorajar, escutar meus desabafos.
Minha estima já não estava em processo de cremação. Ao fim da conversa, ela disse essas palavras, aí vai:

-Ana, fica bem, não desce das tamancas. Sei que é difícil, mas... minha amiga, tem algo que precisamos a todo custo fazer, custe o que custar. Teremos que dar um jeito.
-É mesmo? O que???!!!
...
-Comprar um balão de gás hélio!

Hahahhahahhahahahahahhahaha

Então é isso. Combinamos uma sessão via skype.
Rir é um santo remédio e o preço do gás compensa.                                               
                          

É que são tantas opções...!

Levantei hoje por força da barriga. Fome é um grande incentivador.
Lá vou eu com o pão, manteiga e café com leite. De manhã, a vantagem é essa: preocupação: onde está o pão, a manteiga e só. Porque o leite ainda sei que só poderia estar na geladeira.
Existem milhões de coisas que se pode fazer num sábado (além das que tenho ou teria de fazer) e escolher por onde começar e que ações tomar é algo que só penso depois de comer. Minha atenção é só do pão e do café.
Ok mentira. rs Ahhhh mentiraaaa. Mas eu tento pelo menos.
Abri a net: Gmail, Folha de São Paulo Colunas (porque me mandaram link por e-mail), pesquisa pelo filme As faces de Helen (que minha mãe disse ser muito bom), blog, e um poema (que achei lendo a coluna da Folha. rs).
E aí... que grata surpresa coincidente! Eis aí o poeminha de hoje. Poeminha de Sábado, Domingo, Segunda...
Poeminha pra quem está tentando fazer algo, ou vários algos, e talvez... lendo isso ao mesmo tempo.
;)

Ou isto ou aquilo - Cecília Meireles

OU se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
Quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é o melhor: se é isto ou aquilo.



Terapia comportamental.

7/6
Eis Junho.Chegou.
Mais uma vez reclamações parecidas ao psiquiatra. Dessa vez receita de terapia comportamental.
Por que preciso de alguém que monitore meu comportamento? Por que preciso de alguém que me ajude a organizar minhas próprias idéias? Alguém que me cobre, que me policie, que avalie meu progresso e me faça sair do atoleiro?
Por que preciso de alguém que me dê segurança na hora de agir, na hora de fazer escolhas? Por que preciso de alguém que me dê animo pra continuar, que me ajude a pensar positivo, que me ajude a esquecer menos, que me ajude a atrasar menos, que me ajude a desistir menos? Que me ajude a ter maior resistência diante de grandes frustrações, que me ajude a procurar soluções para os problemas que aparecem, ao invés de simplesmente entrar em desespero e cansaço. Alguém que me ajude a honrar meus compromissos, que ajude a ter mais serenidade, mais tranqüilidade, mais razoabilidade?
Por que, por que preciso de alguém que me ajude a arrumar meu próprio quarto, meu próprio guarda-roupa, meus instrumentos de trabalho, meus sapatos, minha vida? Alguém que me ajude a ter e manter um trabalho, alguém que me chame à realidade, que me impeça de paralisar, que me traga de volta de um mundo que só existe na minha cabeça...?

Não sou contra terapia. Nunca fui. Pelo contrário. Fiz anos. E sempre soube que hora ou outra teria de voltar. Me viro bem sozinha, mas isso tem prazo de validade. Realmente os profissionais da área têm razão: medicamentos casados com terapia. É uma união necessária, mas... cara. Muito cara. Psiquiatra é caro, remédio é caro, terapia é caro.

Não posso deixar de me perguntar aqui, só como um simples desabafo para mim mesma: por que preciso de alguém que me ajude a fazer o que todo mundo faz e sem ter que gastar o salário todo pra isso?

Resposta?

Bola pra frente.

domingo, 19 de maio de 2013

Atravessando o pântano.

