sábado, 21 de julho de 2012

Gênesi.

Retomando relações melodramáticas, entra novamente o ser-molde a quem agradeço a formação de 75% do meu eu. Do eu que sou hoje. Toda vez que essa palavra (eu) sai da minha boca, eu deveria lembrar... de onde ela veio.
- Quer comer o que?
- Eu? Eu... eu... ahn... deixa ver... eu... eu quero...
Por motivos de praticidade e saco a decisão é tomada por outro “eu” que não o meu.

- Onde quer ir?
- Eu? Ah... Onde você quer ir?
- Pode escolher. É sua decisão. Onde gostaria de ir hoje?
- Eu... onde... onde eu gostaria de ir hoje... eu gostaria de ir... eu... eu...
- Quer jantar na casa do Armandinho?
- (Acho que eu não queria isso) Hum... eu... é. Pode ser. (Querer agradar é uma nhaca!) E “lá vou eu, lá vou eu, Hoje a festa é na avenida. No carnaval da globo. Feliz eu tô de bem com a vida. Vem amor...”

- Que curso você tá pensando em fazer? Que profissão vai realmente seguir? O curso técnico ficou pra trás mesmo? E o de Inglês? A faculdade... você fez praticamente 4 anos, certo? Não vai realmente terminá-la? Não vai retomar? E a casa? Você queria se mudar, né? Ta juntando dinheiro pra isso ou pra algum outro projeto? Vai continuar tomando remédio? Como anda sua concentração, já consegue focar em coisas e levá-las a cabo? Já consegue terminar um projeto iniciado? O que pretende fazer da vida?
- Eu ahn... eu... eu... eu... Hein?!

Se existe uma pessoa na face desta terra que tem uma certa ojeriza em ser comparado comigo, este alguém é meu pai. E eis que num belo dia de sol, enquanto eu lavava a louça, música entrou pelos meus ouvidos (obs: frases entre parêntesis aqui são minhas).
- Filha... não tem nada pior do que não saber exatamente o que fazer (não?!?!) Preciso me encontrar. Saber o que realmente vou fazer da vida. Eu não queria continuar com o trabalho que tenho (como todos, aliás). Não é bom ficar sem opções, mas também não é bom ter muitas opções e não conseguir decidir por nenhuma. Pensei nisso. Ou talvez aquilo. Ou talvez... aquilo outro poderia ser. Péra... já estou abrindo muito o leque de novo! Eu... eu... eu tenho que focar!
(aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahahhahahahahahahha)

Pois é... daí vem meu eu. Ou deveria ser “nós”? Somos assim: muito parecidos mesmo. Ambos com projetos iniciados e abandonados, ambos com muitas perspectivas e desejos impossíveis, ambos em busca da adrenalina do novo, ambos com um medo terrível de errar que nos paralisa, ambos com grandes explosões de raiva por aquilo que poderia ter sido não ser, ambos com cérebros hiperativos, confusos, desorganizados e extremamente impulsivos que permite que nos movamos, mas sempre dentro de um nítido caos. Estamos sempre fazendo algo com a sensação de culpa, por estarmos deixando de lado tantas outras coisas. Frustração, desapontamento e MUITA insegurança, tão típicos no funcionamento TDAH.
O ponto que nos diferencia é que identifico essa “característica genética” e tenho a chance de tentar amenizá-la. Não se dá o mesmo com ele.

Hoje no açougue consegui um progresso:
- O que vai querer mocinha?
- Meio quilo de patinho moído. (na lata!)
Talvez um dia ele também peça assim, simples, sem dúvidas entre moída ou bife. Patinho ou contrafilé. Autônomo ou contratado. Hippie ou engravatado.
Se não pedir meio quilo de tudo moído, será também um grande progresso.

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