Não quero devanear.
Não quero sonhar.
Sonhos são impulsionadores.
Não. Sonhos são paralisadores.
Sonhos são grades, apartadores de realidade.
Não quero devanear.
Não quero sonhar.
Não quero parar, nem congelar, nem estagnar.
Eu quero viver! Meu Deus eu quero viver.
Quero que a engrenagem gire.
Quero começar e quero terminar.
Quero sentir vontade e colocar em ação.
Quero esquecer o que "por hora não dá" e quero lembrar quando der.
Quero fazer o que der. Quero agir o que der. Quero executar o que der.
Não quero planejar, concretizar e curtir em sonho.
Tudo começa com um sonho.
Não. Tudo se perde com um sonho.
Sonhar, pra mim, é perigoso.
É nele que tudo começa a morrer, sonhos e mais sonhos todos se engolem.
Sonhar é bom, não digo que não.
Mas não quero mais sonhar.
Eu quero viver. Meu Deus eu quero viver.
O problema é que sonhos são grades, e estou do lado de dentro.
Como sair? Como fugir?
Sonhos são como laços, como cordas, como cheiro entorpecente, como isca viva.
Mal percebi e tchan! Pega de novo.
Estou no meio de uma ação, e olho pro lado.
E tudo se vai, tudo se perde, não sei mais o que estava fazendo, nem por que, nem como.
Não quero mais sonhar.
Não quero mais devanear.
Eu quero viver. Meu Deus eu quero viver.
Quero descer. Quero descer das alturas.
Quero caminhar na terra firme.
Se os sonhos forem minha pedra no meio do caminho, então quero tropeçar e seguir.
Nem que seja rolando.
'Na busca da vida dentro da vida está o impulso mais forte de todo TDA. Pra eles, tudo é MUITO. Muita dor, muita alegria, muito prazer, muita fé, muito desespero.' - (Mentes Inquietas) Quando não cabemos mais em nós mesmos, parte de nós tem de vir pra fora. Assim nasceu o blog. Bem vindo a todos que, em algum momento - ou em muitos - não couberam mais dentro de si mesmos. "Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém." Clarice Lispector.
segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
sexta-feira, 8 de novembro de 2013
Organizando-se para se organizar.
Faz uns dois anos mais ou menos que o GTD, ou “Getting
Things Done” chegou às minhas mãos, ou à minha caixa de entrada de e-mails. Meu
namorado (hoje ex) me ligou empolgadíssimo com a nova descoberta feita em uma
palestra em sua empresa. Era algo pros neurônios anelarem, já que sempre foi
amante inveterado da tecnologia como ferramenta para aprimorar a organização,
eficiência e dar conta de seu refinado perfeccionismo.
E olha como as coisas vem a calhar: uma namorada recém-descoberta
desorganizada crônica, perdida completa, no tempo, no espaço, na vida. Acho que quando
ele ouviu falar em algo pra ajudar a organizar a vida com o mínimo de esforço,
deve ter se sentido como um cavaleiro num mangalarga, trazendo o antídoto pras
desgraças da amada (seria o fim de muitos problemas e teria a
enoooorme gratidão da beneficiada – no caso, eu). Lendo suas palavras, achei
que valia à pena conferir: “Eu por ser organizado, fico estressado com esse
assunto, com organizar e etc... Mas esse método faz exatamente com q as
coisas fiquem sob controle, porém sem estresse! "
Quando abri o e-mail e vi a explicação ENORME do processo:
setas e linhas e traços e quadrados pontilhados e não pontilhados... minha cara
foi essa aí do lado:
M e u D e u s...
Por que essas explicações sobre minimalismos e simplificação
de vida ajudam taaantas pessoas a ter uma vida livre leve e solta... e pra
mim.. que tanto precisaria minimamente de um guia mínimo de organização... não
consigo nem sequer ler, LER a explicação?! Começo a me embananar toda com os
nomes e categorias de cada tipo de tarefa que nem lembro mais quais eram as ditas. E aquilo vai me dando uma raiva porque penso que, se aquilo era pra
ajudar a organizar, por que raios me ajuda a desorganizar a linha de raciocínio?
Devo mesmo ser muito tapada, pois quanto mais tentava me concentrar na explicação
do método, mais desespero me dava, e mais irritada eu ficava, e mais desapontado
e indignado meu ex se mostrava (coitadinho).
Ok... eu sei que este pequeno fluxograma (eu ODEIO essa
palavra) é algo que, com um pouquinho de paciência pode ser muito prático e
útil. Mas a começar pela primeira pergunta à informação que chega:
“Requer uma
ação?” (Bem... talvez sim, talvez não... ehrrr). Se sim, “Exige mais que uma ação”
(Ehrr, deixa ver...). Se não, “Vale à pena guardar?” (Se vale? Acho que não...
mas talvez sim, será que jogo fora? Ou será que espero pra ver?). Se exige mais
de uma ação, aquilo vai pra "Projetos" e então tenho de "planejar ações necessárias",
como uma "lista de ações a tomar"... “Leva mais de 2 minutos pra executar?" (Sei lá!).
Se não, "sou a pessoa certa pra isso" ou devo "delegar"? (Mas pra quem?!?!?!)...
Ok... só até aqui eu já teria gasto umas três horas (entre
pausas e postergações sofridas) só pra decidir sobre 1, uma, I tarefa! E
obviamente eu teria vontade de refazer minhas decisões dentro de algumas horas
ou dias, ou aquilo tudo ia perder completamente o sentido e acabaria num latão
de lixo.
Queria conseguir usar algo feito pra determinado fim, para
determinado fim (e com sucesso). Mas... acabei imprimindo o fluxograma e usando
o verso como rascunho. ¬¬
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
TDAH é chamariz de calote.
Temos cara de quem procura ser feito de trouxa?
Às vezes acho que sim. Essa... ojeriza de burocracia, de
resolver pequenos e simples problemas quando surgem, essa postergação e asco de
ao menos parar um minuto pra analisar o que fazer com algo que nos incomoda, que
nos dá prejuízo, que nos rouba... nos torna mui desejáveis aos calotes. Rs
Quando vamos provar que nos devem... espere... cadê a nota
fiscal? Cadê os papéis com os registros de pagamentos pendentes? Cadê a certeza
acreditável de que já foi pago? (Mas foi? Não! Pera aí! Não foi não! Tenho certeza
que não foi pago!)
-“Ah! Mas você sempre esquece tudo! É mais provável que você
tenha esquecido que recebeu do que eu ter esquecido que não paguei...”
E agora? Diante da clássica verdade (dos esquecimentos e não
dos pagamentos)... é enfiar o rabo entre as pernas e amargar mais uma vez o
fato de não ter registro de nada, não ter se preocupado com nada e agora... só
o buraco pra cobrir como de costume. Bem feito!
E quando deixamos de deixar muito claro e especificado os “termos
de um contrato”? Achamos que nada vai dar errado, que não tem porque ratificar
ainda mais a maldita burocracia que tanto nos irrita, que a pessoa com quem
lidamos tem “senso”. Pois é... ela não tem. Esquecemos de explicar, esquecemos
de perguntar, esquecemos de nos certificar e BAM! Cadê a pessoa? Ou cadê o
pagamento? Ou cadê ao menos uma explicação? Uma satisfação? Um alô? Hahahahhahaha
Tomaaaaaaaa!!!!
Investidores deveriam procurar mercados de TDAHs... iriam
ganhar rioooos de dinheiro! Imaginem! Uma colmeia de trouxas dando até a roupa
do corpo pra compensar a perda de papéis, contratos, notas, registros, por postergar e evitar pequenos aborrecimentos, confrontos, cobranças...
Recebemos um abacaxi e ainda pagamos o pato.
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
Enxurrada de imagens.
Clareza.
Desenvolvi já faz algum tempo um conceito e carinho
especiais por essa palavra. Clareza... Clareza...
Solidez também. Solidez de pensamento, solidez de espírito...
Solidez.
Ter clareza e solidez é mais do que organizar pensamentos. Mais
do que conter ansiedades.
