domingo, 29 de julho de 2012

Pó do Pilim pim pim.


A princípio eu achava que antidepressivos e afins eram poções viciadoras que deixavam a pessoa completamente out-of-the-universe, com olhos estatelados como ovo com gema mole.

Daí, dor vai, dor vem. Confusão vai, confusão vem. Desorganização vai, desorganização vem. Projetos inacabados vão e não voltam mais.
Remédios são reconsiderados. Tomamos um, tomamos outro, trocamos doses e funções. Pode ser voltado pra um problema, pode ser pra dois. (E sempre consideramos que pode ser pra nenhum também).
O tempo passa e é difícil não acreditar, em algum momento, que gastamos um suado dinheirinho com placebos. Ficamos hora bem, hora mal. E devo dizer que muito mais horas mal que bem. Então qual é a finalidade dessas porcarias?
Posso comer a língua com sal, mas a perseverança traz alguns frutos meio surpreendentes.
Meu irmão hoje olha pra mim e diz: “Puxa... como você é legal quando está bem da cabeça!”
Dei risada.
Estar bem da cabeça? Estar bem da cabeça...
Paro por um momento e lembro que tenho uma cabeça. (Já fazia um tempinho que ela não pesava, não gritava, não babava, não se debatia. Não arquitetava rotas de fuga, nem ameaçava se rolar corpo abaixo... Logo, me esqueci dela.).
Mas estava ali! Tão leve quanto um comprimido de Wellbutrin e de Neural juntos...






sexta-feira, 27 de julho de 2012

Postergação + Postergação = ...


Um casal de amigos irá viajar para os Estados Unidos. Me disseram isso com meses de antecedência, super alegres.

Uma amiga me emprestou um livro de “Inglês para Viagens” para uma das minhas aulas. Marquei algumas vezes com ela pra poder devolver o livro, mas claro, eu me esqueci. A primeira vez esqueci que tinha marcado com ela. A segunda vez esqueci de confirmar. A terceira, deixei pra responder um e-mail que ela me mandou sobre encontrá-la depois do trabalho e acabei não respondendo em tempo hábil. Por último, marcamos o horário, mas eu havia esquecido o celular pra ligar pra ela e saber o local exato. (E olha que maravilha: SE dessa vez eu tivesse levado o celular e ligado pra ela... eu teria esquecido o LIVRO!!! – Derrota!)


Daí um belo dia meu irmão chegou do trabalho e despejou umas coisas em cima do livro. (Nãooooooooooooo). Corri o chariots of fire, mas foi tarde demais. Amassou a capa.
Ok. Assim sendo... comprei outro livro, ficando agora com 2 exemplares.
Pensei: devolvo o livro novo e mando o antigo via correio pros meus amigos antes da viagem. Vai ser mais útil a eles do que a mim.

Mas ai, fala sério! A quem quero enganar?
Passei todos os dias da semana, durante mais de 1 mês, praticamente na frente do correio. Precisava só entrar pra perguntar valor de postagem e tal... mas eu sempre pensava: “hum... deve estar muita fila... ainda tem tempo. Depois eu passo aqui com mais calma.”
A fila que devia estar grande, eu que estava com fome, algum outro compromisso, enfim. Criei milhões de desculpas pra escapar de fazer algo que eu não queria: simplesmente fazer um breve desvio de caminho e perguntar qual o preço e prazo de entrega da postagem. (Um amigo tdah me disse uma vez – para meu imenso consolo -  que as coisas que mais lhe empatavam a vida eram também as mais simples de resolver, mas se tornavam um problema a ser postergado por serem chatas e demandarem uma atenção que ele não queria dar no momento – ou em momento algum. – Acho que ele tinha razão, em partes. Me parece que as coisas mais simples são as que mais postergamos).

