A criança é pura, é inocente, é dócil (ou deveria ser). Todo
mundo diz isso, todo mundo sabe disse. O adolescente é arredio, é fechado, é
resistente, sonega informações, é esquivo. Então, porque “preferir” um
adolescente?
Observar uma criança pequena brincando é algo no mínimo
interessante. Vê-la descobrindo o mundo a sua volta, tudo chama atenção, tudo
quer pegar, tocar, sentir, colocar na boca. Difícil imaginar o que vai na
cabecinha dela diante do mundo que é absolutamente todo novidades. (Eu mesma não
me lembro detalhadamente de coisas que outros lembram com tanta normalidade. Acho
que sempre fui de lembrar das sensações e impressões ao invés dos detalhes
concretos, mas enfim.) A criança precisa e absorve um universo de informações o
tempo todo, precisa de limites, de segurança, de carinho, de princípios,
precisa dos pais.
Embora se veja o adolescente como algo "desgarrado", existe nele as mesmas características da criança, mas o leque de
necessidades ou a intensidade delas passa por mudanças. Ser adolescente é lidar
com a contradição o tempo todo e isso é, também, um universo de descobertas
fantásticas. Ele precisa de limites, mas não mais os de quando era criança. Estes
ele precisa quebrar para alcançar novos. Precisa de segurança, mas fundada em
si mesmo, pra que possa escolher seu próprio caminho. Precisa de carinho (e
como precisa de carinho. Ta pra nascer bicho mais carente que ser humano na adolescência),
mas agora não somente o protetor. O carinho da confiança e da admiração. Precisa de princípios pra solidificar o caráter e claro, precisa dos
pais, da amizade deles, cuja base é o respeito mútuos.
Tempos atrás me deparei com um
poema do Quintana na sala de espera do meu terapeuta. Li pra mim, li pra ele,
e chorei. O poema acordou uma saudade indescritível da sensação de se ter o
mundo de possibilidades infinitas à frente e a garra da fé para alcançá-los. Isso
é pra mim algo nítido e fantástico no adolescente: a paixão otimista pelo novo,
e o ímpeto que desconhece o “não" e o "impossível” . É
claro que existe dor e frustração (céus! como existe e como eu chorei!), mas
existe sempre lá no íntimo a certeza de ser Fênix.
Creio que todo tdah, mais do que outras pessoas, têm e mantêm
um adolescente cravado nas entranhas. Parece que os caminhos que se afunilam
mais naturalmente na vida de um adulto permanecem tão abertos pra nós quanto nos
eram na adolescência. A capacidade de ver além do concreto, de criar novas possibilidades,
de intuir o que é invisível aos olhos. A ânsia pelo novo, a paixão com que se
persegue certos sonhos e amores, a tragédia no fracasso e a teimosia de
continuar tentando.
Não digo que todo adolescente seja (ou permaneça rs) assim. Mas gosto de pensar que pra mim, a adolescência foi como a do poema e que a vida, de certa forma, seguiu esse mesmo trilho...
O adolescente
A vida é tão bela que chega a dar medo.
Não o medo que paralisa e gela,
estátua súbita,
mas
Não o medo que paralisa e gela,
estátua súbita,
mas
esse
medo fascinante e fremente de curiosidade que faz
o jovem felino seguir para a frente farejando o vento
ao sair, a primeira vez, da gruta.
Medo que ofusca: luz!
o jovem felino seguir para a frente farejando o vento
ao sair, a primeira vez, da gruta.
Medo que ofusca: luz!
Cumplicemente,
as
folhas contam-te um segredo
velho
como o mundo:
Adolescente,
olha! A vida é nova...
A
vida é nova e anda nua
-
vestida apenas com o teu desejo!
Lindo, Lindo esse post!
ResponderExcluirParabéns!
Bonito e com uma visão muito acurada.
Adorei a comparação.
Abraços
Alexandre
Obrigada Alexandre!
ResponderExcluirEntendo muitas coisas por comparações. Às vezes funciona!rs
Abração!