Ter clareza e solidez é tentar impedir que o milho estoure
com o calor do fogo. Cada milho que estoura é uma imagem que pipoca na mente. São
milhares, pipocando o tempo todo. Imagens. Imagens. Imagens com significados,
sensações, sentimentos.
Como estar em paz? Paz é tão bom, tão bom sentir paz. Como estar
em paz com o momento presente, com a lembrança passada, com o plano futuro se
as imagens... Ah! as imagens... elas não sabem presente, passado, futuro. Não
sabem ordem nem progresso. Nem hora nem lugar, nem bom nem mau. Elas só sabem
existir.
Como fechar os olhos e escolher uma imagem apenas? Uma voz
apenas? Uma pergunta? Uma resposta...? Como?
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Todo deprimido precisa de um incentivo de manhã.
Acordar tarde e deprimido é assim. Sonha sonha sonha que de
manhã não chegou. Abre o olho e vê que o mundo cobra seu estar bem, disposto,
de pé, feliz, ativo, executivo, pró-ativo. Fecha olho, levanta, pega remédio, pensa em tomar tudo, pega o um
e meio comprimido e bebe enquanto faz um copo de requeijão de café e bebe. Embarga
um pouco, lamenta solidão, o efeito do café começa a aparecer. (Sim, do café!)
Livra-se do pijama. Brincos e creme no rosto, rímel e batom.
A música migra de alguma sad-melancolic-romantic pra uma Britney-em-sua-fase-vaca.
quinta-feira, 3 de outubro de 2013
Luta pela autodisciplina
Aplicando a autodisciplina:
Vou corrigir a prova. 8:00 hrs
Abro a gaveta pra pegar caneta. Vejo uma revista de
catálogo.
NÃO!
Vou - corrigir - a - prova.
Olho a prova. Olho pro lado. Pego o celular. Queria
conversar com alguém. Vou mandar uma msg pra uma amiga!
NÃO!
Vou - corrigir - a - prova.
Olho a prova. Número 1. Eu tinha que mandar uns comics pra
esse aluno. É legal treinar com tirinhas do Calvin... Vou procurar alguma legal
no Go comics...
NÃO!
Vou - corrigir - a - prova.
Número 1. Hum, Blá.. ok... ok... Certo! Número 1 certo. To
com sede. Ta frio... chá ou chocolate? Talvez um pãozinho também...
NÃO!
Vou - corrigir - a - prova. Número 2. Hum... ok... ok... ok... Será que alguém
me mandou algum e-mail? Pode ser importante. Melhor checar!
NÃO!
Vou - corrigir - a - prova. Número 2 continuando... bla da
ok ok ok Certo! Que bom. Número 3, letra A. “Plim”. Mensagem! Alguém me mandou
uma mensagem! Checando... É minha amiga! Vou responder rapidinho.
NÃO!
Vou - corrigir - a - prova. Letra A!!! Certo, certo, certo,
errado, errado... Hein?! Que é isso? Que é que tá escrito aqui??? Arghh! Vou ao
banheiro. Aliás... eu precisava lavar o banheiro. Acho que acabou a cândida.
Aproveitava e comprava papel também...
NÃO!
Vou - corrigir - a - prova. Número 3 letra B. Certo, certo,
não sei o que é esse rabisco, certo, errado, rabisco, errado, rabisco, meio
certo! Que dooor nas costas. Preciso me exercitar mais. Queria fazer dança.
Ajuda o corpo, ajuda a alma, ajuda na deprê... falando em deprê, preciso marcar
minha consulta, meus remédios estão acabando e eu realmente preciso falar pra
ele que tenho me sentido muito pra baixo ultimamente. Um enorme cansaço mental
e físico. Tenho perdido algumas noites de sono também, e minha “fobia” de
pessoas parece atacar novamente. Praticamente tudo que se faz na vida envolve
contato com pessoas, o que é absolutamente saudável! Como levar a vida com medo
de gente?! Vou dizer a ele que isso está me incomodando sobremaneira. Meu
Deus... esse mês não dá pra ir lá não. Muito caro, não estou bem das pernas
financeiramente. O que fatalmente me lembra que vou chegar lá e dizer que ainda
não comecei terapia pelo mesmo motivo. Mas minhas receitas estão acabando...
é melhor eu gastar com ele do que com um inicio de tratamento psicológico. Ai
que droga. Acho que não vou a lugar algum. Que saco. Vou levar a vida com minha
própria força de vontade!
Ah... mas a quem quero enganar, fala sério? Rs A quem? Nem
sei pra onde ir ou por onde começar. Aliás... você sabe sim Ana. Olha aí a
prova de que você não vai muito longe sozinha... querendo se boicotar hein?!
Você deveria começar por
CORRIGIR - A - PROVA!!!
N ú m e r o q u a t r o...
.
.
14:00 hrs (Após 6 horas de autodisciplina).
- Ana, parece que um caminhão passou por cima de você! Tá
com cara de quem passou a manhã inteira em cima de uma montanha de provas! Tá
quase vesga amiga!
- Sim, foi isso mesmo... E você acredita que a bendita tinha
QUATRO folhas?!?!
Frente E
verso!
Autodisciplina é tudo...
quinta-feira, 12 de setembro de 2013
Na órbita da Ritalina.
Estava eu na farmácia atrás do meu Neural (sim, eu tomo
estabilizador de humor), esperando pacientemente o farmacêutico muito educado e
prestativo ligar pra todas as redes da farmácia pra saber em qual unidade eu
encontraria o remédio.
Ao meu lado, um rapaz em seus 40 anos mais ou menos,
esperava outro atendente voltar com sua caixinha de medicamento. A resposta
foi:
- Sinto muito senhor, mas está em falta.
Ele olhou meio estático, pegou a receita novamente e saiu da
fila. Parou, voltou e perguntou ao atendente estendendo a receita novamente:
- É... que remédio é esse mesmo? (Pois é... provavelmente
ele não lembrava mais do nome do remédio que o médico falou e também não
conseguia entender a letra cuneiforme do mesmo).
Resposta:
- Ritalina.
(Rsrsrs)
A única coisa que pude dizer (não me contive) foi:
- É... tá difícil de achar mesmo.
sábado, 7 de setembro de 2013
Os dois pecados capitais
Há alguns meses (ou anos?) a revista Galileu publicou como
assunto de capa uma matéria sobre foco e a desumanidade de tentar fazer tudo ao
mesmo tempo com perfeição – o que transforma “não tdahs” em tdahs: sensação de
muito cansaço e pouco rendimento, além de muitos erros no pouco que foi feito.
Reabri a revista esses dias e recortei uma coluna com “Rituais
de Foco”. A segunda dica era pra fazer uma (a famosa!) lista de tarefas com
apenas 3 mais importantes e não parar até que a primeira estivesse 100% concluída.
Fui aplicar isso hoje, sendo a primeira a arrumação do meu quarto. Não foi 100%
concluído, mas dessa vez quase consegui. O ponto é que, arrumando o quarto, minha
cabeça foi conversando comigo. Olhando pela janela do quarto, o jardim ensolarado,
céu azulzinho e a sensação de que a vida é tão grande, tão cheia de sensações,
liberdades... tão diferente da sensação de colocar calças no cabide...
Pensando nisso cometi o primeiro pecado capital: paralisei e viajei!
Retomei apenas pra cometer o segundo pecado capital: parei, sentei e comecei
outra tarefa nada a ver com a primeira: a de escrever sobre essas viagens.
Conversei com uma senhora semana passada e ela me disse que mesmo quando está no meio de pessoas, sorrindo e interagindo com elas, dentro de si, não consegue se sentir
parte daquilo, parte do ambiente. Assenti. Sempre achei a vida de antropólogo
das mais interessantes. Mergulhar num contexto qualquer, diferente de seu próprio,
aprender, absorver, misturar, vivenciar, fazer parte real daquilo e ainda assim,
não ser aquilo. E é tanta coisa pra vivenciar, é tanta experiência pra
absorver, é tanto universo pra compreender na pele, no gosto, no cheiro, que a arrumação do quarto me parece desprovida de propósito, ao menos agora, neste
momento.