Andei lendo algumas matérias sobre distorções cognitivas e reestruturação de pensamento através da terapia cognitivo-comportamental. Tenho uma amiga que tem uma visão muito positiva das coisas. Muita gente gosta de estar ao lado dela (ou de alguém assim). Minha auto-estima é certamente algo que não fica debaixo dos sapatos quando conversamos. E pensando nisso fui atrás de comida pro meu cérebro.
As matérias eram interessantes, escritas por um mesmo autor, um terapeuta da linha que já mencionei.
Realmente pensar positivo, ser mais ativo e desenvolver uma melhor estima requer um desejo sincero e um esforço concentrado, ainda mais para quem já desenvolveu (como eu) um padrão ou hábito de pensar negativamente. É como aquele caminho que se faz na grama. De tanto passar, vira uma trilha de terra. E daí: caminho aberto, caminho fácil, caminho lógico, natural, sempre percorrido.
Já faz um tempo considerável que percebi que minhas trilhas normalmente iam direto para desgraças: um erro= fracasso completo, uma palavra impulsiva=idiotice completa, um não=rejeição completa e assim vai.
É claro que o TDAH dá uma ajuda aí, pisando com patas de elefante no meu lindo gramadinho. Andei, andei, andei com a nítida sensação de estar indo pra lugar nenhum e quando percebi, esse caminho já era uma estrada pavimentada, estruturada e em excelente estado de conservação.
As matérias sugeriam abrir novos caminhos, mesmo que seja utilizando facões pra tirar o mato alto da frente. Desde que comecei o tratamento tenho descoberto o quão amplo é o campo de possibilidades pra se abrir uma nova trilha. Mas manter um diálogo interno mais saudável, ou seja, mais voltado para a realidade e menos para generalizações de desastres homéricos, e com ele estabelecer prioridades e evitar postergações é o que de mais difícil encontro. Tento focar no que o terapeuta disse: fazer o que tenho de fazer mesmo sem ter vontade ou querer. Mas ainda me atinge aquele raio: “o que” exatamente fazer primeiro, sem vontade ou querer? O que é mais urgente? Tudo parece urgente! rs Conseguir estabelecer prioridades, confiar no meu critério e me apegar a elas, uma por vez, ainda é a pior das minhas dificuldades.

Mas enfim...
“Pensando positivo”, pelo menos já posso calçar meus Timberlands e amolar o facão. 
- Civilização, estou oficialmente a deixar a estrada 
pavimentada e a me embrenhar mato à dentro. Atravessarei com esforço os terrenos pantanosos. E sigam-me os bons!







quinta-feira, 11 de abril de 2013

O que os olhos não vêem, a cabeça sente.

Escrever sobre limitações não é tão emocionante quanto escrever sobre superações e conquistas impossíveis. Limitações parecem frustrantes, ainda mais quando desconhecemos nossas próprias. Pensamos sempre que esforço vence tudo e é tudo uma questão de tentar com vontade e fé. (E é o que todo mundo diz, não é?)
Hoje escrevo deliciosamente acomodada na cadeira da limitação e antes que alguém pense numa figura derrotada arrastando os braços pelo chão, digo: Não! Estou sentada no pódio de uma de minhas maiores conquistas – a de entender a diferença entre falta de perseverança e falta de modéstia.

Sabe quando aquela parte de nossa personalidade, ligada aos nossos desejos mais íntimos, nos move em determinada direção, para um objetivo qualquer? Pra quem é mais intenso, talvez até extremista (como eu), esse percurso envolve o desejo de ser inabalavelmente constante, inabalavelmente ágil, inabalavelmente eficaz, envolve perseverança inabalável. Quando vejo outros que parecem trilhar caminhos similares seguirem direto rumo à linha de chegada me empolgo muito mais e de repente sinto: uma constância abalada, agilidade abalada, eficácia e perseverança abaladas. A dor do cansaço e da impossibilidade de continuar. O rumo perde o sentido, o objetivo perde o foco, o coração perde o desejo.

O tempo passa e aquilo que julgávamos morto dentro de nós reascende e nos relembra de onde paramos e a perseverança nos diz que ainda há tempo de prosseguir naquele velho caminho. Mas qual não é a surpresa de perceber o mesmo resultado, de novo e de novo. Por que não consigo seguir com algo que desejo tanto?
Oras resposta camuflada, revele-se mesmo que doa: limitações. Todos temos. Eu tenho. O resultado se repetirá, no mesmo ponto, ora porque acredito que consigo, ora porque dizem que consigo, ora porque me culpo por não conseguir. Como me impedir de ser irrealista com o que exijo de mim? Como me proteger contra o que alguns lunaticamente esperam de mim?

Tão importante quanto cultivar perseverança é conhecer as próprias limitações. O problema não está no caminho, nos obstáculos, no desejo em si. Está na forma como o perseguimos. E a única maneira de vencer nossas limitações é saber que elas existem e quais são.

