quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Compulsividade, mas com estilo.

Uma das piores coisas que podem acontecer: são 23:20. Daqui a pouco 2:20, 3:20... e eu assim - 0.0
Tento ficar na cama, conto corvinhos... mas se chega às 3, tenho que levantar porque me ataca uma péssima e incomoda fome, que não vai me deixar dormir mesmo. Fico concentrada no buraco do estômago e tenho que ir à geladeira. E quando tudo está sob o santo silêncio da madrugada, as coisas fazem um barulho fora do normal. Nunca pensei que a tentativa de abrir um saco de pão fizesse tanto barulho. Faço um shiii bem baixo pra mim mesma e continuo na procura de algo pra colocar no pão que eu peguei com muito sacrifício pra não acordar ninguém.
Engraçado que...  essa energia que me vem de vez em quando, meio sem aviso, não é uma energia normalmente produtiva, porque ela me deixa perdida e quase sempre mais, muito mais atrapalhada.
É exatamente nessa hora também que, além da falta de sono, mais aparecem os comportamentos compulsivos. Sem perceber, repetimos freneticamente ações que prometemos a nós mesmos que teriam fim, como arranhar as mãos, ou a barriga, ou os joelhos, ou a nuca... enfim. Nunca mais deixei as unhas compridas, corto sempre bem curtas. A barriga eu encapo com esparadrapo na parte afetada. Pensei em fazer o mesmo com alguns dedos das mãos que já criaram calos. Uma amiga que tem problema similar fez isso e ficou consolada ao ver numa foto, seu mais novo estilo fashion.



'Equilíbrio! Equilíbrio!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!'

sábado, 10 de novembro de 2012

Alguém na escuta?

Auto-controle Parte I - Falar:

Preciso escrever sobre auto-controle novamente. (Certamente já o devo ter feito em posts anteriores, mas enfim). A luta pelo auto-controle é algo tão recorrente em minha vida que por vezes o vejo como o Papa-léguas, sendo eu o Coiote. Meu psiquiatra me disse em consulta ontem que tudo na vida tem seu lado bom: ´ Em algumas circunstâncias pode ser vantajoso agir de modo menos padronizado ou “certinho”, passando uma sensação de desprendimento e independência de algumas regras sociais.' Ok! MAS: 'Em um grupo social, a falta de atenção e capacidade de perceber sutilezas dos outros faz com que alguns atos sejam considerados “sem noção”" - é péssimo quando as pessoas olham a gente com cara de "hein?!":

- O que achou da obra fantástica de semiótica de Eco? Creio que ele se aproxima mais das concepções peircianas do que das concepções europeias, não acha?
- É... Côco.
(Meu! Como assim? Côco?! De onde veio... "côco"? rs O que "côco" tem a ver com semiótica e Umberto Eco? Mas é assim... a pessoa fala e eu solto palavras aleatórias. Elas simplesmente voam estupidamente da minha boca.).

Não se pode esquecer também que "em casos mais extremos, o baixo controle provoca comportamentos opositivos" (mas por que temos tanto problema com os limites e padrões, alguém pode me dizer?) Já abri a boca pra defender uma super ideia natural e percebi que aos poucos os olhares foram ficando disfarçadamente escandalizados. Amigos mais próximos vinham depois me perguntar porque eu havia falado aquilo no meio de todo mundo. (Que droga! Porque eu não percebi?)

Auto-controle Parte II - Escutar:

Pensei um pouco mais sobre essa questão numa viagem recente.
Conversando com amigos dias atrás, falamos sobre o filme O solista. 
O filme fala sobre um jornalista que, em busca de uma história pra sua coluna, acaba encontrando nas ruas de Los Angeles um morador de rua com excepcional talento musical. O jornalista passa o filme tentando ajudar esse morador de rua (que possuía, além do talento pra música, um sério problema mental).
Pois bem, um amigo ia dizendo que às vezes ele tinha medo de ficar como um dos personagens do filme (que todos deduziram ser o do jornalista Steve Lopez, interpretado por Downey Jr.). Ele corrigiu: medo de ficar como o morador de rua. Os outros no grupo franziram a sobrancelha: esquizofrenia?! E começaram a perguntar se ele costumava ouvir vozes (hauhauhauhauha). Pareciam meio preocupados.

A explicação dele: é a sensação de estar ficando louco. (É cara... não é metáfora, infelizmente).
Ouvir coisas demais parece não ser privilegio apenas dos esquizofrênicos. 
Parece que tudo fala, céus! As pessoas falam, as responsabilidades falam, os desejos falam, a culpa fala, obrigações sociais falam, o trabalho fala, o cansaço físico, mental e emocional fala, os parasitas falam e a solidão dá aquele berro.

Não sei quem começou a falar que a tristeza era muito difícil realmente. Foi aí que eu indexei algo que já sabia: o ponto não é nem a tristeza, tristeza em si. A tristeza nos deixa inertes e inofensivos. O problema mesmo é quando vem a falta de controle. Entrar nessa zona traz tanto, mas tanto prejuízo que quando sinto o auto-controle abandonando-me sorrateiramente, o desespero vai tomando conta do todo.
Você quer continuar sorrindo, como estava, amoroso, como estava, escutando e respondendo como gente normal faz, assim como estava.
Mas... é estranho né? Uma hora você é capaz. Em outra, simplesmente não.

Eu ouço o que me falam e tento mostrar uma casca de sanidade, como se eu só estivesse escutando aquela pessoa. O problema é que todas as vozes que se confundem dentro da minha cabeça, ninguém mais escuta. Ou talvez escutem. Os esquizofrênicos...