Agora vamos à soma: o casal de amigos viaja em dois dias. Hoje passei no correio porque agora é tudo ou nada. A postagem demora 3 dias pra chegar.
Resultado final:
Eu estou com 2 livros sem a viagem + Eles estão com a viagem sem 1 livro + Minha amiga está sem o livro e sem a viagem =




domingo, 22 de julho de 2012

All you need is love

Eu estava conversando com uma amiga sobre o amor e a felicidade em um relacionamento. Para uma pessoa com problemas emocionais, o amor causa uma certa preocupação.
Aparentemente temos uma distinta incapacidade de autocontrole, ou o controle de certos aspectos do nosso comportamento. (Não estou dizendo que somos psicopatas, fazendo o que queremos sob a "desculpa" de um problema emocional). Podemos ser quentes e meigos, também frios e rudes. Nós podemos rir e contar piadas ou chorar e ficar melancólicos. Podemos estar presentes e de repente desaparecer. As oscilações de humor nos fazem uma montanha russa.
Além disso, somos intensos, o que significa que podemos entrar “numa briga” por quase tudo o que realmente acreditamos ou consideramos importante. Muitas vezes tive de explicar às pessoas que eu não estava com raiva ou qualquer coisa assim. Eu estava simplesmente falando com paixão sobre algo que me desperta paixão. É natural  expressar idéias de forma visceral, não é? Resposta: Não, não é. Para os iguais, talvez, porque estes seres mais “sensitivos”  percebem a diferença entre uma defesa empolgada de um ponto de vista, de uma reação estúpida e não inteligente do ponto em questão. Não existe visão mais concreta dessa situação que a de uma família italiana em uma reunião anual: eles argumentam, eles batem na mesa, eles gritam, eles ficam vermelhos, eles se abraçam apertado, e riem. Loucamente! Mas para uma pessoa de fora a visão é um tanto assustadora! E assim somos nós e nosso comportamento para com a pessoa que está ao nosso lado. (Somos assustadores.)

Minha amiga surgiu com a solução de ouro, dizendo que é apenas uma questão de “suavizar o áspero, suavizar é a palavra, mostrar e dizer as coisas certas", quais sejam: doçura, bondade, beleza e meiguice:

 - Oh querido, eu estou chorando porque eu ahn ... tive uma briga com o...cachorro da vizinha que não pára de latir ...! Mas eu te amo, eu te quero, eu preciso de você, eu te adoro! Me abrace forte meu super-homem!
- Oh querida, vem cá!

(Pausa para OH MY GODÍNES!)
Voltando. Concordo plenamente que falar sobre problemas de saúde é um problema. Eu realmente não acho que as pessoas deveriam começar relacionamentos com base nisso. Mas vamos ser Frank: o que neste mundo eu iria dizer durante um surto de lágrimas (além da coisa do cachorro)? "Oh querido, eu senti muito sua falta, por favor, me beija"? Outra sugestão dela foi dizer: "Eu estou indo pro mercado" - daí se chora horrores com os amigos pra voltar pro bonitão completamente recuperada! Outra seria ir ao banheiro, chorar com o rosto enterrado em uma toalha para evitar ruídos e, em seguida, sair e dizer que é um terrível resfriado (realmente não achamos que é possível cobrir com maquiagem um rosto muito vermelho).
Sim, sim, ser a namorada que molha a manga da camisa do namorado com lágrimas é chato, é cansativo, é deprimente. E não é isso que queremos em um relacionamento, é?
(Não, não é!)
Mas você sabe o quê? Pois é! Isso não funciona! Nós não podemos controlar as lágrimas quando querem sair sem razão alguma. Não podemos rir de forma convincente quando estamos cansados ​​de fazê-lo por muito tempo. Não podemos falar mansinho, quando é difícil até para respirar.
E não estou falando apenas de lágrimas, não. Estou falando dos outros comportamentos "perturbadores" que infelizmente nem sempre conseguimos controlar (apesar de grandes esforços e melhorias), tais como agressividade, impulsividade, irritabilidade, períodos anti-sociais e assim por diante, misturados com nossos traços de personalidade (forte, claro. Afinal de contas, somos fortes!). - É impossível ser uma Playboy bunny quando se está prestes a comer a própria mão pra evitar a probabilidade de bater em alguém. (E eu sei o que você, leitor, está pensando: "Todo mundo fica com raiva de tempos em tempos" ou "todo mundo fica anti-social às vezes, ou diz algo rude" É verdade, mas há uma diferença, sabe?                                                                                                        

                                 Fre        ci          e INTENSIDADE.
                                        quên    a

Você pode facilmente entender o que quero dizer se viver uma estreita relação afetiva com um TDAH por um tempo. Existe um esforço enorme pra evitar magoar a quem amamos. Exercer autocontrole é algo que almejamos e desejamos. Demonstrar que nos importamos, que estamos tentando. E quando falhamos, a dor e a culpa são realmente muito grandes - quer sejamos mulheres, quer homens).