Eu jamais incentivaria uma pessoa sem pernas a escalar o Everest como meio de auto-superação, dizendo que lhe faria bem à auto-estima. Mas eis! Me olho no espelho... onde estão minhas limitações? Não vejo. Não vêem. Nem tomografia ou raio X. Logo, apanho meus equipamentos de escalada e começo uma subida que logo será impedida por elas, que não eram visíveis. Quando a perseverança resulta em quedas constantes, é sinal de que muito provavelmente existe ali uma limitação. Sermos modestos e admitirmos que por aquele caminho não temos condições de seguir como gostaríamos é sinal de sabedoria, não de fraqueza.
Mas desistir? Rs Hum... impossível. Muitos desejos não morrem, adormecem. E quando nos tratamos com respeito e carinho, eles acordam. Persegui-los novamente? Por que não? Hoje persigo velhos desejos, mas ao invés de escalar, estou dando a volta. 

Se eu demorar mais que outros, significará apenas que perseverei por mais tempo. E feliz...

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Ando devagar porque já tive pressa...

" Tenho a impressão de estar assistindo minha vida passando diante dos meus olhos enquanto penso, penso e penso no que devo fazer, em como farei e assim vai.
Estou tomando a 8 dias Bupropiona 125mg, alguém já tomou? Dá realmente algum resultado? Pq já estou pensando em desistir."

Receber comentários assim me ajudam a entender muitas coisas.
Fico impressionada com as similaridades. Fico impressionada que essas similaridades tem nome, RG e CPF. Não é mais aquele “bolo confuso de pessoas desajustadas e azaradas”. Não, não. E melhor: tem saída! Rs

Hora de falar de remédio (dentro, claro, das minhas humildes perspectivas).
Meu médico descreveu a cabeça humana como um saco de gatos. Nunca se sabe exatamente e precisamente o que vai sair dali e nem sequer se serão gatos.
O ponto é que estamos tãoo desesperançados que quando encontramos uma luz no fim do túnel, não admitimos curvas no meio do caminho, nada que nos impeça de manter contato visual direto com o que imaginamos ser a saída de nossas agruras.
Eis aí a verdade com que todos nós nos deparamos a partir do início da esperança, início do tratamento: o caminho tem mais curvas que a estrada de santos e as luzes ofuscantes que surgem de noite são faróis altos que cegam a vista e causam acidentes.
Sendo este o caso, nada mais natural do que a frustração e o velho desejo de desistir. (Quem nunca desistiu de um tratamento que atire a primeira pedra. Rs)
Difícil pensar na hora, mas a realidade é que de curva em curva o carro percorre os quilômetros necessários pra atingir seu destino. Mesmo que demore a chegar, tudo é melhor do que ficar parado no meio do nada, no escuro.
Tratamento é assim. Às vezes dá muito certo logo no começo. Às vezes dá certo no começo e errado no meio. Às vezes dá muito errado no começo, no meio e melhora no fim (que nunca é um fim de fato!). Portanto, caro portador, não desista! Muitos medicamentos apresentam efeitos colaterais muito desagradáveis, mas que passam. Se não passar, não passe para o desânimo total, converse com o médico, passe para outro medicamento. Não faz mais efeito, faz efeito demais? Converse com o médico, altere doses. Muitos dizem que o prazo para o remédio começar a fazer efeito é de 15 dias. Digo de novo: cada organismo uma reação. Eu demoro cerca de 1 mês, um mês e meio para me adaptar ao remédio e obter os benefícios que ele promete. E qualquer aperto ligo pro meu médico e já começo assim: sou eu de novo, não desista de mim! rs
A palavra que mais saía da minha boca era cansaço. Mas cansada mesmo eu estava era da inércia, de não poder descer do vagão, de não ter controle algum sobre minha vida. Posso garantir que o cansaço na busca de melhora compensa! A gente sai do buraco cuspindo terra, mas sai!

Pensar demais, creio que sempre pensaremos. Mas não precisa ser em círculos. Escolha um bom médico e siga em frente!
;)

quinta-feira, 4 de abril de 2013

8, também 80...

Observando as pessoas percebo o quão difícil é conduzir o pensamento por novos caminhos, redirecionar aquele impulso elétrico para outros neurônios, fazer novas sinapses, ver novas possibilidades, ou ver as mesmas de forma diferente.
Acho que sempre fui uma pessoa um tanto quanto obstinada e talvez isso faça parte do ser 8/80, como se só existissem esses dois números. E como a vida fica limitada só com eles.

