- Quer comer o que?
- Eu? Eu... eu... ahn... deixa ver... eu... eu quero...
Por motivos de praticidade e saco a decisão é tomada por
outro “eu” que não o meu.
- Onde quer ir?
- Eu? Ah... Onde você quer ir?
- Pode escolher. É sua decisão. Onde gostaria de ir hoje?
- Eu... onde... onde eu gostaria de ir hoje... eu gostaria
de ir... eu... eu...
- Quer jantar na casa do Armandinho?
- (Acho que eu não queria isso)
Hum... eu... é. Pode ser. (Querer agradar é uma nhaca!) E “lá vou eu, lá
vou eu, Hoje a festa é na avenida. No carnaval da globo. Feliz
eu tô de bem com a vida. Vem amor...”
- Que curso você tá
pensando em fazer? Que profissão vai realmente seguir? O curso técnico ficou
pra trás mesmo? E o de Inglês? A faculdade... você fez praticamente 4 anos,
certo? Não vai realmente terminá-la? Não vai retomar? E a casa? Você queria se
mudar, né? Ta juntando dinheiro pra isso ou pra algum outro projeto? Vai
continuar tomando remédio? Como anda sua concentração, já consegue focar em
coisas e levá-las a cabo? Já consegue terminar um projeto iniciado? O que
pretende fazer da vida?
- Eu ahn... eu...
eu... eu... Hein?!
Se existe uma
pessoa na face desta terra que tem uma certa ojeriza em ser comparado comigo,
este alguém é meu pai. E eis que num belo dia de sol, enquanto eu lavava a louça,
música entrou pelos meus ouvidos (obs: frases entre parêntesis aqui são minhas).
- Filha... não
tem nada pior do que não saber exatamente o que fazer (não?!?!) Preciso me encontrar.
Saber o que realmente vou fazer da vida. Eu não queria continuar com o trabalho
que tenho (como todos, aliás). Não é bom ficar sem opções, mas também não é bom
ter muitas opções e não conseguir decidir por nenhuma. Pensei nisso. Ou talvez
aquilo. Ou talvez... aquilo outro poderia ser. Péra... já estou abrindo muito o
leque de novo! Eu... eu... eu tenho que focar!
(aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahahhahahahahahahha)
Pois é... daí vem
meu eu. Ou deveria ser “nós”? Somos assim: muito parecidos mesmo. Ambos com
projetos iniciados e abandonados, ambos com muitas perspectivas e desejos impossíveis, ambos em busca da adrenalina do novo, ambos com um medo terrível de
errar que nos paralisa, ambos com grandes explosões de raiva por aquilo que
poderia ter sido não ser, ambos com cérebros hiperativos, confusos, desorganizados
e extremamente impulsivos que permite que nos movamos, mas sempre dentro de um
nítido caos. Estamos sempre fazendo algo com a sensação de culpa, por estarmos
deixando de lado tantas outras coisas. Frustração, desapontamento e MUITA
insegurança, tão típicos no funcionamento TDAH.
O ponto que nos
diferencia é que identifico essa “característica genética” e tenho a chance de
tentar amenizá-la. Não se dá o mesmo com ele.
Hoje no açougue
consegui um progresso:
- O que vai
querer mocinha?
- Meio quilo de
patinho moído. (na lata!)
Talvez um dia ele
também peça assim, simples, sem dúvidas entre moída ou bife. Patinho ou
contrafilé. Autônomo ou contratado. Hippie ou engravatado.
Se não pedir meio
quilo de tudo moído, será também um grande progresso.
Cara, sou sua fã!!! Te amooo!!!!!!! Vc escreve mtooo bemmm
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