Como "suavizar" isso? Acampar no banheiro? E ele (quem quer que "ele" seja) não iria perceber? E se não percebesse, bem... honestamente, que tipo de ser humano gostaríamos de ter ao nosso lado? (Um tapado, eu assumo, é absolutamente o que não queremos.).
Queremos homens fortes que amam mulheres que lutam pra serem fortes todos os dias, melhores todos os dias, merecedoras de amor, e a quem possam orgulhosamente dizer:

You see everything
You see every part
You see all my light
And you love my dark
You dig everything
Of which I'm ashamed
There's not anything to which you can't relate
And you're still here…”
(Everything - Alanis Morisset).

sábado, 21 de julho de 2012

Gênesi.

Retomando relações melodramáticas, entra novamente o ser-molde a quem agradeço a formação de 75% do meu eu. Do eu que sou hoje. Toda vez que essa palavra (eu) sai da minha boca, eu deveria lembrar... de onde ela veio.
- Quer comer o que?
- Eu? Eu... eu... ahn... deixa ver... eu... eu quero...
Por motivos de praticidade e saco a decisão é tomada por outro “eu” que não o meu.

- Onde quer ir?
- Eu? Ah... Onde você quer ir?
- Pode escolher. É sua decisão. Onde gostaria de ir hoje?
- Eu... onde... onde eu gostaria de ir hoje... eu gostaria de ir... eu... eu...
- Quer jantar na casa do Armandinho?
- (Acho que eu não queria isso) Hum... eu... é. Pode ser. (Querer agradar é uma nhaca!) E “lá vou eu, lá vou eu, Hoje a festa é na avenida. No carnaval da globo. Feliz eu tô de bem com a vida. Vem amor...”

- Que curso você tá pensando em fazer? Que profissão vai realmente seguir? O curso técnico ficou pra trás mesmo? E o de Inglês? A faculdade... você fez praticamente 4 anos, certo? Não vai realmente terminá-la? Não vai retomar? E a casa? Você queria se mudar, né? Ta juntando dinheiro pra isso ou pra algum outro projeto? Vai continuar tomando remédio? Como anda sua concentração, já consegue focar em coisas e levá-las a cabo? Já consegue terminar um projeto iniciado? O que pretende fazer da vida?
- Eu ahn... eu... eu... eu... Hein?!

Se existe uma pessoa na face desta terra que tem uma certa ojeriza em ser comparado comigo, este alguém é meu pai. E eis que num belo dia de sol, enquanto eu lavava a louça, música entrou pelos meus ouvidos (obs: frases entre parêntesis aqui são minhas).
- Filha... não tem nada pior do que não saber exatamente o que fazer (não?!?!) Preciso me encontrar. Saber o que realmente vou fazer da vida. Eu não queria continuar com o trabalho que tenho (como todos, aliás). Não é bom ficar sem opções, mas também não é bom ter muitas opções e não conseguir decidir por nenhuma. Pensei nisso. Ou talvez aquilo. Ou talvez... aquilo outro poderia ser. Péra... já estou abrindo muito o leque de novo! Eu... eu... eu tenho que focar!
(aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahahhahahahahahahha)

Pois é... daí vem meu eu. Ou deveria ser “nós”? Somos assim: muito parecidos mesmo. Ambos com projetos iniciados e abandonados, ambos com muitas perspectivas e desejos impossíveis, ambos em busca da adrenalina do novo, ambos com um medo terrível de errar que nos paralisa, ambos com grandes explosões de raiva por aquilo que poderia ter sido não ser, ambos com cérebros hiperativos, confusos, desorganizados e extremamente impulsivos que permite que nos movamos, mas sempre dentro de um nítido caos. Estamos sempre fazendo algo com a sensação de culpa, por estarmos deixando de lado tantas outras coisas. Frustração, desapontamento e MUITA insegurança, tão típicos no funcionamento TDAH.
O ponto que nos diferencia é que identifico essa “característica genética” e tenho a chance de tentar amenizá-la. Não se dá o mesmo com ele.

Hoje no açougue consegui um progresso:
- O que vai querer mocinha?
- Meio quilo de patinho moído. (na lata!)
Talvez um dia ele também peça assim, simples, sem dúvidas entre moída ou bife. Patinho ou contrafilé. Autônomo ou contratado. Hippie ou engravatado.
Se não pedir meio quilo de tudo moído, será também um grande progresso.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

quinta-feira, 19 de julho de 2012

"Um segundo dilúvio..."


