sábado, 10 de novembro de 2012

Alguém na escuta?

Auto-controle Parte I - Falar:

Preciso escrever sobre auto-controle novamente. (Certamente já o devo ter feito em posts anteriores, mas enfim). A luta pelo auto-controle é algo tão recorrente em minha vida que por vezes o vejo como o Papa-léguas, sendo eu o Coiote. Meu psiquiatra me disse em consulta ontem que tudo na vida tem seu lado bom: ´ Em algumas circunstâncias pode ser vantajoso agir de modo menos padronizado ou “certinho”, passando uma sensação de desprendimento e independência de algumas regras sociais.' Ok! MAS: 'Em um grupo social, a falta de atenção e capacidade de perceber sutilezas dos outros faz com que alguns atos sejam considerados “sem noção”" - é péssimo quando as pessoas olham a gente com cara de "hein?!":

- O que achou da obra fantástica de semiótica de Eco? Creio que ele se aproxima mais das concepções peircianas do que das concepções europeias, não acha?
- É... Côco.
(Meu! Como assim? Côco?! De onde veio... "côco"? rs O que "côco" tem a ver com semiótica e Umberto Eco? Mas é assim... a pessoa fala e eu solto palavras aleatórias. Elas simplesmente voam estupidamente da minha boca.).

Não se pode esquecer também que "em casos mais extremos, o baixo controle provoca comportamentos opositivos" (mas por que temos tanto problema com os limites e padrões, alguém pode me dizer?) Já abri a boca pra defender uma super ideia natural e percebi que aos poucos os olhares foram ficando disfarçadamente escandalizados. Amigos mais próximos vinham depois me perguntar porque eu havia falado aquilo no meio de todo mundo. (Que droga! Porque eu não percebi?)

Auto-controle Parte II - Escutar:

Pensei um pouco mais sobre essa questão numa viagem recente.
Conversando com amigos dias atrás, falamos sobre o filme O solista. 
O filme fala sobre um jornalista que, em busca de uma história pra sua coluna, acaba encontrando nas ruas de Los Angeles um morador de rua com excepcional talento musical. O jornalista passa o filme tentando ajudar esse morador de rua (que possuía, além do talento pra música, um sério problema mental).
Pois bem, um amigo ia dizendo que às vezes ele tinha medo de ficar como um dos personagens do filme (que todos deduziram ser o do jornalista Steve Lopez, interpretado por Downey Jr.). Ele corrigiu: medo de ficar como o morador de rua. Os outros no grupo franziram a sobrancelha: esquizofrenia?! E começaram a perguntar se ele costumava ouvir vozes (hauhauhauhauha). Pareciam meio preocupados.

A explicação dele: é a sensação de estar ficando louco. (É cara... não é metáfora, infelizmente).
Ouvir coisas demais parece não ser privilegio apenas dos esquizofrênicos. 
Parece que tudo fala, céus! As pessoas falam, as responsabilidades falam, os desejos falam, a culpa fala, obrigações sociais falam, o trabalho fala, o cansaço físico, mental e emocional fala, os parasitas falam e a solidão dá aquele berro.

Não sei quem começou a falar que a tristeza era muito difícil realmente. Foi aí que eu indexei algo que já sabia: o ponto não é nem a tristeza, tristeza em si. A tristeza nos deixa inertes e inofensivos. O problema mesmo é quando vem a falta de controle. Entrar nessa zona traz tanto, mas tanto prejuízo que quando sinto o auto-controle abandonando-me sorrateiramente, o desespero vai tomando conta do todo.
Você quer continuar sorrindo, como estava, amoroso, como estava, escutando e respondendo como gente normal faz, assim como estava.
Mas... é estranho né? Uma hora você é capaz. Em outra, simplesmente não.

Eu ouço o que me falam e tento mostrar uma casca de sanidade, como se eu só estivesse escutando aquela pessoa. O problema é que todas as vozes que se confundem dentro da minha cabeça, ninguém mais escuta. Ou talvez escutem. Os esquizofrênicos...

2 comentários:

  1. A falta de auto controle vai acabar destruindo o pouco que conquistei nessa minha vida, viu.
    É um leão por dia, Beatriz!
    Conseguir nao falar na hora que nao devo, nao ser do contra principalmente quando nao me perfuntaram..oh. Rita, querida, largue seus efeitos colaterais e go on!!!

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    1. Perfeito teu comentário!
      Ser do contra parece um segundo eu dentro de nós, que adora aparecer. As consequencias são péssimas. E ainda entra os efeitos colaterais do remédio e nossa atrapalhação enfim! rs
      Mas lembre-se, não nos pegarão sem luta! hehehhe

      Grande abraço e obrigada por seus preciosos e esclarecedores comentários!
      Ana.

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