Trechos de duas músicas descrevem melhor do que eu jamais
poderia, o que quero dizer:
“Que lugar me pertence
Que eu possa abandonar
Que lugar me contém
Que possa me parar...
(Kid Abelha)
me diga onde estou
não há tempo não há nada
que me faça ser quem sou”
segunda-feira, 2 de setembro de 2013
Pra que dinheiro?
"Não
sou nada.
Nunca
serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
Não
tenho nada.
Nunca
terei nada.
Não
posso querer ter nada.
À parte isso, tenho em mim todas as dívidas do mundo.
Momento revolta, com licença.
Dinheiro compra tudo.
Compra água, luz e telefone, comida, roupas, sapatos,
médicos bons, remédios bons, terapeutas bons, saúde boa, felicidade até.
O tempo passa, o tempo voa, e a cabeça da Ana continua
numa... Ahhhhhhh! X(
Incorporando a voz de dona Hermínea:
- GRALHAS malditas berrando dentro da minha cabeça, todas ao mesmo tempo me azucrinando a alma: calem seus bicooos! Não! NÃO tem médico, não. Hein?! Não! Remédio também não. NÃO! Nãooo tem terapia! Mamãe NÃO tem dinheiro, chega de
birraa! CHEGA!
Ah... que se matem! Eu vou encostar no barranco logo ali e
dar uma morridinha.
terça-feira, 13 de agosto de 2013
Cada escolha, uma desistência.
Sentei aqui e não sei por que cargas d’água resolvi escrever
sobre desistência. É, é ela mesma sim.
Nós temos interesses variados e escolhas inexplicáveis do
que desejamos aprender, exercer como profissão ou hobby certo? Certo. E não concluímos
nenhuma dessas coisas, certo? Certo. E ficamos assim, sendo um pouquinho de
cada coisa oou um pouquinho de nada, certo? Não sei.
Digo isso pela minha mais recente façanha. Sim, sim
salabim... fui me matricular num curso de modelagem e costura. Não parecia algo
pra mim, mas... saber costurar é útil. Imagina poder fazer as próprias roupas e
de quebra poder ganhar uns trocados a mais? Fui. Parcelei. Fiz, faltei, me
desesperei, não fui mais.
Passeando com minha mãe pelo centro de São Paulo, passamos
em frente ao Mosteiro de São Bento, onde me lembrei que yes, Sir! Comecei a cursar
latim. Hahahhahh
A cara de surpresa da minha mãe revelou meus contrastantes
interesses.
- Você fez latim? Eu nem sabia que você tinha começado
latim!
- Sim. Vim, me matriculei, paguei e... desisti.
Explicação: eu cursava História na Universidade e comecei
com um interesse especial por História Medieval e latim me seria absolutamente útil.
É claro que o tempo passou e finquei meu pé em História Moderna (que até hoje
me fascina muitíssimo). Resultado: desisti do latim. Ah! e desisti da faculdade
mais tarde também.
Minha mãe se empolgou com a brincadeira de lembrar cursos
que tentei fazer e veio com um que eu nem lembrava mais! Era relacionado com
literatura e produção de texto. Esse eu nem sequer cheguei a ir, porque a
inscrição dele foi beeeem longe do início do curso e obviamente meu interesse
mudou de foco nesse meio tempo.
- Ah! Ana... e também tem aquele de Inglês que você mais
faltou do que foi, descobriu que era prova final no dia da prova final e não
concluiu os outros dois módulos.
- Mas esse eu avisei que ia fazer um módulo só, né mãe!
Existe, claro, outras coisas por aí e nem sempre a não
conclusão de algo tem que ver somente com a simples troca de interesses. Muita
coisa e muita confusão rola junto.
Por um instante penso se devo publicar isso no blog. Sei que
já falei de desistências antes, mas escrevendo e relendo, me dá bastante
vergonha. E isso porque não falei do profissional hein! Rs Parece até piada.
Enfim... estou publicando esse texto aqui porque sei que
esse assunto dá vergonha. Sei que dá frustração. Sei que dá tristeza. Sei que dá
raiva. Sei que tentamos fazer diferente. E sei que esta é uma das mais marcantes características do tdah.
sexta-feira, 9 de agosto de 2013
Deixar pra depois... Mas depois quando???
Ontem adiei lavar o WC. Por quê? Porque aqui em casa a
vassoura de piaçava que tinha dobrou o cabo da boa esperança. Literalmente. Aí,
tenho que comprar, mas passa um dia, estou sem grana (começo a pensar que a
vassoura vai custar os olhos da cara e hoje vi que eram 6 reais), e a postergação
surgiu.
Hoje fui comprar a bendita e lavei o WC. Na empolgação,
por que não dar um jeito em outras partes da casa que também precisavam de uma
atençãozinha?
A feira surge:
As portas, dobradiças, em cima e em baixo. Não. Que adianta
limpar as portas se os cômodos são mais importantes. Cômodos, qual cômodo
primeiro? O quarto. Que parte primeiro? As prateleiras? O armário? (Onde colocar as
roupas que estão pegando umidade do lado esquerdo do guarda-roupa? Não, não. A
cozinha. Era bom lavar e limpar todos os azulejos, mas não vai dar tempo de
fazer isso hoje. E esse chão trincado? Precisava de conserto, meu Deus. E as
paredes do quarto precisam de pintura e o guarda-roupas está caindo de velho,
abarrotado de coisas da década de 70 do século 19. A caixa do papel higiênico
também precisa de conserto. O vidro da janela do banheiro precisa ser trocado, o
piso tem falhas em todos os cômodos, o microondas está na mesa desde que foi
comprado, esperando por alguém colocá-lo num suporte de parede. Falando em
ondas, fui eu secar o cabelo outro dia e qual não é a surpresa de que as tomadas
também estão apresentando problemas. As coitadas realmente precisavam ser
trocadas, a fiação enfim. A impressão que tenho é que a casa em que nasci ficou
abandonada no correr dos anos, vítima de uma postergação infinita e daqueles
remendos que se dá com a desculpa de que é só pra “quebrar um galho” até o
conserto definitivo. Meu pai, por exemplo, resolve praticamente qualquer
problema com cola quente. Tudo o que cai ou racha ou quebra, é cola quente! O “depois
eu vejo” torna-se nunca.
Por que será que o desinteresse chega a esse ponto? A cabeça
pousa (só pousa) nas coisas que temos de fazer, mas que parecem sempre secundárias
diante de novas coisas, novos projetos, novas idéias, novas, novos, novas, aff!
E a casa e a vida vão ficando assim: pra depois. As coisas
se acumulam e quando vejo... quantas coisas pra consertar, quantas coisas pra
arrumar. A eterna pergunta: por onde começar? Como disse um camarada no vídeo sobre
o 1º Fórum de portadores de TDAH, existe um “ninho de gralhas na cabeça”. Achei
a expressão mui exata!
Mas e aí? Cozinha? Quarto? Sala? Profissional? Social? Emocional?
Quais buracos tapar primeiro?
(Lembrando que os da vida não
aceitam cola quente.)
domingo, 7 de julho de 2013
Insegurança, TDAH, AK 47.
Essa noite foi noite de insônia. Esse fim de semana fiquei na cama,
rolando de manhã, achando que devia ser 11 horas e eram 9 apenas, o que é bom.
A noite sem sono serve pra pensar. É aí que vem aquelas eurekas óbvias que a cabeça vai se deixando expurgar de tanto a gente cutucar.
Primeiro, de tanto cutucar, tenho conseguido sair (um pouco) da minha super
casca de convicções passionais. Eu tenho conseguido olhar de dentro pra fora...do
outro. Sabe quando a gente cantarola a letra de uma música e pensa em pra quem
estaríamos esgoelando os versos? Pois é. Me peguei esses dias pensando na outra
pessoa cantando a mesma letra pra mim. E quer saber? Muita coisa seria cabível.
