sábado, 7 de setembro de 2013

Os dois pecados capitais

Há alguns meses (ou anos?) a revista Galileu publicou como assunto de capa uma matéria sobre foco e a desumanidade de tentar fazer tudo ao mesmo tempo com perfeição – o que transforma “não tdahs” em tdahs: sensação de muito cansaço e pouco rendimento, além de muitos erros no pouco que foi feito.
Reabri a revista esses dias e recortei uma coluna com “Rituais de Foco”. A segunda dica era pra fazer uma (a famosa!) lista de tarefas com apenas 3 mais importantes e não parar até que a primeira estivesse 100% concluída. Fui aplicar isso hoje, sendo a primeira a arrumação do meu quarto. Não foi 100% concluído, mas dessa vez quase consegui. O ponto é que, arrumando o quarto, minha cabeça foi conversando comigo. Olhando pela janela do quarto, o jardim ensolarado, céu azulzinho e a sensação de que a vida é tão grande, tão cheia de sensações, liberdades... tão diferente da sensação de colocar calças no cabide...
Pensando nisso cometi o primeiro pecado capital: paralisei e viajei! Retomei apenas pra cometer o segundo pecado capital: parei, sentei e comecei outra tarefa nada a ver com a primeira: a de escrever sobre essas viagens.

Conversei com uma senhora semana passada e ela me disse que mesmo quando está no meio de pessoas, sorrindo e interagindo com elas, dentro de si, não consegue se sentir parte daquilo, parte do ambiente. Assenti. Sempre achei a vida de antropólogo das mais interessantes. Mergulhar num contexto qualquer, diferente de seu próprio, aprender, absorver, misturar, vivenciar, fazer parte real daquilo e ainda assim, não ser aquilo. E é tanta coisa pra vivenciar, é tanta experiência pra absorver, é tanto universo pra compreender na pele, no gosto, no cheiro, que a arrumação do quarto me parece desprovida de propósito, ao menos agora, neste momento.

Trechos de duas músicas descrevem melhor do que eu jamais poderia, o que quero dizer: 


“Que lugar me pertence
Que eu possa abandonar
Que lugar me contém
Que possa me parar...
                    (Kid Abelha)
 “Olha, não sou daqui
me diga onde estou
não há tempo não há nada
que me faça ser quem sou”
                  (Pato Fu)

Pronto. Agora que já coloquei pra fora meia dúzia de pensamentos inquietantes rs, vou deixar essa coisa ridícula de estradinhas e aventuras pra me dedicar à minha absolvição: o concreto e responsável mundo das calças e dos cabides.
Fui!

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