Desde que ouvi falar em TDAH pela primeira vez, minhas reflexões a respeito de comportamentos humanos mudaram consideravelmente. Junto com informações a respeito de meus próprios problemas, veio um mundo de coisas que eu não entendia exatamente como funcionavam e o que ocasionavam. Li muito sobre transtorno bipolar (que a principio parecia meu caso), depressão (que é meu caso), ansiedade, transtorno opositivo, borderline, psicopatia, neurotransmissores, impulsos nervosos, sinapses, terapia cognitivo-comportamental, Freud, glutamato, dopaminas, serotoninas, noroadrenalinas e por aí vai... (Ainda hoje se fazem pesquisas sobre o estômago. Imagino as descobertas acerca de nosso universo mental que ainda estão por vir). Nesse bolo todo li Jung e sua fantástica teoria da personalidade, que me revelou uma INFP de carteirinha, sendo algumas das características: visão ampla e abstrata das coisas, forte apego a valores internos, disposição de entrar numa batalha pelo que acredita, intensidade na hora de expressar opiniões, enfim, um pouco de 8/80. rs
Com tanta informação nova, aquilo que antes me parecia impossível, inexplicável, incompreensível, passou a ser razoavelmente possível: explicar, compreender... viver.

Mas aí... a faca de dois gumes! Eu queria que as pessoas a minha volta também pudessem descobrir caminhos alternativos para suas dores e obstáculos intransponíveis. Vejo e escuto tantas pessoas desabarem em tristezas, arrependimentos, ressentimentos e infelicidades, desabafos às vezes muito parecidos com os meus. Hoje, compreendo que: problemas parecidos, caminhos diferentes. Quantas vezes não me disseram pra pensar assim ou assado, pra ver assim ou assado. Ok, pode ser que pensar assim ao invés de assado seja mesmo o melhor. O ponto é que às vezes, isso é simplesmente impossível no momento. (Não me refiro aqui a “dicas”, incentivos, apoios, que a gente dá e recebe pra amenizar algo. Refiro-me ao caminho interno que todos percorremos em direção à superação de algo. E mesmo a decisão de buscar ajuda pra isso, é um caminho que só a pessoa pode trilhar. Cada um tem uma história, uma genética, um raciocínio, uma circunstância, um coração, um tempo... únicos.). O que se pode fazer, e acredito realmente no poder disso, é demonstrar empatia. E empatia não é simplesmente fazer ao outro o que NÓS gostaríamos que NOS fizessem, mas fazer AO OUTRO o que ELE gostaria que lhe fizessem. 

Entender isso traz uma certa paz e permite que consigamos assumir nossas responsabilidades para conosco e para com as nossas escolhas. As minhas mudaram um pouco. Agradeço muito a existência do hiper-foco, esse pilar de sustentação que me permite quebrar a vida em momentos e analisar esses pedaços, não mais como meio de autocomiseração, mas como um degrau a subir, a superar.
Não cultivo mais a sensação do: “Ah! agora vai dar tudo certo... tem que dar!”.
Procuro cultivar a segurança do: não, não vai dar ‘tudo’ certo. Às vezes vai dar 8... às vezes 80... mas por que não às vezes 10, 15, 27, 32, 41, 54, 65, 73...

sexta-feira, 22 de março de 2013

Dói e dói sim!

Sabe aquela pessoa super atrapalhadinha e gracinha e feliz?
Pois não é meu caso. TDAH dói.
- Você sente angústia então...?
- Sim dr. É que a gente vai vendo os anos passarem, e... (pausa pra embargar) e nada. Pra mim, a vida parece uma bola de tempo com coisas flutuantes a fazer e um filtro queimado e fumacento que não as coloca em linha de produção. Não marco mais compromissos com as pessoas, não marco mais compromissos comigo. Não faço planos a longo prazo, a médio prazo e o de curto prazo pra mim é hoje. O que me parece perfeitamente lógico hoje não é mais amanhã.
- É, é triste. Complicado.
- É triste sim. Chega a parecer ridículo, cansativo. Estou cansada de estar cansada, sabe?
- Mas você sente dificuldade só com as coisas que são chatas e que você não quer fazer?
- Isso é relativo, veja bem. O que é chato hoje, amanhã é meu hobbie. E aquilo que é um porre hoje, amanhã pode parecer um tanto quanto interessante. Tirando burocracia, fila de banco e história sem fim... meus interesses têm uma capacidade mutativa muito considerável.
- Hummmm... precisamos ativar seu setor de recompensas... pra você não se desestimular tanto assim com as coisas e deixar tudo por fazer.

Ok. Alright. Tudo bem. Vai ficar tudo bem. Tudo vai dar certo... hahahhahah
Hoje de novo. Olho pros lados e os lados sambam loucamente rindo de mim. Pra que lado vou? Eles realmente não estão dispostos a me dizer...
Aindaaaa!


quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

E não é que é???

Cozinhando meu frango com quiabo e lendo e-mails (lógico), me deparo com um link que uma amiga mandou dizendo assim:
"esse texto é a sua cara!!!!!"