O sobrevivente

Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema - uma linha que seja - de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.

Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.

Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de 
cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.

Os homens não melhoram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.

(Drummond.)



Esse post foi gerado por um e-mail que recebi:
“Mais uma noite sem dormir..... estou com os ollhos virados pra dentro da alma. Eles vasculham sem parar um tal de não sei o que. Não existe mais nada. Meu interior está vazio, oco, seco. Mas nada pára a busca... tem de haver algo, qualquer coisa que faça meu coração bater de volta. (...) Tomei tanto rivotril q estou estática. Não choro, mas o nariz não para de pingar. As lágrimas tem q sair por algum lugar.... é tanta dor... não sei como sobrevivo.... me enganando, me iludindo... mas nada acontece, nada muda. É sempre o mesmo eterno e ensurdecedor silêncio. A rotina que te leva a morte, ao assassinato dos sonhos e, já bem dizem que um homem está morto quando seus sonhos morrem. Então o q sou eu? O q sou eu? (Pausa para choro copioso, desta vez pelas fossas lacrimais...) Retomando: o q sobrou de mim? para o q? P continuar aki sentada, repetindo: ser ou não ser? eis a questão? ser, não ser, que me importa? nada mais me importa e faz muito tempo, meu coração secou de tal forma que eu não consigo respirar mais direito... isso é vida? isso é o que chamam viver? o q me falta? será q eu deveria me iludir como todo mundo? nãão, tudo ficará bem. é uma fase......maldita frase.Maldita fase. NÃAO É UMA FASE! não passa nunca. o pior é saber q vou terminar de te escrever, chorarei mais um pouco, dormirei e nada, absolutamente nada mudará. tudo estará do mesmo jeito amanhã.....”

Imagino que pra alguém que nunca passou por uma verdadeira crise depressiva (e de duração tão longa), ache um tanto absurdo e até certo ponto, ridícula essas palavras. Afinal, pra que ficar remoendo tristezas, oras. Bola pra frente, otimismo! “Ta tudo dentro da sua cabeça!”.
E é verdade. O problema realmente não é externo. O externo afeta o funcionamento de quem sofre algum tipo de depressão, mas teoricamente a pessoa deveria ser capaz de lidar melhor ou de maneira mais saudável e menos autodestrutiva com o que ocorre a volta dela.
Além de muitos conselhos do tipo “faça algo que te dê prazer”, existem listas infindáveis de coisas que se pode fazer pra melhorar o quadro fossa (embora segui-las confira mais esperança que resultados propriamente ditos) como: comer sardinha, sementes, suco de uva-maçã-maracujá plus camomila, tomar sol (que bom que é inverno), técnicas de respiração, ouvir música clássica e por aí vai...
Mas quando o negócio tá mal, mal mesmo, pode bater sardinha com sementes, regadas a suco de tudo, plus camomila, e virar tudo goela abaixo, debaixo do sol, respirando fundo, ao som de música clássica: nada. Nada uma ova! Na ausência de alívio, entra o desespero, que pode levar a pessoa a convulsionar por respiração curta e acelerada em meio ao choro.
Algo natural como respirar, comer, dormir, acordar, trabalhar, amar... assim: como cai a folha e brota a flor, deixa de existir. 
A cabeça anda às voltas por conta e vontade próprias. E às vezes só que o se pode realmente fazer é contar com amigos, médico, remédios... E esperar.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

"onde tudo pode acontecer..."

Um dos sintomas alistados em testes de avaliação preliminar do TDA é: "Distrai-se com muita facilidade com coisas à sua volta ou mesmo com seus próprios pensamentos, parecendo muitas vezes "sonhar acordado".

Ok. Isso é literal. É literalmente literal.
Lembrei de uma conversa que tive com uma amiga meses atrás, que ilustra a conseqüência que isso tem às vezes, quando o problema é agudo: 
- Oi. Eu estou sentada na cadeira... são 22 horas, 23:00... eu estou cansada, mas saber que tenho que levantar, ir ao banheiro, fazer xixi, escovar os dentes, tomar remédio, me mantém sentada na cadeira, estática.
- Isso não é nada! Comigo acontece no vaso. Só de saber que tenho de levantar, entrar no chuveiro, tomar banho, colocar a roupa... fico sentada no vaso, estática.