E foi tão bom perceber isso. Diante de tantas inseguranças, sempre se arma um
plano de conspiração dos outros contra nós, na nossa própria cabeça é claro.
Mas daí... quantas vezes soltamos o tiro pra quem nos ia dar uma flor? Ou quantas vezes nos vemos ameaçados por alguém com uma faca na mão e quando olhamos pras nossas próprias, oras vejam, portamos uma AK 47 carregada. Insegurança cega. E lembrei da ilustração no livro Mentes Inquietas:
'... um caçador que, ao detectar um pequeno ruído na floresta, põe em disparo uma ... rajada de tiros e descobre que a sua grande presa não passava de um inofensivo tatu que apenas abrira um pequeno buraco no solo com o intuito de se abrigar.
Quanta energia em vão! Exagerado! - diria a maioria das pessoas. Mas, na verdade, tudo não passou de um
ato impulsivo, ou seja, disparou, depois pensou. E, com certeza, lamentou! Tanta apreensão, tanta adrenalina, tanta taquicardia, tudo agora está no chão ao redor da pequena residência do tatu - que graças
a Deus e à sua agilidade, encontra-se vivo, feliz e aquecido em sua morada.
Essa pequena história-piada pode gerar risos. No entanto, se pensarmos na vida real, em que tatus são
pessoas e caçadores são DDAs impulsivos, pode-se imaginar quanto sofrimento, culpa, angústia e cansaço,
um impulso sem filtro pode ocasionar nos relacionamentos cotidianos de uma dessas pessoas. E é justamente isso que acontece com crianças e adultos DDAs."
A partir
daí, eu poderia começar a remoer culpa e remorso, mas... eu tenho conseguido algo
importante, caramba! Tenho que ficar pelo menos um tanto feliz com isso!
Percebi também que quando se fala que temos de ser felizes primeiro
sozinhos, pra depois fazer outra pessoa feliz, é verdade. Parece óbvio, tudo
bem, mas sempre achei isso meio ridículo, papo de solitário enrustido. Como
pensar em ser feliz sozinho, que despautério ensandecido! O ponto é que relacionamentos
humanos possuem muitas entrelinhas e, assim, a dependência de pessoas pode ser uma
bruta emboscada: depender de alguém pra dar respostas
quando você nem sabe quais são as perguntas é receita certa pro desastre. E
inconsciente de novo a insegurança passa a exigir do outro certas tantas coisas
que só a própria pessoa, sozinha, pode se dar. Não fazer isso pode
sobrecarregar injustamente o outro, ou permitir que esse outro faça
conosco o que bem entender (porque nós lhe demos esse direito).
Queria abrir um parêntese pra insegurança, porque ela
é uma das grandes responsáveis por esses rombos na vida, incluindo aqueles que causamos aos 'tatus'. No site Universo TDAH (http://www.universotdah.com.br/),
sob o tópico “Conseqüências” e "Relacionamentos de casais" existem pontos interessantes como:
“Se não é devidamente diagnosticado e tratado, fica muito difícil
conviver com ele (NÓS), minando cada vez mais sua auto-estima, sua confiança no
futuro e no mundo.”
“ Costuma sentir-se um ET, diferente dos
outros, com baixa auto-estima, sensação de incapacidade, insegurança...”
“Seu
humor geralmente é imprevisível, muito instável, com altos e baixos repentinos,
sem qualquer razão séria aparente.”
“ A desorganização
também passa a ser interna, na medida que a pessoa não sabe a qual dos
"tenho que" atender em primeiro lugar e a cabeça fica
"remoendo" num eterno conflito, ansiedade e preocupação crônicas.
Está sempre em estado de alerta, muitas vezes não se sente confiável,
preocupado com coisas que estão por fazer ou que não deram certo e com isso,
tira a atenção do que está fazendo no momento.”
“Costuma
haver uma tendência ao isolamento da pessoa com TDAH (DDA), onde ela possa ter
um tempo só seu, no seu canto sem falar com ninguém, no devaneio de sua mente
acelerada. Qualquer pessoa que tente "invadir" esse espaço, não é bem
vinda e a pessoa com TDAH (DDA) pode reagir de forma agressiva. O parceiro
sente-se rejeitado, achando que o problema é só com ele. Sem o conhecimento das
característas do transtorno, este afasta-se e a relação fica comprometida.”
É. Insegurança é algo a se trabalhar muito! Em base pessoal. Intransferível. Inalienável.
quarta-feira, 3 de julho de 2013
Cada coisa em seu devido lugar.
Numa mesa de 70 por 130 cm temos:
Três livros, uma calculadora, impressora, abajur, porta
canetas, aparador de livros, porta revistas, um caderninho de anotações, uma
saboneteira, guarda-chuva, um porta utilidades, um recorte de saia cheio de
alfinetes, uma máquina de costura, uma extensão de tomada meio quebrada, um
aparelho desses pra combater pernilongos, um bloquinho de notas, duas pastas
pra guardar papéis, papéis, muitos papéis fora das pastas e de qualquer outro “device”
produzido para fins organizacionais. Isso porque acabei de remover a bola de
pilates, pra poder achar umas peças de roupa.
Aff essa mesa ta me desafiando e esse mundo é muito louco
mesmo. Onde já se viu ter que se armar para atacar uma baguncinha? Já pensei em
atacar o que me pareceu, à primeira vista, o coração do problema: a mesa. Taco
a mesa no lixo, oras. Mas, claro, tudo que se encontra sobre ela estaria então
no chão e a visão do inferno seria pior do que esta, que agora diviso. Taco as coisas
todas no lixo então. Mas... coisas são multiplicáveis, uma espécie que se
auto-reproduz eficazmente, continuamente, inexplicavelmente e inumeravelmente. Neste
caso, me taco no lixo? Porque obviamente o coração de todo o problema parece
ser... eu.
Admito... admitoooo. Já me taquei no lixo, me tirei do lixo,
me taquei no lixo, me tirei do lixo e assim foi, e assim é. Resistirei
bravamente à tentação de dar cabo de tudo numa enorme fogueira, quase um ritual
de desapego, um grito à liberdade, um não ao materialismo. Resistirei à tentação
de lutar por essa causa libertária, de angariar seguidores, de propagar esse
movimento.
Como gente de bem, vou me conscientizar dos anos que me
pesam às costas e começar a guardar, como minha mãe já diria: cada coisa em seu
devido lugar.
Agora... me incluindo nessa... meu lugar, qual é?
Às vezes sinto tanta inveja dos bonecos de Lego dentro
daquela caixa azul...
sábado, 29 de junho de 2013
Sem título.
A dor quebra inibições.
É como se fosse a certeza de um
fim...
o que importam as convenções?
terça-feira, 25 de junho de 2013
Ver ou não ver... eis a questão!
O mundo é tão cheio de cores né? Tão vivo, excitante. Cada
dia uma nova oportunidade: de crescer, de aprender, de sorrir e amar.
E as manhãs são sempre assim. Aquele soninho. Banheiro, lavar o
rosto com sabonete cheiroso, escovar os dentes brancos e alinhados, vestir a
roupa favorita (ok, às vezes tem que ser aquela que ta lá mesmo) e sair pro
trabalho.
Trabalhar é muito bom. O trabalho enobrece o homem, como já
diria Weber (foi ele mesmo? Bah! Enfim.). Passar por rostos dispostos dos
amigos, dando “bom dia!”. Alguns problemas sempre acontecem no trabalho, rola
aquela pressãozinha. Mas isso é normal
certo? Um pouco mais de empenho e o famoso “no final dá tudo certo” é a
conseqüência.
Amigos... ainnnnn amigos adoradíssimos! Amigos legais, amigos
animados, amigos engraçados, amigos estilosos, amigos que elogiam, que nos põem
super pra cima, que são companheiros a qualquer hora, que dão o abraço do “vamos celebrar a vida!”. Sair pela noite, pra lugares super legais... nunca dá vontade de voltar pra casa. É bom pensar no
sempre mais... tanta energia pra gastar, tanta vida!
