domingo, 7 de julho de 2013

Insegurança, TDAH, AK 47.

Essa noite foi noite de insônia. Esse fim de semana fiquei na cama, rolando de manhã, achando que devia ser 11 horas e eram 9 apenas, o que é bom.
A noite sem sono serve pra pensar. É aí que vem aquelas eurekas óbvias que a cabeça vai se deixando expurgar de tanto a gente cutucar.
Primeiro, de tanto cutucar, tenho conseguido sair (um pouco) da minha super casca de convicções passionais. Eu tenho conseguido olhar de dentro pra fora...do outro. Sabe quando a gente cantarola a letra de uma música e pensa em pra quem estaríamos esgoelando os versos? Pois é. Me peguei esses dias pensando na outra pessoa cantando a mesma letra pra mim. E quer saber? Muita coisa seria cabível. E foi tão bom perceber isso. Diante de tantas inseguranças, sempre se arma um plano de conspiração dos outros contra nós, na nossa própria cabeça é claro. Mas daí... quantas vezes soltamos o tiro pra quem nos ia dar uma flor? Ou quantas vezes nos vemos ameaçados por alguém com uma faca na mão e quando olhamos pras nossas próprias, oras vejam, portamos uma AK 47 carregada. Insegurança cega. E lembrei da ilustração no livro Mentes Inquietas:
'... um caçador que, ao detectar um pequeno ruído na floresta, põe em disparo uma ... rajada de tiros e descobre que a sua grande presa não passava de um inofensivo tatu que apenas abrira um pequeno buraco no solo com o intuito de se abrigar.
Quanta energia em vão! Exagerado! - diria a maioria das pessoas. Mas, na verdade, tudo não passou de um
ato impulsivo, ou seja, disparou, depois pensou. E, com certeza, lamentou! Tanta apreensão, tanta adrenalina, tanta taquicardia, tudo agora está no chão ao redor da pequena residência do tatu - que graças
a Deus e à sua agilidade, encontra-se vivo, feliz e aquecido em sua morada.
Essa pequena história-piada pode gerar risos. No entanto, se pensarmos na vida real, em que tatus são
pessoas e caçadores são DDAs impulsivos, pode-se imaginar quanto sofrimento, culpa, angústia e cansaço,
um impulso sem filtro pode ocasionar nos relacionamentos cotidianos de uma dessas pessoas. E é justamente isso que acontece com crianças e adultos DDAs."
A partir daí, eu poderia começar a remoer culpa e remorso, mas... eu tenho conseguido algo importante, caramba! Tenho que ficar pelo menos um tanto feliz com isso!
Percebi também que quando se fala que temos de ser felizes primeiro sozinhos, pra depois fazer outra pessoa feliz, é verdade. Parece óbvio, tudo bem, mas sempre achei isso meio ridículo, papo de solitário enrustido. Como pensar em ser feliz sozinho, que despautério ensandecido! O ponto é que relacionamentos humanos possuem muitas entrelinhas e, assim, a dependência de pessoas pode ser uma bruta emboscada: depender de alguém pra dar respostas quando você nem sabe quais são as perguntas é receita certa pro desastre. E inconsciente de novo a insegurança passa a exigir do outro certas tantas coisas que só a própria pessoa, sozinha, pode se dar. Não fazer isso pode sobrecarregar injustamente o outro, ou permitir que esse outro faça conosco o que bem entender (porque nós lhe demos esse direito).

Queria abrir um parêntese pra insegurança, porque ela é uma das grandes responsáveis por esses rombos na vida, incluindo aqueles que causamos aos 'tatus'. No site Universo TDAH (http://www.universotdah.com.br/), sob o tópico “Conseqüências” e "Relacionamentos de casais" existem pontos interessantes como:

Se não é devidamente diagnosticado e tratado, fica muito difícil conviver com ele (NÓS), minando cada vez mais sua auto-estima, sua confiança no futuro e no mundo.
 Costuma sentir-se um ET, diferente dos outros, com baixa auto-estima, sensação de incapacidade, insegurança...
“Seu humor geralmente é imprevisível, muito instável, com altos e baixos repentinos, sem qualquer razão séria aparente.
 A desorganização também passa a ser interna, na medida que a pessoa não sabe a qual dos "tenho que" atender em primeiro lugar e a cabeça fica "remoendo" num eterno conflito, ansiedade e preocupação crônicas. Está sempre em estado de alerta, muitas vezes não se sente confiável, preocupado com coisas que estão por fazer ou que não deram certo e com isso, tira a atenção do que está fazendo no momento.
“Costuma haver uma tendência ao isolamento da pessoa com TDAH (DDA), onde ela possa ter um tempo só seu, no seu canto sem falar com ninguém, no devaneio de sua mente acelerada. Qualquer pessoa que tente "invadir" esse espaço, não é bem vinda e a pessoa com TDAH (DDA) pode reagir de forma agressiva. O parceiro sente-se rejeitado, achando que o problema é só com ele. Sem o conhecimento das característas do transtorno, este afasta-se e a relação fica comprometida.

É. Insegurança é algo a se trabalhar muito! Em base pessoal. Intransferível. Inalienável. 










quarta-feira, 3 de julho de 2013

Cada coisa em seu devido lugar.

Numa mesa de 70 por 130 cm temos:
Três livros, uma calculadora, impressora, abajur, porta canetas, aparador de livros, porta revistas, um caderninho de anotações, uma saboneteira, guarda-chuva, um porta utilidades, um recorte de saia cheio de alfinetes, uma máquina de costura, uma extensão de tomada meio quebrada, um aparelho desses pra combater pernilongos, um bloquinho de notas, duas pastas pra guardar papéis, papéis, muitos papéis fora das pastas e de qualquer outro “device” produzido para fins organizacionais. Isso porque acabei de remover a bola de pilates, pra poder achar umas peças de roupa.
Aff essa mesa ta me desafiando e esse mundo é muito louco mesmo. Onde já se viu ter que se armar para atacar uma baguncinha? Já pensei em atacar o que me pareceu, à primeira vista, o coração do problema: a mesa. Taco a mesa no lixo, oras. Mas, claro, tudo que se encontra sobre ela estaria então no chão e a visão do inferno seria pior do que esta, que agora diviso. Taco as coisas todas no lixo então. Mas... coisas são multiplicáveis, uma espécie que se auto-reproduz eficazmente, continuamente, inexplicavelmente e inumeravelmente. Neste caso, me taco no lixo? Porque obviamente o coração de todo o problema parece ser... eu.
Admito... admitoooo. Já me taquei no lixo, me tirei do lixo, me taquei no lixo, me tirei do lixo e assim foi, e assim é. Resistirei bravamente à tentação de dar cabo de tudo numa enorme fogueira, quase um ritual de desapego, um grito à liberdade, um não ao materialismo. Resistirei à tentação de lutar por essa causa libertária, de angariar seguidores, de propagar esse movimento.
Como gente de bem, vou me conscientizar dos anos que me pesam às costas e começar a guardar, como minha mãe já diria: cada coisa em seu devido lugar.
Agora... me incluindo nessa... meu lugar, qual é?
Às vezes sinto tanta inveja dos bonecos de Lego dentro daquela caixa azul...