Sim. O “simulador de vida” dentro da cabeça tem tudo que existe na vida real e mais um monte de tralhas. Dias inteiros passam por esse “simulador”. Viajamos de Troller, pegamos onda, discutimos, abraçamos, trabalhamos muito, gargalhamos e choramos loucamente. Viver as coisas “mentalmente” parece ser quase uma ação compulsiva e muito difícil de controlar, exatamente porque “viajamos” quando nos distraímos e nos distraímos porque viajamos! (Frustrante!!!)
O bom de só "imaginar" coisas é que podemos falar qualquer coisa a qualquer hora pra qualquer um. E podemos “prever” certas situações e como nos sentiríamos nelas.
Mas constatar que corremos no parque, mas as pernas não se moveram, que terminamos um trabalho que nem sequer começamos, que fizemos um curso e não aprendemos nada, que viajamos mas não temos fotos pra lembrar, pode ser bem difícil. Agora, quando é com pessoas, aí sim temos um verdadeiro e doloroso problema: rimos com alguém que não ouviu a piada, demos um presente a alguém que não o recebeu, abraçamos alguém que não sentiu o abraço, dissemos coisas a alguém que só nós escutamos...

Pra mim, entender esse “sintoma” e poder explicá-lo às pessoas que amo foi muito importante e o maior dos alívios. Passei a entender que preciso dizer-lhes na vida real o quanto eu realmente as amo, o quanto são importantes e que não sou indiferente a elas. O remédio é outro aliado. Ele funciona quase como um alfinete, que estoura o balão antes que ele se perca completamente nas nuvens...

Aproveito também para agradecer muito aos meus amigos que mui pacientemente não se esqueceram de lembrar de mim e que muitas vezes foram me buscar mesmo lá, bem longe... no mundo da neura, no mundo da confusão, no mundo da tristeza, no mundo da lua... 

sexta-feira, 6 de julho de 2012

"Especial para mulheres..."

A pia, ao que me parece, é um lugar universal de reflexão. (Pode lá parecer coisa de mulherzinha de avental florido e pantufas, que me importa?! Se querem saber o mundo é mais amável com elas do que com as que vestem camisa e salto agulha pra ir trabalhar).
Voltando à pia, não sei exatamente o que ela tem. Talvez a água que escorre pela torneira seja um convite companheiro e solidário à água que quer escorrer pelos olhos. É como o primeiro dia de terapia. Aquele em que temos de responder a fatídica pergunta: “o que te traz aqui?” - sinal silencioso de que podemos começar a embargar. É um lugar seguro: o que acontece na pia, fica na pia. Ou vai pelo ralo. E assim foi: um prato, uma lágrima. Um copo, um gemido. Os talheres, os soluços.
(TPM DESGRAÇAAAADA!!!).
Limpei o rosto!
“Oras, pelo amor! Onde está sua dignidade criatura de Deus?! Água, água no rosto! Ai... to bem!”
Melhor passar pano no chão. Fui pro tanque molhar o pano...
Buááááhahahahaha Ah...Buáhahahaha!!!
“Pronto, pronto! To bem... tudo vai ficar bem”.
Pano vai, pano vem... o cheiro de cloro se espalhando pelo ar... - minha família é macho! Aqui é cloro puro! Não usamos produtinhos feitos pra dar perfume na casa!
Bem, cozinha limpa, louça lavada. Agora era a vez do quarto (jogar água no banheiro seria o dilúvio).
Houve um certo alívio nessa hora, porque tenho conseguido manter uma certa rigidez comigo mesma. Já perdi as contas de quantas vezes chorei no meio de pilhas de coisas que não sabia de onde vinham nem para onde iam. O caso é de tal magnitude que existe gente ganhando muito dinheiro oferecendo coaching pra TDAs desesperados. O IPDA, por exemplo, oferece “Coach para gerenciamento da vida doméstica e familiar (especial para mulheres)”.  - O grifo é nosso. Demais, demais! Sim, sim, nós mulheres temos algo especial, com certeza!  hahahha 
Enfim... limpei o quarto, lavei roupa e coloquei as do guarda roupa pra tomar sol.
Dever cumprido. Hoje eu poderia ter sido uma fotógrafa de zonas de guerra, uma escritora de dramas psicológicos, uma vedete à la Belle Époque...
Mas eu fui uma exemplar dona de casa!
(Ok... com TPM histérica e neurótica. Mas fui!)

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Sorria, meu bem. Sorria!!!