Falando em energia, parte dela quando dedicada a estudos e
hobbies... muito produtivo, hein!. Sempre bom renovar. Sabe... começar coisas novas
e ao final, quando chegar a conclusão, poder dizer: mais um pro meu currículo,
com certificado e tudo! Cursos artísticos também ajudam na área intelectual, a ter assuntos variados pra conversar, impressionar um pouco
quem sabe, e por que não?
Porém, nadica dessas coisas faz muito sentido sem amor não
é? Aquele amor aconchegante, companheiro, seguro. Aquele amor carinhoso, que
consola nos maus momentos, que ri nos bons momentos, que acompanha o ser amado pra onde quer que for, como um fiel escudeiro. Aquele que o admira, e o faz sentir único. Que diz as coisas que se quer ouvir com um tom doce, manso,
sereno como um riacho sem curvas.
O ponto é que são muitas coisas pra dar conta, entende? Amigos, família, relacionamentos, baladas, cervejadas, responsabilidades no trabalho e estudos e dinheiro, argh! As coisas parecem pequenas, mas se acumulam, dá aquela atrapalhadinha. BENDITA hora que Steve Jobs colocou no mundo o Ipad, pod, fone. Tudo de bom isso! Organiza que é uma beleza!
Mas... tem um mundo... sabe? Parece um universo paralelo. De pessoas meio estranhas, meio
loucas, meio bagunçadas, com coisas inacabadas, mal humoradas,
ou risonhas demais, imprevisíveis, que choram por nada, que chocam, que são
desengonçadas, que são agressivas, que deprimem diante de problema algum, que se perdem toda hora, ai que cansaço dá só de imaginar isso... Esse mundo deve ser deixado pra trás.
Habitá-lo, com essas pessoas é atraso de vida e na verdade, o mundo
real não é aquele mesmo! E se for? Oras então pior cego é aquele que quer ver! Melhor andar de óculos escuros mesmo (Ray Ban é claro).
Você, que deu uma olhadela nesse mundo louco, e saiu
depressa, sem olhar para aquela mão estendida com medo de se contaminar... Digo:
fez bem.
Espero que nunca precise de ajuda como aquelas pessoas
precisam. Porque nesse dia descobrirá que pôneis e oompa loompas a serviço de
Willy Wonka não existem de verdade...
(E isso seria muito triste, não é mesmo?)
(E isso seria muito triste, não é mesmo?)
Pergunta e resposta.
O que se passa com seus dedos?
O que se passa com seus medos?
Aqui tão longe, tento não pensar!
Só tento...
Queria ser como o vento!
Tocar em seu rosto de repente, suavemente,
E saber se está chorando ou se está sorrindo,
Se está cantando ou se está dormindo,
Se me quer perto ou livrar-se de mim.
Meus dedos ora se arranham ora se curam
Os medos, como ondas do mar - perduram.
Aqui longe, pra onde ir?
Tento não pensar...
Às vezes queria ser porto e não veleiro.
E ver sempre horizonte, ter sempre esperança...
Estável e ainda assim livre, puro, verdadeiro...
Como veleiro, parece sempre um partir, sem fim.
Mas não é de ti que fujo. É de mim.
sábado, 8 de junho de 2013
A luta pela sobrevivência.
Hoje passei o dia entre o “vamo lá” e “ah! chega, chega,
chega, não agüento mais”. Minha cabeça entrou em atividade mais frenética que
de costume e não sei, somando a depressão vem a completa paralisia. Meu corpo
vira uma bomba implosiva. Os problemas se acumulam todos, as pressões e claro,
a incapacidade de pensar claramente nas soluções me deixam o bagaço da laranja.
A dor aparece e escapa por entre os olhos molhados.
Escutei minha mãe falando de um filme que estava vendo sobre
uma mulher com depressão. Fixei a idéia e tentei por todos os meios ver o filme
na net Claro, tive de ouvir Ashley Judd falando com a mesma voz de todas as
mulheres que aparecem nos filmes da sessão da tarde. Enfim.
Filme cru como nunca vi. Me encontrei em tantas cenas que me senti como quando descobri o tdah lendo os blogs que hoje sigo. Tragicômico. Os sentimentos eram reais e alguém os filmou! Não era só coisa da minha cabeça. Se alguém se atreve a dizer que
depressão é falta do que fazer, deveria engolir a seco o DVD. Pensei nisso e no
tdah também, porque só quem passa por um transtorno desses entende. Prejuízos.
Prejuízos reais. Dores reais. Solidões, confusões, desilusões reais. Lutas, e
força e perseverança e garra e fé reais.
A luta pela vida é algo que admiro imensamente. E de fato,
lendo relatos de tantos como eu, que deixam seus importantíssimos comentários
aqui, lendo blogs de companheiros e amigos, eu vejo: todos nós estamos lutando
de um jeito ou de outro pra sobreviver.
E as diferentes fases em que nos encontramos mostram que
nunca desistimos, quer estejamos melhores, quer em processo de melhora.
Um exemplo do que estou dizendo se encontra num fantástico
comentário que me fez pensar muito, da Victoria, no post Saudade. Eis:
“Hoje
com 31 anos e diagnosticada ha alguns meses, vejo tudo o que fiz que poderia
ter feito diferente e, não teria perdido amores e amigos.
A Ritalina me mostrou o que sou e posso ser, do que fui - que não era eu, definitivamente.
É triste, desesperador, depressivo, ansioso, vergonhoso. E não me refiro a casos graves, não. É o falar demais, impulsivamente, criticar os outros ao extremo e.. para outros. Falar demais. Sentir raiva, inveja, ira. Como eu era dificil, como minha vida foi complicada e ninguém tinha ideia de que existia um tal de TDAH.”
A Ritalina me mostrou o que sou e posso ser, do que fui - que não era eu, definitivamente.
É triste, desesperador, depressivo, ansioso, vergonhoso. E não me refiro a casos graves, não. É o falar demais, impulsivamente, criticar os outros ao extremo e.. para outros. Falar demais. Sentir raiva, inveja, ira. Como eu era dificil, como minha vida foi complicada e ninguém tinha ideia de que existia um tal de TDAH.”
Pois é. Pra
mim, processar informações quando descobri o que tinha foi igualmente doloroso.
Mas eu, ela, todos nós estamos aqui né? Compartilhando experiências e nos
ajudando a superar! A dor vem, mas que conforto saber que não se está só...
Uma amiga, que
luta contra a depressão bipolar, me ligou hoje, pra me animar, encorajar,
escutar meus desabafos.
Minha estima já
não estava em processo de cremação. Ao fim da conversa, ela disse essas
palavras, aí vai:
-Ana, fica bem,
não desce das tamancas. Sei que é difícil, mas... minha amiga, tem algo que
precisamos a todo custo fazer, custe o que custar. Teremos que dar um jeito.
-É mesmo? O
que???!!!
...
-Comprar um
balão de gás hélio!
Hahahhahahhahahahahahhahaha
Então é isso.
Combinamos uma sessão via skype.
Rir é um santo remédio e o preço do gás compensa.
É que são tantas opções...!
Levantei hoje por força da barriga. Fome é um grande incentivador.
Lá vou eu com o pão, manteiga e café com leite. De manhã, a vantagem é essa: preocupação: onde está o pão, a manteiga e só. Porque o leite ainda sei que só poderia estar na geladeira.
Existem milhões de coisas que se pode fazer num sábado (além das que tenho ou teria de fazer) e escolher por onde começar e que ações tomar é algo que só penso depois de comer. Minha atenção é só do pão e do café.
Ok mentira. rs Ahhhh mentiraaaa. Mas eu tento pelo menos.
Abri a net: Gmail, Folha de São Paulo Colunas (porque me mandaram link por e-mail), pesquisa pelo filme As faces de Helen (que minha mãe disse ser muito bom), blog, e um poema (que achei lendo a coluna da Folha. rs).
E aí... que grata surpresa coincidente! Eis aí o poeminha de hoje. Poeminha de Sábado, Domingo, Segunda...
