sábado, 16 de fevereiro de 2013

O adolescente.

Estava lembrando esses dias, não sei bem por que motivos, de uma conversa que tive com alguém sobre crianças e adolescentes. A pessoa me falava o quanto gostava de crianças e eu me perguntei mentalmente porque eu preferia os adolescentes.
A criança é pura, é inocente, é dócil (ou deveria ser). Todo mundo diz isso, todo mundo sabe disse. O adolescente é arredio, é fechado, é resistente, sonega informações, é esquivo. Então, porque “preferir” um adolescente?

Observar uma criança pequena brincando é algo no mínimo interessante. Vê-la descobrindo o mundo a sua volta, tudo chama atenção, tudo quer pegar, tocar, sentir, colocar na boca. Difícil imaginar o que vai na cabecinha dela diante do mundo que é absolutamente todo novidades. (Eu mesma não me lembro detalhadamente de coisas que outros lembram com tanta normalidade. Acho que sempre fui de lembrar das sensações e impressões ao invés dos detalhes concretos, mas enfim.) A criança precisa e absorve um universo de informações o tempo todo, precisa de limites, de segurança, de carinho, de princípios, precisa dos pais.
Embora se veja o adolescente como algo "desgarrado", existe nele as mesmas características da criança, mas o leque de necessidades ou a intensidade delas passa por mudanças. Ser adolescente é lidar com a contradição o tempo todo e isso é, também, um universo de descobertas fantásticas. Ele precisa de limites, mas não mais os de quando era criança. Estes ele precisa quebrar para alcançar novos. Precisa de segurança, mas fundada em si mesmo, pra que possa escolher seu próprio caminho. Precisa de carinho (e como precisa de carinho. Ta pra nascer bicho mais carente que ser humano na adolescência), mas agora não somente o protetor. O carinho da confiança e da admiração. Precisa de princípios pra solidificar o caráter e claro, precisa dos pais, da amizade deles, cuja base é o respeito mútuos.
Tempos atrás me deparei com um poema do Quintana na sala de espera do meu terapeuta. Li pra mim, li pra ele, e chorei. O poema acordou uma saudade indescritível da sensação de se ter o mundo de possibilidades infinitas à frente e a garra da fé para alcançá-los. Isso é pra mim algo nítido e fantástico no adolescente: a paixão otimista pelo novo, e o ímpeto que desconhece o “não" e o "impossível” . É claro que existe dor e frustração (céus! como existe e como eu chorei!), mas existe sempre lá no íntimo a certeza de ser Fênix.
Creio que todo tdah, mais do que outras pessoas, têm e mantêm um adolescente cravado nas entranhas. Parece que os caminhos que se afunilam mais naturalmente na vida de um adulto permanecem tão abertos pra nós quanto nos eram na adolescência. A capacidade de ver além do concreto, de criar novas possibilidades, de intuir o que é invisível aos olhos. A ânsia pelo novo, a paixão com que se persegue certos sonhos e amores, a tragédia no fracasso e a teimosia de continuar tentando.

Não digo que todo adolescente seja (ou permaneça rs) assim. Mas gosto de pensar que pra mim, a adolescência foi como a do poema e que a vida, de certa forma, seguiu esse mesmo trilho...

O adolescente

A vida é tão bela que chega a dar medo.
Não o medo que paralisa e gela,
estátua súbita,
mas


esse medo fascinante e fremente de curiosidade que faz
o jovem felino seguir para a frente farejando o vento
ao sair, a primeira vez, da gruta.

Medo que ofusca: luz!



Cumplicemente,

as folhas contam-te um segredo

velho como o mundo:

Adolescente, olha! A vida é nova...
A vida é nova e anda nua
- vestida apenas com o teu desejo!

2 comentários:

  1. Lindo, Lindo esse post!
    Parabéns!
    Bonito e com uma visão muito acurada.
    Adorei a comparação.
    Abraços
    Alexandre

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  2. Obrigada Alexandre!
    Entendo muitas coisas por comparações. Às vezes funciona!rs
    Abração!

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