quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Na órbita da Ritalina.

Estava eu na farmácia atrás do meu Neural (sim, eu tomo estabilizador de humor), esperando pacientemente o farmacêutico muito educado e prestativo ligar pra todas as redes da farmácia pra saber em qual unidade eu encontraria o remédio.
Ao meu lado, um rapaz em seus 40 anos mais ou menos, esperava outro atendente voltar com sua caixinha de medicamento. A resposta foi:
- Sinto muito senhor, mas está em falta.
Ele olhou meio estático, pegou a receita novamente e saiu da fila. Parou, voltou e perguntou ao atendente estendendo a receita novamente:
- É... que remédio é esse mesmo? (Pois é... provavelmente ele não lembrava mais do nome do remédio que o médico falou e também não conseguia entender a letra cuneiforme do mesmo).
Resposta:
Tcharã rã rããã....

- Ritalina.
(Rsrsrs)

A única coisa que pude dizer (não me contive) foi:
- É... tá difícil de achar mesmo.

Já em órbita ele me olhou, sorriu, e saiu devagar a girar por outras farmácias.

sábado, 7 de setembro de 2013

Os dois pecados capitais

Há alguns meses (ou anos?) a revista Galileu publicou como assunto de capa uma matéria sobre foco e a desumanidade de tentar fazer tudo ao mesmo tempo com perfeição – o que transforma “não tdahs” em tdahs: sensação de muito cansaço e pouco rendimento, além de muitos erros no pouco que foi feito.
Reabri a revista esses dias e recortei uma coluna com “Rituais de Foco”. A segunda dica era pra fazer uma (a famosa!) lista de tarefas com apenas 3 mais importantes e não parar até que a primeira estivesse 100% concluída. Fui aplicar isso hoje, sendo a primeira a arrumação do meu quarto. Não foi 100% concluído, mas dessa vez quase consegui. O ponto é que, arrumando o quarto, minha cabeça foi conversando comigo. Olhando pela janela do quarto, o jardim ensolarado, céu azulzinho e a sensação de que a vida é tão grande, tão cheia de sensações, liberdades... tão diferente da sensação de colocar calças no cabide...
Pensando nisso cometi o primeiro pecado capital: paralisei e viajei! Retomei apenas pra cometer o segundo pecado capital: parei, sentei e comecei outra tarefa nada a ver com a primeira: a de escrever sobre essas viagens.

Conversei com uma senhora semana passada e ela me disse que mesmo quando está no meio de pessoas, sorrindo e interagindo com elas, dentro de si, não consegue se sentir parte daquilo, parte do ambiente. Assenti. Sempre achei a vida de antropólogo das mais interessantes. Mergulhar num contexto qualquer, diferente de seu próprio, aprender, absorver, misturar, vivenciar, fazer parte real daquilo e ainda assim, não ser aquilo. E é tanta coisa pra vivenciar, é tanta experiência pra absorver, é tanto universo pra compreender na pele, no gosto, no cheiro, que a arrumação do quarto me parece desprovida de propósito, ao menos agora, neste momento.

Trechos de duas músicas descrevem melhor do que eu jamais poderia, o que quero dizer: 


“Que lugar me pertence
Que eu possa abandonar
Que lugar me contém
Que possa me parar...
                    (Kid Abelha)
 “Olha, não sou daqui
me diga onde estou
não há tempo não há nada
que me faça ser quem sou”
                  (Pato Fu)

Pronto. Agora que já coloquei pra fora meia dúzia de pensamentos inquietantes rs, vou deixar essa coisa ridícula de estradinhas e aventuras pra me dedicar à minha absolvição: o concreto e responsável mundo das calças e dos cabides.
Fui!

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Pra que dinheiro?

"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
                                                                               (Tabacaria. Fernando Pessoa)                                                 

           
Não tenho nada.
Nunca terei nada.
Não posso querer ter nada.
À parte isso, tenho em mim todas as dívidas do mundo.
Momento revolta, com licença.
Dinheiro compra tudo.
Compra água, luz e telefone, comida, roupas, sapatos, médicos bons, remédios bons, terapeutas bons, saúde boa, felicidade até.
O tempo passa, o tempo voa, e a cabeça da Ana continua numa... Ahhhhhhh! X(


Incorporando a voz de dona Hermínea:
- GRALHAS malditas berrando dentro da minha cabeça, todas ao mesmo tempo me azucrinando a alma: calem seus bicooos! Não! NÃO tem médico, não. Hein?! Não! Remédio também não. NÃO! Nãooo tem terapia! Mamãe NÃO tem dinheiro, chega de birraa! CHEGA!


Ah... que se matem! Eu vou encostar no barranco logo ali e dar uma morridinha.