O sobrevivente
Impossível compor um poema a essa
altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema - uma linha que seja - de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de
cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.
Os homens não melhoram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.
Impossível escrever um poema - uma linha que seja - de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de
cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.
Os homens não melhoram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.
(Drummond.)
Esse post foi gerado por um e-mail
que recebi:
“Mais uma noite sem dormir.....
estou com os ollhos virados pra dentro da alma. Eles vasculham sem parar um tal
de não sei o que. Não existe mais nada. Meu interior está vazio, oco, seco. Mas
nada pára a busca... tem de haver algo, qualquer coisa que faça meu coração
bater de volta. (...) Tomei tanto rivotril q estou estática. Não choro, mas o
nariz não para de pingar. As lágrimas tem q sair por algum lugar.... é tanta
dor... não sei como sobrevivo.... me enganando, me iludindo... mas nada
acontece, nada muda. É sempre o mesmo eterno e ensurdecedor silêncio. A rotina
que te leva a morte, ao assassinato dos sonhos e, já bem dizem que um homem
está morto quando seus sonhos morrem. Então o q sou eu? O q sou eu? (Pausa para
choro copioso, desta vez pelas fossas lacrimais...) Retomando: o q sobrou de
mim? para o q? P continuar aki sentada, repetindo: ser ou não ser? eis a questão?
ser, não ser, que me importa? nada mais me importa e faz muito tempo, meu
coração secou de tal forma que eu não consigo respirar mais direito... isso é
vida? isso é o que chamam viver? o q me falta? será q eu deveria me iludir como
todo mundo? nãão, tudo ficará bem. é uma fase......maldita frase.Maldita fase.
NÃAO É UMA FASE! não passa nunca. o pior é saber q vou terminar de te escrever,
chorarei mais um pouco, dormirei e nada, absolutamente nada mudará. tudo estará
do mesmo jeito amanhã.....”
Imagino que pra alguém que nunca
passou por uma verdadeira crise depressiva (e de duração tão longa), ache um
tanto absurdo e até certo ponto, ridícula essas palavras. Afinal, pra que ficar
remoendo tristezas, oras. Bola pra frente, otimismo! “Ta tudo dentro da sua
cabeça!”.
E é verdade. O problema realmente
não é externo. O externo afeta o funcionamento de quem sofre algum tipo de
depressão, mas teoricamente a pessoa deveria ser capaz de lidar melhor ou de
maneira mais saudável e menos autodestrutiva com o que ocorre a volta dela.
Além de muitos conselhos do tipo “faça
algo que te dê prazer”, existem listas infindáveis de coisas que se pode fazer
pra melhorar o quadro fossa (embora segui-las confira mais esperança que
resultados propriamente ditos) como: comer sardinha, sementes, suco de
uva-maçã-maracujá plus camomila, tomar sol (que bom que é inverno), técnicas de
respiração, ouvir música clássica e por aí vai...
Mas quando o negócio tá mal, mal
mesmo, pode bater sardinha com sementes, regadas a suco de tudo, plus camomila,
e virar tudo goela abaixo, debaixo do sol, respirando fundo, ao som de música clássica: nada.
Nada uma ova! Na ausência de alívio, entra o desespero, que pode levar a pessoa
a convulsionar por respiração curta e acelerada em meio ao choro.
Algo natural como respirar, comer,
dormir, acordar, trabalhar, amar... assim: como cai a folha e brota a flor,
deixa de existir.
A cabeça anda às voltas por conta
e vontade próprias. E às vezes só que o se pode realmente fazer é contar com
amigos, médico, remédios... E esperar.
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