Por que algumas pessoas falam tanto, tantas coisas, tantas palavras que faz o tempo correr e não têm propósito algum?
Normalmente começa assim:
“Você não sabe! Meu primo vai casar! Sério!
Assim... tudo começou quando meus tios se conheceram. Era uma linda tarde de verão e fazia muuuito calor! Foi no ano de... de... ai... quando meu Deus... 1940? Não... 1942? Não, não... acho que foi 1940... então... minha tia era uma megera e deu o golpe no meu tio... “
E aí a história do primo vira a história dos tios, dos avós, dos cunhados, do cachorro do vizinho e da própria pessoa que está contando! E sempre se fala mal de alguém! (E o pior... quando conhecemos os envolvidos... vá lá! Mas essas coisas sempre acontecem com quem não sabemos nem se é feio ou bonito).

Tem também aquelas histórias piada-não-engraçada que quando alguém começa a contar, a gente já vai preparando a risada. (o ponto é só saber quando entrar).  Depois de uma, duas, três, vinte, trinta mil dessas, já me esqueço de tirar o sorriso da cara. Qual não foi a surpresa quando certo dia, já terminada a sessão delas, entrei no banheiro e, ao me olhar no espelho, vi o rosto do Coringa. Simplesmente não percebi que meus músculos faciais ainda estampavam um insano big sorriso.


(No caso dos TDAs, muitas vezes, quando o assunto não exige nossa participação ou contribuição ativa, ou quando não somos "úteis" ao que está sendo dito, ou quando este se delonga demais sem propósito ou perspectiva de fim, torna-se muito difícil manter o foco e quanto mais se tenta, maior o cansaço.
Vale lembrar que, para uma mente que já naturalmente produz zilhões de histórias e repassa zilhões de fatos o tempo todo, quase que incontrolavelmente, como um "chiado cerebral" ou um "motor de automóvel desregulado", coordenar e sincronizar informações "internas" com a enorme quantidade de informações "externas" que captamos, causa um inevitável e mui considerável desgaste mental - às vezes quase ao ponto da exaustão.) - Mentes Inquietas.

Não estou dizendo que não gostamos de histórias ou de ouvir pessoas. (Amo varar noite batendo papo com amigos, ouvir coisas engraçadas, ou escutar quem quer dividir um problema).
Mas existem horas e situações em que é preciso (e necessário) simplesmente “ouvir esse silêncio meu amor... no lado esquerdo do peito, esse tambor “.
(Arnaldo Antunes)

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Sim eu façoooo...


Tenho de fazer uma tradução envolvendo vocabulário de business.
O problema é: eu não gosto de business. Pra fazer juz à verdade, eu detesto! Quanta adrenalina meu cérebro produziria ao descobrir o significado de A.M.G (Annual General Meeting) , de O.H.T. (overhead transparency) ou A.O.B - fácil confundir com OAB, não? – (Any Other Business)?
Resposta: o único jato de adrenalina produzido viria quando meu supervisor me chamasse atenção para o erro número 236782 por pura falta de atenção, sonolência ou tédio.
Pelo menos pra mim, trabalhar em escritório foi sofrido. Uma agrura, um suplício, praticamente um autoflagelo! Exagero?! Pois eis o que eu fazia (de verdade!): chegava naquele prédio monstro e gelado, sentava em minha baia, onde permaneceria pelas próximas 8 horas de vida e mandava um e-mail pra mim mesma, no endereço de e-mail pessoal, com as seguintes palavras:
“Se você ler isto em casa, significa que você sobreviveu mais um dia.”
Ficar 8 horas sentada no mesmo lugar, fazendo a mesmíssima coisa, todo santo dia? Há quem lute bravamente eu eu admiro muitíssimo! Mas o tédio mata minha gente!
É por isso que todas as vezes que tenho de lidar com algo relacionado a ‘bizines’ (ou, na verdade, com qualquer coisa que realmente não me desperte o mínimo interesse) visto o uniforme vermelho:
- Sim eu façoo...
- Anda Chapolin...
- Sim... é... Sim eu façoo....
- Vamos lá Chapolin!
- Tá bem... Sim eu façooooo...

Mas! Aí acaba o prazo! É barata voa:
- Oh! meu Deus! O que farei? O que farofa?!?!

HÁ! Agora sim: adrenalina corre, suor escorre, trabalho feito.

(Se existe um Chapolin dentro de mim, aposto que esse tonto é TDA...)