Acho que o texto é a cara de muita gente, então... segue rs:


O fim
DE SÃO PAULO

Você aperta bem no meio do tubo, e nada: eis o primeiro sinal do fim, mas quem atenta para os primeiros sinais? Além do que, a bisnaga está quase cheia, só ali pelo meio é que abaulou: basta pressioná-la em cima, perto do bico, ou embaixo, próximo à base, e a pasta sairá, roliça e lustrosa, nas cerdas de sua escova. A ideia de passar numa farmácia pisca em seu córtex como um distante vaga-lume, para logo desaparecer no cipoal de neurônios.
Cinco ou seis dias depois, contudo, você aperta o tubo na parte de cima, outrora bojuda, e nada acontece: abaulou-se, também, mas para que se abalar com isso? Um pequeno remanejamento dá conta do recado: com os polegares e indicadores, vai espremendo da base pro bico. A visão da bisnaga de peito estufado traz algum alívio no curto prazo, mas a informação "preciso comprar pasta de dente" agora está colada, como um Post-it, na tela de sua consciência.
E daí? Há assuntos mais importantes, sempre há: a infiltração no teto do banheiro, o aumento que pretende pedir --a demissão, se tivesse coragem--, uma DR definitiva da qual foge como o diabo da cruz. É lá do fim dessa fila que acena, pequenina, a possível escassez dentifrícia.
A Terra, porém, completa mais algumas voltas em torno de seu eixo: folhas caem das árvores, flores brotam nos jardins, pormenores atingem a maioridade --eis o que você percebe, diante do tubo vazio, hirto como uma fronha secando no varal.
O problema não é mais "preciso comprar pasta" e sim "por que cazzo não comprei antes?!", mas a indagação traz outras questões de fundo que talvez seja melhor ignorar. Importante agora é escovar os dentes: você apoia o tubo na bancada do banheiro e, com a haste de um pente, o aplaina da base ao bico.
Ao cuspir a espuma na pia, jura que de hoje não passa, mas a convicção se esvai na mesma velocidade que o sabor de hortelã: não há vaga em frente à farmácia, a lojinha do posto está fechada, depois já passam das dez, a reunião é às 11, o torvelinho do cotidiano te suga e só te devolve ao incômodo na hora de ir para a cama.
O pente é inútil: a bisnaga parece uma fronha passada a ferro. Um rolo compressor seria inútil: não há ranhura ou desvão que não tenha sido achatado. Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai até Maomé, você resmunga, então mete as cerdas no bico do tubo, meticulosamente. Elas não saem sequer melecadas, apenas opacas, como se tivessem sido mergulhadas no leite.
Você dorme mal. Acorda desgostoso, antes do despertador. Sabe o que te espera. Não se orgulha do que está prestes a fazer, mas o fará, assim mesmo: abre a gaveta, pega a tesourinha de unha, respira fundo e corta o tubo, de cima abaixo. Enquanto chafurda a escova pelo interior da carcaça, pensa no aumento que não pediu, na demissão que não pedirá, no namoro que se esgarça diante de seus olhos; percebe como a infiltração no teto e a bisnaga estripada são metáforas chinfrins do estado das coisas. O que mais dói, contudo, é saber que ainda não chegou ao fundo do poço: adiante, te esperam a escovação sem pasta, reavivando os resíduos de espuma seca nas cerdas e, para coroar o desmantelo, a escovação com sabonete: aí sim, aí sim é o fim.
Antonio Prata
Antonio Prata é escritor. Publicou livros de contos e crônicas, entre eles "Meio Intelectual, Meio de Esquerda" (editora 34). Escreve às quartas na versão impressa de "Cotidiano".
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/1237482-o-fim.shtml

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Realidade, impressão, sonho...

Que a vida minha, seja como os quadros de Monet.
Seja a mesma. Sempre.
Mas o sol...
Que a cada hora me mude as cores, me confunda as formas,
a realidade que vejo, que vêem em mim.
Indefinida por contorno definido
Aliás, 
Não importa o contorno - Que me importa o contorno?!
Que essa verdade me tome e misture, me dispa.
Que o borrão seja parte integrante de mim
Que minhas paisagens o incorporem e que 
O interpretem como garça, pipa, ou folha solta...
Que o vento misture as cores, que as espalhe.
Espalhe...
E os sons, retumbem sobre a tela - 
Quando tremer a figura, 
Que formas assumirá então?
E você... por que não? Que faria com as cores todas?
Que faria?
Você substância... é imagem gravada ou tinta fresca?
A vida, Ah! não... Não a quero fotografia.
A quero quadro impressionista.