Poeminha pra quem está tentando fazer algo, ou vários algos, e talvez... lendo isso ao mesmo tempo.
;)
Lá vou eu com o pão, manteiga e café com leite. De manhã, a vantagem é essa: preocupação: onde está o pão, a manteiga e só. Porque o leite ainda sei que só poderia estar na geladeira.
Existem milhões de coisas que se pode fazer num sábado (além das que tenho ou teria de fazer) e escolher por onde começar e que ações tomar é algo que só penso depois de comer. Minha atenção é só do pão e do café.
Ok mentira. rs Ahhhh mentiraaaa. Mas eu tento pelo menos.
Abri a net: Gmail, Folha de São Paulo Colunas (porque me mandaram link por e-mail), pesquisa pelo filme As faces de Helen (que minha mãe disse ser muito bom), blog, e um poema (que achei lendo a coluna da Folha. rs).
E aí... que grata surpresa coincidente! Eis aí o poeminha de hoje. Poeminha de Sábado, Domingo, Segunda...
Poeminha pra quem está tentando fazer algo, ou vários algos, e talvez... lendo isso ao mesmo tempo.
;)
Ou isto ou aquilo - Cecília Meireles
OU se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
Quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é o melhor: se é isto ou aquilo.
OU se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
Quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é o melhor: se é isto ou aquilo.
Terapia comportamental.
7/6
Eis Junho.Chegou.
Mais uma vez reclamações parecidas ao psiquiatra. Dessa vez
receita de terapia comportamental.
Por que preciso de alguém que monitore meu comportamento? Por
que preciso de alguém que me ajude a organizar minhas próprias idéias? Alguém
que me cobre, que me policie, que avalie meu progresso e me faça sair do
atoleiro?
Por que preciso de alguém que me dê segurança na hora de
agir, na hora de fazer escolhas? Por que preciso de alguém que me dê animo pra
continuar, que me ajude a pensar positivo, que me ajude a esquecer menos, que
me ajude a atrasar menos, que me ajude a desistir menos? Que me ajude a ter maior
resistência diante de grandes frustrações, que me ajude a procurar soluções
para os problemas que aparecem, ao invés de simplesmente entrar em desespero e
cansaço. Alguém que me ajude a honrar meus compromissos, que ajude a ter mais serenidade, mais tranqüilidade, mais razoabilidade?
Por que, por que preciso de alguém que me ajude a arrumar
meu próprio quarto, meu próprio guarda-roupa, meus instrumentos de trabalho,
meus sapatos, minha vida? Alguém que me ajude a ter e manter um trabalho, alguém
que me chame à realidade, que me impeça de paralisar, que me traga de volta de um mundo que só existe na
minha cabeça...?
Não sou contra terapia. Nunca fui. Pelo contrário. Fiz anos.
E sempre soube que hora ou outra teria de voltar. Me viro bem sozinha, mas isso
tem prazo de validade. Realmente os profissionais da área têm razão:
medicamentos casados com terapia. É uma união necessária, mas... cara. Muito
cara. Psiquiatra é caro, remédio é caro, terapia é caro.
Não posso deixar de me perguntar aqui, só como um simples
desabafo para mim mesma: por que preciso de alguém que me ajude a fazer o que
todo mundo faz e sem ter que gastar o salário todo pra isso?
Resposta?
Bola pra frente.
domingo, 19 de maio de 2013
Atravessando o pântano.
Andei lendo algumas matérias sobre distorções cognitivas e
reestruturação de pensamento através da terapia cognitivo-comportamental. Tenho uma amiga que tem uma visão muito positiva das coisas. Muita gente gosta de
estar ao lado dela (ou de alguém assim). Minha auto-estima é certamente algo
que não fica debaixo dos sapatos quando conversamos. E pensando nisso fui atrás
de comida pro meu cérebro.
As matérias eram interessantes, escritas por um mesmo autor,
um terapeuta da linha que já mencionei.
Realmente pensar positivo, ser mais ativo e desenvolver uma
melhor estima requer um desejo sincero e um esforço concentrado, ainda mais para quem já desenvolveu
(como eu) um padrão ou hábito de pensar negativamente. É como aquele caminho
que se faz na grama. De tanto passar, vira uma trilha de terra. E daí: caminho
aberto, caminho fácil, caminho lógico, natural, sempre percorrido.
Já faz um tempo considerável que percebi que minhas trilhas
normalmente iam direto para desgraças: um erro= fracasso completo, uma palavra
impulsiva=idiotice completa, um não=rejeição completa e assim vai.
É claro que o TDAH dá uma ajuda aí, pisando com patas de
elefante no meu lindo gramadinho. Andei, andei, andei com a nítida sensação de
estar indo pra lugar nenhum e quando percebi, esse caminho já era uma estrada
pavimentada, estruturada e em excelente estado de conservação.
As matérias sugeriam abrir novos caminhos, mesmo que seja
utilizando facões pra tirar o mato alto da frente. Desde que comecei o tratamento
tenho descoberto o quão amplo é o campo de possibilidades pra se abrir uma nova
trilha. Mas manter um diálogo interno mais saudável, ou seja, mais voltado para
a realidade e menos para generalizações de desastres homéricos, e com ele estabelecer
prioridades e evitar postergações é o que de mais difícil encontro. Tento focar
no que o terapeuta disse: fazer o que tenho de fazer mesmo sem ter vontade ou
querer. Mas ainda me atinge aquele raio: “o que” exatamente fazer primeiro, sem vontade
ou querer? O que é mais urgente? Tudo parece urgente! rs Conseguir estabelecer prioridades, confiar no meu
critério e me apegar a elas, uma por vez, ainda é a pior das minhas dificuldades.
Mas enfim...
“Pensando positivo”, pelo menos já posso calçar meus
Timberlands e amolar o facão.
- Civilização, estou oficialmente a deixar a
estrada
pavimentada e a me embrenhar mato à dentro. Atravessarei com esforço os terrenos pantanosos. E sigam-me os bons!
quinta-feira, 11 de abril de 2013
O que os olhos não vêem, a cabeça sente.
Escrever sobre limitações não é tão emocionante quanto
escrever sobre superações e conquistas impossíveis. Limitações parecem
frustrantes, ainda mais quando desconhecemos nossas próprias. Pensamos sempre
que esforço vence tudo e é tudo uma questão de tentar com vontade e fé. (E é o que
todo mundo diz, não é?)
Hoje escrevo deliciosamente acomodada na cadeira da limitação
e antes que alguém pense numa figura derrotada arrastando os braços pelo chão,
digo: Não! Estou sentada no pódio de uma de minhas maiores conquistas – a de
entender a diferença entre falta de perseverança e falta de modéstia.
Sabe quando aquela parte de nossa personalidade, ligada aos
nossos desejos mais íntimos, nos move em determinada direção, para um objetivo
qualquer? Pra quem é mais intenso, talvez até extremista (como eu), esse
percurso envolve o desejo de ser inabalavelmente constante, inabalavelmente ágil,
inabalavelmente eficaz, envolve perseverança inabalável. Quando vejo outros que
parecem trilhar caminhos similares seguirem direto rumo à linha de chegada me
empolgo muito mais e de repente sinto: uma constância abalada, agilidade abalada,
eficácia e perseverança abaladas. A dor do cansaço e da impossibilidade de
continuar. O rumo perde o sentido, o objetivo perde o foco, o coração perde o
desejo.
O tempo passa e aquilo que julgávamos morto dentro de nós
reascende e nos relembra de onde paramos e a perseverança nos diz que ainda há
tempo de prosseguir naquele velho caminho. Mas qual não é a surpresa de
perceber o mesmo resultado, de novo e de novo. Por que não consigo seguir com
algo que desejo tanto?
Oras resposta camuflada, revele-se mesmo que doa: limitações.
Todos temos. Eu tenho. O resultado se repetirá, no mesmo ponto, ora porque
acredito que consigo, ora porque dizem que consigo, ora porque me culpo por não
conseguir. Como me impedir de ser irrealista com o que exijo de mim? Como me
proteger contra o que alguns lunaticamente esperam de mim?
