Numa mesa de 70 por 130 cm temos:
Três livros, uma calculadora, impressora, abajur, porta
canetas, aparador de livros, porta revistas, um caderninho de anotações, uma
saboneteira, guarda-chuva, um porta utilidades, um recorte de saia cheio de
alfinetes, uma máquina de costura, uma extensão de tomada meio quebrada, um
aparelho desses pra combater pernilongos, um bloquinho de notas, duas pastas
pra guardar papéis, papéis, muitos papéis fora das pastas e de qualquer outro “device”
produzido para fins organizacionais. Isso porque acabei de remover a bola de
pilates, pra poder achar umas peças de roupa.
Aff essa mesa ta me desafiando e esse mundo é muito louco
mesmo. Onde já se viu ter que se armar para atacar uma baguncinha? Já pensei em
atacar o que me pareceu, à primeira vista, o coração do problema: a mesa. Taco
a mesa no lixo, oras. Mas, claro, tudo que se encontra sobre ela estaria então
no chão e a visão do inferno seria pior do que esta, que agora diviso. Taco as coisas
todas no lixo então. Mas... coisas são multiplicáveis, uma espécie que se
auto-reproduz eficazmente, continuamente, inexplicavelmente e inumeravelmente. Neste
caso, me taco no lixo? Porque obviamente o coração de todo o problema parece
ser... eu.
Admito... admitoooo. Já me taquei no lixo, me tirei do lixo,
me taquei no lixo, me tirei do lixo e assim foi, e assim é. Resistirei
bravamente à tentação de dar cabo de tudo numa enorme fogueira, quase um ritual
de desapego, um grito à liberdade, um não ao materialismo. Resistirei à tentação
de lutar por essa causa libertária, de angariar seguidores, de propagar esse
movimento.
Como gente de bem, vou me conscientizar dos anos que me
pesam às costas e começar a guardar, como minha mãe já diria: cada coisa em seu
devido lugar.
Agora... me incluindo nessa... meu lugar, qual é?
Às vezes sinto tanta inveja dos bonecos de Lego dentro
daquela caixa azul...
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