Tão importante quanto cultivar perseverança é conhecer as próprias
limitações. O problema não está no caminho, nos obstáculos, no desejo em si. Está
na forma como o perseguimos. E a única maneira de vencer nossas limitações é
saber que elas existem e quais são.
Eu jamais incentivaria uma pessoa sem pernas a escalar o
Everest como meio de auto-superação, dizendo que lhe faria bem à auto-estima. Mas
eis! Me olho no espelho... onde estão minhas limitações? Não vejo. Não vêem. Nem
tomografia ou raio X. Logo, apanho meus equipamentos de escalada e começo uma
subida que logo será impedida por elas, que não eram visíveis. Quando a
perseverança resulta em quedas constantes, é sinal de que muito provavelmente
existe ali uma limitação. Sermos modestos e admitirmos que por aquele caminho não
temos condições de seguir como gostaríamos é sinal de sabedoria, não de
fraqueza.
Mas desistir? Rs Hum... impossível. Muitos desejos não
morrem, adormecem. E quando nos tratamos com respeito e carinho, eles acordam. Persegui-los
novamente? Por que não? Hoje persigo velhos desejos, mas ao invés de escalar,
estou dando a volta.
Se eu demorar mais que outros, significará apenas que
perseverei por mais tempo. E feliz...
segunda-feira, 8 de abril de 2013
Ando devagar porque já tive pressa...
" Tenho a impressão de estar assistindo minha vida passando diante dos meus olhos enquanto penso, penso e penso no que devo fazer, em como farei e assim vai.
Estou tomando a 8 dias Bupropiona 125mg, alguém já tomou? Dá realmente algum resultado? Pq já estou pensando em desistir."
Receber comentários assim me ajudam a entender muitas coisas.
Fico impressionada com as similaridades. Fico impressionada
que essas similaridades tem nome, RG e CPF. Não é mais aquele “bolo confuso de
pessoas desajustadas e azaradas”. Não, não. E melhor: tem saída! Rs
Hora de falar de remédio (dentro, claro, das minhas humildes
perspectivas).
Meu médico descreveu a cabeça humana como um saco de gatos. Nunca
se sabe exatamente e precisamente o que vai sair dali e nem sequer se serão
gatos.
O ponto é que estamos tãoo desesperançados que quando
encontramos uma luz no fim do túnel, não admitimos curvas no meio do caminho, nada
que nos impeça de manter contato visual direto com o que imaginamos ser a saída
de nossas agruras.
Eis aí a verdade com que todos nós nos deparamos a partir
do início da esperança, início do tratamento: o caminho tem mais curvas que a
estrada de santos e as luzes ofuscantes que surgem de noite são faróis altos
que cegam a vista e causam acidentes.
Sendo este o caso, nada mais natural do que a frustração e o
velho desejo de desistir. (Quem nunca desistiu de um tratamento que atire a
primeira pedra. Rs)
Difícil pensar na hora, mas a realidade é que de curva em
curva o carro percorre os quilômetros necessários pra atingir seu destino. Mesmo
que demore a chegar, tudo é melhor do que ficar parado no meio do nada, no
escuro.
Tratamento é assim. Às vezes dá muito certo logo no começo. Às
vezes dá certo no começo e errado no meio. Às vezes dá muito errado no começo,
no meio e melhora no fim (que nunca é um fim de fato!). Portanto, caro
portador, não desista! Muitos medicamentos apresentam efeitos colaterais muito
desagradáveis, mas que passam. Se não passar, não passe para o desânimo total,
converse com o médico, passe para outro medicamento. Não faz mais efeito, faz
efeito demais? Converse com o médico, altere doses. Muitos dizem que o prazo
para o remédio começar a fazer efeito é de 15 dias. Digo de novo: cada
organismo uma reação. Eu demoro cerca de 1 mês, um mês e meio para me adaptar
ao remédio e obter os benefícios que ele promete. E qualquer aperto ligo pro
meu médico e já começo assim: sou eu de novo, não desista de mim! rs
A palavra que mais saía da minha boca era cansaço. Mas cansada
mesmo eu estava era da inércia, de não poder descer do vagão, de não ter
controle algum sobre minha vida. Posso garantir que o cansaço na busca de melhora compensa! A
gente sai do buraco cuspindo terra, mas sai!
Pensar demais, creio que sempre pensaremos. Mas não precisa
ser em círculos. Escolha um bom médico e siga em frente!
;)
quinta-feira, 4 de abril de 2013
8, também 80...
Observando as pessoas percebo o quão difícil é conduzir o
pensamento por novos caminhos, redirecionar aquele impulso elétrico para outros
neurônios, fazer novas sinapses, ver novas possibilidades, ou ver as mesmas de
forma diferente.
Acho que sempre fui uma pessoa um tanto quanto obstinada e talvez
isso faça parte do ser 8/80, como se só existissem esses dois números. E como a
vida fica limitada só com eles.
Desde que ouvi falar em TDAH pela primeira vez, minhas
reflexões a respeito de comportamentos humanos mudaram consideravelmente. Junto
com informações a respeito de meus próprios problemas, veio um mundo de coisas
que eu não entendia exatamente como funcionavam e o que ocasionavam. Li muito
sobre transtorno bipolar (que a principio parecia meu caso), depressão (que é
meu caso), ansiedade, transtorno opositivo, borderline, psicopatia, neurotransmissores,
impulsos nervosos, sinapses, terapia cognitivo-comportamental, Freud, glutamato,
dopaminas, serotoninas, noroadrenalinas e por aí vai... (Ainda hoje se fazem
pesquisas sobre o estômago. Imagino as descobertas acerca de nosso universo
mental que ainda estão por vir). Nesse bolo todo li Jung e sua fantástica teoria
da personalidade, que me revelou uma INFP de carteirinha, sendo algumas das
características: visão ampla e abstrata das coisas, forte apego a valores internos,
disposição de entrar numa batalha pelo que acredita, intensidade na hora de expressar
opiniões, enfim, um pouco de 8/80. rs
Com tanta informação nova, aquilo que antes me parecia impossível,
inexplicável, incompreensível, passou a ser razoavelmente possível: explicar, compreender... viver.
Mas aí... a faca de dois gumes! Eu queria que as pessoas a minha
volta também pudessem descobrir caminhos alternativos para suas dores e obstáculos
intransponíveis. Vejo e escuto tantas pessoas desabarem em tristezas, arrependimentos,
ressentimentos e infelicidades, desabafos às vezes muito parecidos com os meus.
Hoje, compreendo que: problemas parecidos, caminhos diferentes. Quantas vezes não
me disseram pra pensar assim ou assado, pra ver assim ou assado. Ok, pode ser que
pensar assim ao invés de assado seja mesmo o melhor. O ponto é que às vezes, isso
é simplesmente impossível no momento. (Não me refiro aqui a “dicas”, incentivos,
apoios, que a gente dá e recebe pra amenizar algo. Refiro-me ao caminho interno
que todos percorremos em direção à superação de algo. E mesmo a decisão de buscar
ajuda pra isso, é um caminho que só a pessoa pode trilhar. Cada um tem uma história,
uma genética, um raciocínio, uma circunstância, um coração, um tempo... únicos.). O que se pode fazer,
e acredito realmente no poder disso, é demonstrar empatia. E empatia não é simplesmente fazer ao outro o que NÓS gostaríamos que NOS fizessem, mas fazer AO OUTRO o que ELE gostaria que lhe fizessem.
Entender isso traz uma certa paz e permite que consigamos assumir nossas responsabilidades para conosco e para com as nossas escolhas. As minhas mudaram um pouco. Agradeço muito a existência do hiper-foco, esse pilar de sustentação que me permite quebrar a vida em momentos e analisar esses pedaços, não mais como meio de autocomiseração, mas como um degrau a subir, a superar.
Não cultivo mais a sensação do: “Ah! agora vai dar tudo certo...
tem que dar!”.
Procuro cultivar a segurança do: não, não vai dar ‘tudo’ certo. Às vezes
vai dar 8... às vezes 80... mas por que não às vezes 10, 15, 27, 32, 41, 54, 65, 73...
sexta-feira, 22 de março de 2013
Dói e dói sim!
Sabe aquela pessoa super atrapalhadinha e gracinha e feliz?
Pois não é meu caso. TDAH dói.
- Você sente angústia então...?
- Sim dr. É que a gente vai vendo os anos passarem, e... (pausa pra embargar) e nada. Pra mim, a vida parece uma bola de tempo com coisas flutuantes a fazer e um filtro queimado e fumacento que não as coloca em linha de produção. Não marco mais compromissos com as pessoas, não marco mais compromissos comigo. Não faço planos a longo prazo, a médio prazo e o de curto prazo pra mim é hoje. O que me parece perfeitamente lógico hoje não é mais amanhã.
- É, é triste. Complicado.
- É triste sim. Chega a parecer ridículo, cansativo. Estou cansada de estar cansada, sabe?
- Mas você sente dificuldade só com as coisas que são chatas e que você não quer fazer?
- Isso é relativo, veja bem. O que é chato hoje, amanhã é meu hobbie. E aquilo que é um porre hoje, amanhã pode parecer um tanto quanto interessante. Tirando burocracia, fila de banco e história sem fim... meus interesses têm uma capacidade mutativa muito considerável.
- Hummmm... precisamos ativar seu setor de recompensas... pra você não se desestimular tanto assim com as coisas e deixar tudo por fazer.
Ok. Alright. Tudo bem. Vai ficar tudo bem. Tudo vai dar certo... hahahhahah
Hoje de novo. Olho pros lados e os lados sambam loucamente rindo de mim. Pra que lado vou? Eles realmente não estão dispostos a me dizer...
Aindaaaa!
Pois não é meu caso. TDAH dói.
- Você sente angústia então...?
- Sim dr. É que a gente vai vendo os anos passarem, e... (pausa pra embargar) e nada. Pra mim, a vida parece uma bola de tempo com coisas flutuantes a fazer e um filtro queimado e fumacento que não as coloca em linha de produção. Não marco mais compromissos com as pessoas, não marco mais compromissos comigo. Não faço planos a longo prazo, a médio prazo e o de curto prazo pra mim é hoje. O que me parece perfeitamente lógico hoje não é mais amanhã.
- É, é triste. Complicado.
- É triste sim. Chega a parecer ridículo, cansativo. Estou cansada de estar cansada, sabe?
- Mas você sente dificuldade só com as coisas que são chatas e que você não quer fazer?
- Isso é relativo, veja bem. O que é chato hoje, amanhã é meu hobbie. E aquilo que é um porre hoje, amanhã pode parecer um tanto quanto interessante. Tirando burocracia, fila de banco e história sem fim... meus interesses têm uma capacidade mutativa muito considerável.
- Hummmm... precisamos ativar seu setor de recompensas... pra você não se desestimular tanto assim com as coisas e deixar tudo por fazer.
Ok. Alright. Tudo bem. Vai ficar tudo bem. Tudo vai dar certo... hahahhahah
Hoje de novo. Olho pros lados e os lados sambam loucamente rindo de mim. Pra que lado vou? Eles realmente não estão dispostos a me dizer...
Aindaaaa!
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
E não é que é???
Cozinhando meu frango com quiabo e lendo e-mails (lógico), me deparo com um link que uma amiga mandou dizendo assim:
"esse texto é a sua cara!!!!!"
Acho que o texto é a cara de muita gente, então... segue rs:
"esse texto é a sua cara!!!!!"
Acho que o texto é a cara de muita gente, então... segue rs:
O fim
DE SÃO PAULO
Você aperta bem no meio do tubo, e nada: eis o primeiro sinal do fim, mas quem atenta para os primeiros sinais? Além do que, a bisnaga está quase cheia, só ali pelo meio é que abaulou: basta pressioná-la em cima, perto do bico, ou embaixo, próximo à base, e a pasta sairá, roliça e lustrosa, nas cerdas de sua escova. A ideia de passar numa farmácia pisca em seu córtex como um distante vaga-lume, para logo desaparecer no cipoal de neurônios.
Cinco ou seis dias depois, contudo, você aperta o tubo na parte de cima, outrora bojuda, e nada acontece: abaulou-se, também, mas para que se abalar com isso? Um pequeno remanejamento dá conta do recado: com os polegares e indicadores, vai espremendo da base pro bico. A visão da bisnaga de peito estufado traz algum alívio no curto prazo, mas a informação "preciso comprar pasta de dente" agora está colada, como um Post-it, na tela de sua consciência.
E daí? Há assuntos mais importantes, sempre há: a infiltração no teto do banheiro, o aumento que pretende pedir --a demissão, se tivesse coragem--, uma DR definitiva da qual foge como o diabo da cruz. É lá do fim dessa fila que acena, pequenina, a possível escassez dentifrícia.
A Terra, porém, completa mais algumas voltas em torno de seu eixo: folhas caem das árvores, flores brotam nos jardins, pormenores atingem a maioridade --eis o que você percebe, diante do tubo vazio, hirto como uma fronha secando no varal.
O problema não é mais "preciso comprar pasta" e sim "por que cazzo não comprei antes?!", mas a indagação traz outras questões de fundo que talvez seja melhor ignorar. Importante agora é escovar os dentes: você apoia o tubo na bancada do banheiro e, com a haste de um pente, o aplaina da base ao bico.
Ao cuspir a espuma na pia, jura que de hoje não passa, mas a convicção se esvai na mesma velocidade que o sabor de hortelã: não há vaga em frente à farmácia, a lojinha do posto está fechada, depois já passam das dez, a reunião é às 11, o torvelinho do cotidiano te suga e só te devolve ao incômodo na hora de ir para a cama.
O pente é inútil: a bisnaga parece uma fronha passada a ferro. Um rolo compressor seria inútil: não há ranhura ou desvão que não tenha sido achatado. Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai até Maomé, você resmunga, então mete as cerdas no bico do tubo, meticulosamente. Elas não saem sequer melecadas, apenas opacas, como se tivessem sido mergulhadas no leite.
Você dorme mal. Acorda desgostoso, antes do despertador. Sabe o que te espera. Não se orgulha do que está prestes a fazer, mas o fará, assim mesmo: abre a gaveta, pega a tesourinha de unha, respira fundo e corta o tubo, de cima abaixo. Enquanto chafurda a escova pelo interior da carcaça, pensa no aumento que não pediu, na demissão que não pedirá, no namoro que se esgarça diante de seus olhos; percebe como a infiltração no teto e a bisnaga estripada são metáforas chinfrins do estado das coisas. O que mais dói, contudo, é saber que ainda não chegou ao fundo do poço: adiante, te esperam a escovação sem pasta, reavivando os resíduos de espuma seca nas cerdas e, para coroar o desmantelo, a escovação com sabonete: aí sim, aí sim é o fim.
Antonio Prata é escritor. Publicou livros de contos e crônicas, entre eles "Meio Intelectual, Meio de Esquerda" (editora 34). Escreve às quartas na versão impressa de "Cotidiano".
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/1237482-o-fim.shtml
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
Realidade, impressão, sonho...
Que a vida minha, seja como os quadros de Monet.
Seja a mesma. Sempre.
Mas o sol...
Que a cada hora me mude as cores, me confunda as formas,
a realidade que vejo, que vêem em mim.
Indefinida por contorno definido
Aliás,
Não importa o contorno - Que me importa o contorno?!
Que essa verdade me tome e misture, me dispa.
Que o borrão seja parte integrante de mim
Que minhas paisagens o incorporem e que
O interpretem como garça, pipa, ou folha solta...
Que o vento misture as cores, que as espalhe.
Espalhe...
E os sons, retumbem sobre a tela -
Quando tremer a figura,
Que formas assumirá então?
E você... por que não? Que faria com as cores todas?
Que faria?
Você substância... é imagem gravada ou tinta fresca?
A vida, Ah! não... Não a quero fotografia.
A quero quadro impressionista.
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